Ao negar que é largamente impopular, Temer se refugia em realidade paralela, por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

Michel Temer afirmou que a última pesquisa Datafolha – que apontou que 82% da população considera seu governo ruim ou péssimo – ”não é verdadeira”. A declaração foi dada, nesta segunda (18), após reunião de cúpula dos presidentes do Mercosul no Paraguai.

Entendo que o número seja assustador e talvez sua vaidade não permita admitir que é verdadeiro. Afinal, ele é Michel Michel Elias Temer Lulia, imperador do Jaburu, amansador de frigoríficos, conquistador do Porto de Santos, guardião das palavras sagradas ”Tem que Manter Isso, Viu?”, quarto patriarca do MDB, poeta e menestrel de Tietê, o primeiro de sua linhagem.

Garanto, contudo, que os números são verdadeiros. Para ser honesto, boa parte dos jornalistas que cobre o dia a dia da política nacional deve ter ficado surpresa que ainda conte com 3% de ótimo e bom. Onde vivem, o que comem, quanto de subsídios, emendas e perdões de impostos recebem essas pessoas?

Se ele não quiser acreditar em institutos de pesquisa, pode dar uma passada na periferia de grandes cidades brasileiras ou no interiorzão e perguntar para as pessoas comuns. Há pelo menos 13 milhões de desempregados e 4,6 milhões de desalentados que adorariam dizer o que pensam de seu governo.

Temer está nu. Sua corte está nua. Mas já não se importam mais com isso, contanto que sobrevivam até o final do ano sem ir para o xilindró. Está rolando Copa do Mundo e, junto com ela, o Norte e o Nordeste vivem as festas juninas. Depois, começa o calendário eleitoral. Ou seja, muito difícil que caia.

Mesmo que ele próprio saiba que a situação é insustentável. Em setembro de 2015, perguntado a respeito de uma Dilma na corda bamba, ele afirmou que ”ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo [de popularidade]. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável. Mas, se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil”.

Como ostenta menos da metade disso, só resta a Temer ignorar o realidade e chamar urubu de sabiá.

Kellyanne Conway, então assessora direta do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, quando questionada sobre a declaração de seu chefe, de que sua cerimônia de posse tinha a maior da história, apesar das fotos mostrarem que isso não se sustentava, afirmou a Chuck Todd, da rede de TV NBC: “Você está dizendo que é uma mentira. Nosso chefe de imprensa, Sean Spicer, apresentou fatos alternativos a isso”. O jornalista respondeu corretamente que ”fatos alternativos não são fatos. São falsidades”.

Temer pode dizer o que quiser, pois nada mudará o fato de que será lembrado como nosso presidente mais impopular.

O problema é que a maioria dos brasileiros não vive uma realidade paralela em palácios brasilienses, mas luta pela sobrevivência diariamente. O que ficou mais difícil com ele no poder.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

16 − 2 =