A ordem da desordem, por Yakuy Tupinambá*

Sempre ouvi que nós (humanos) somos seres em evolução e que no século XXI seria o ápice. Subentendíamos que não haveria mais ignorância (falta de conhecimento), que a subserviência (escravidão) não existiria mais, assim como a fome e a miséria, dominados e dominadores. Ledo engano. A impressão que se tem é que a evolução humana se dá em ordem decrescente, demonstrando a existência de trocadilho, o que evolui na verdade é a destruição de tudo e de todos, a ganancia se superando dentre as nomenclaturas do desenvolvimentismo, dos neologismos e da ordem e do progresso. Roupagens no mínimo agressivas à plenitude da vida.

O sectarismo das religiões, do futebol, dos partidos políticos, dos coletivos de classes, dos grupos étnicos, dos meios de comunicação de massa, dos regimes políticos, das nacionalidades e da condição econômica social tem contribuído para o caos da humanidade. A cegueira, surdez e a mudez está estabelecida impedindo o crescimento evolutivo crescente para o bem estar de todos. As opiniões divergem e deveriam ser discutidas para que se alcance o consenso e possa ser colocado em pratica para atender o bem comum. Mas o que vemos cada vez mais é a imposição das ideias ou ideologias da verticalidade, onde um manda e os outros obedecem como animais rastejantes que não conseguem nem levantar a cabeça.

Ninguém enxerga mais o obvio, a busca incessante por nada tem levado a lugar algum ou melhor leva sim ao fim da existência da espécie humana na Terra, e leva consigo outras espécies que nem sequer tem o direito de defender sua própria vida, afinal não se respeita a diversidade que mantem o equilíbrio da NATUREZA e, concomitantemente o da VIDA.

São articulações estratégicas e mirabolantes criadas por mentes enfermas que conduzem ou ditam ordens e a multidão segue ou reproduz, os que questionam são ignorados ou estereotipado como loucos levados ao descrédito das distorções e desqualificações. Está terminantemente proibido reivindicar direitos iguais para todos (justiça social). Ser contra regimes ditadores é sinônimo de: baderna, vandalismo, comunismo, contraventor da ordem, vagabundos, e tantos outros…, que são repetidos porque as práticas estratégicas criadas pelos que dominam lavam o cérebro para implantarem seus ditames.

Argumentos não lhes faltam para manter a desordem da ordem nefasta e caótica do sistema corruptor, dominador e destruidor da Mãe Natureza, e quando não nos sentimos parte disso somos motivos de críticas absurdas e ignorantes. Aprendi que primeiro precisamos ouvir o outro, se fundamentar para emitir algum juízo, quem não sente na pele a dor da perda generalizada nada sabe sobre o que falamos ou atuamos nesse contexto de guerra aqui implantada no século XVI.

A Nação Brasileira precisa acordar e sair da letargia, parar de ser teleguiada pelos mecanismos de dominação, e acredito que desse mal outras Nações em várias partes do mundo foram acometidas pela mesma enfermidade, trazem em seus pês e mãos simbolicamente as correntes da escravidão.

Questiono-me sempre procurando saber porque escolhem como seus líderes de governo executivo e legislativo pessoas contaminadas pela sede de Poder, todo sentimento em escala hierárquica (vertical) é esmagadora de massas.

Enfim, A DESORDEM DA ORDEM se faz necessária, para que possa surgir um conceito de vida igualitária pautada no repeito e o amor, preservando todas as formas de vidas – diversidade – existentes na Natureza e, com oportunidades para todos e todas!


De “Proposta de vida
 

O homem na busca de saberes sem precedentes, acabou enveredando-se por caminhos ocultos e silenciosos, transformando-o em um sujeito desconhecido de si mesmo.
Provocou o isolamento da essência humana, hoje infelizmente, não mais percebida entre alguns grupos, ou sociedades. Seu olhar desprendeu-se do mais baixo degrau (TERRA), necessário para sua escalada evolutiva, mergulhou em um labirinto, cheio de precipícios, que acabou afastando-o dos elementos essenciais à vida: o amor, o respeito, a confiança.
Uma receita bastante simples, que não precisamos buscar em nenhum vocabulário esdrúxulo. As coisas essências estão presentes na Natureza, e de forma bem simples, que só a prudência, a sensatez são capazes de revelar.
Nós, não somos como uma simples folha seca, desprendida da sua haste, por não mais ser necessário, solta ao vento sem direção a mercê de qualquer desígnio. Somos o equilíbrio da Natureza, nos foi dada essa condição de integrar e ser integrado, de comungar em conjunto novos significados, onde novas realidades são construídas sem que isso implique, na descaracterização,ou inferiorização. Nós Povos da Floresta, vivenciamos essa transcendência, sabemos da importância de estarmos ligados aos outros elementos essenciais á Vida. Somos parte de um todo, mesmo com as nossas peculiaridades. Em nosso vocabulário não existe o “Eu”, e sim, o “Nós”.
… Esse mundo ainda pode ser transformado em uma aldeia só, e que todos juntos podemos reverter o quadro destrutivo do mundo atual, basta olhar para dentro de cada um de nós, e perceber a presença de si mesmo. Pois é dentro de nós, que se encontra a chave da mudança, e não se abre de fora para dentro.
Enfim, prepararmos um ambiente digno para nossas futuras gerações, um mundo cheio de gente de verdade! Continuemos semeando, a Terra ainda é fértil!
*Da comunidade Tupinambá de Olivença/ Bahia, palestrante na ABL (Academia Brasileira de Letras), junto ao filósofo italiano Gianni Vattimo, em 2008, atuante no evento mídias nativas  (São Paulo, em 2007 e 2009). Docente no Curso de Extensão em filosofia indigena, Escutar o Outro na Faculdade de Letras da UFRJ em 2010. Pensadora indígena, escritora, comunicadora e idealizadora do Útero Amotara Zabelê de protagonismo das mulheres.

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