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WE REMEMBER! GENOCÍDIOS NUNCA MAIS!
Somos filhos do Holocausto. Todo ano relembramos o trauma coletivo no 27 de janeiro, Dia Internacional de Memória das Vítimas do Holocausto, ápice do horror em milênios de intolerância e perseguições.
Neste ano, ao grito mundial de “We Remember!”, precisamos somar no Brasil o de “Genocídios Nunca Mais!”.
O ciclo de desumanização que ocorre em nível mundial, e de forma singular no Brasil, nos faz lembrar também a ética judaica ancestral que o escritor Amos Oz sintetizou tão bem: “Não causar dor. Ou, pelo menos, causar menos dor” (1).
A experiência histórica nos obriga, ou pelo menos deveria nos obrigar à solidariedade para com outros povos marcados por feridas dessa natureza, ou que possam estar sujeitos a perigos, especialmente os que convivem conosco.
Também lembramos que não estivemos sozinhos. Milhares de pessoas de outros povos arriscaram suas vidas para salvar vidas de judeus, os Justos Entre as Nações, que têm os nomes eternizados nas árvores na Alameda dos Justos no Museu Yad Vashem, em Jerusalém
We Remember. Lembramos dos fortes sinais aos quais a opinião pública deu pouca importância e que prenunciavam o extermínio em massa nos três fatídicos anos de 1942 a 1945. Desde a eleição alemã de 1933, foi uma escalada de hostilidade, humilhações, assédio moral e ameaças aos judeus.
Já naquele ano livros de autores judeus foram tirados dos currículos e lançados às fogueiras. Vieram as Leis de Nuremberg em 1935. Judeus foram expulsos das universidades e profissões liberais. Atrocidades contra eles e outros grupos humanos “perigosos” para a pureza da raça ariana foram naturalizadas. Mais cinco anos passaram, com lavagem cerebral do povo alemão que permitiu o linchamento coletivo na Noite dos Cristais, em 1938 (2). Decorreriam mais anos até a decisão, pela cúpula nazista, da “Solução Final” (1942), que resultou no genocídio sistematizado em escala industrial, de 6 milhões de judeus em campos de extermínio, com mais de um milhão de ciganos, comunistas e homossexuais.
Também lembramos que não estivemos sozinhos. Milhares de pessoas de outros povos arriscaram suas vidas para salvar vidas de judeus, os Justos Entre as Nações, que têm os nomes eternizados nas árvores na Alameda dos Justos no Museu Yad Vashem, em Jerusalém, entre os quais os brasileiros Aracy Guimarães Rosa e Luiz Martins de Souza Dantas, que ousaram agir seguindo sua consciência e em desacordo com o então governo brasileiro. Lembramos da força e do poder da solidariedade.
Precisamos saber e fazer saber que os indígenas foram o grupo humano mais vitimado pela ditadura civil-militar de 1964, com milhares de índios assassinados por pistoleiros a mando de proprietários de terras, jamais punidos
Lembramos e, ao mesmo tempo, vemos hoje no Brasil os sinais que não soubemos ver na Alemanha. São nuvens pesadas sobre os grupos humanos mais vulneráveis, como nós éramos na Alemanha e na Polônia. A intolerância religiosa de parte de fundamentalistas e as ameaças explícitas e atos de governo lesivos aos direitos assegurados aos povos originários pela Constituição Federal nos fazem lembrar, além do genocídio que nos vitimou, outros genocídios cruéis que mancham a História brasileira: a escravidão dos africanos e o perpetrado contra os povos originários do Brasil por quase quinhentos anos, em que povos, aldeias e comunidades indígenas foram atacadas. Milhões foram exterminados e expulsos de suas terras, forçados ou convencidos a abandonar suas crenças e culturas e tiveram negados seus direitos como seres humanos. Precisamos saber e fazer saber que os indígenas foram o grupo humano mais vitimado pela ditadura civil-militar de 1964, com ao menos 8.350 índios assassinados (3), dos quais os historiadores um dia dirão quantos foram mortos por pistoleiros a mando de proprietários de terras jamais punidos.
Violências têm vítimas e atores, visíveis ou invisíveis. Na Alemanha fomos vítimas invisíveis e nossos algozes gozavam de impunidade. Com a invisibilização decorrente da fragmentação dos noticiários e da curta memória nacional, poucos hoje sabem sobre a responsabilidade de jovens de classe média de Brasília, gente como nós, dois deles filhos de magistrados, que há 21 anos atearam fogo ao índio Galdino Pataxó (4).
Não podemos silenciar diante das medidas e intenções de violar direitos constitucionais e ameaçar a integridade cultural e territorial dos povos indígenas, que compõem grande parte da preciosa diversidade humana de nossa Pátria
Destruições de casas e plantações de indígenas são cometidas hoje sem qualquer imputação criminal a seus autores. Lideranças indígenas vêm sendo trucidadas para a tomada de suas terras. Uma ofensiva contra suas terras e os recursos naturais que contêm está orquestrada no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto. Madeireiros, garimpeiros, latifundiários invadem, saqueiam, destroem, ameaçam e matam impunemente e se organizam para que estas atrocidades se tornem legais, sancionadas pelo Estado Brasileiro, como o foram na Alemanha nazista.
A vida e a dignidade de todos têm igual valor.
Não podemos silenciar diante das medidas e intenções de violar direitos constitucionais e ameaçar a integridade cultural e territorial dos povos indígenas, que com suas 305 etnias compõem grande parte da preciosa diversidade humana de nossa Pátria e de seu precioso patrimônio cultural. Os atos iniciais do novo governo, como a Medida Provisória que reorganiza os ministérios, desvincula a Fundação Nacional do Índio – FUNAI do Ministério da Justiça e transfere a demarcação de territórios indígenas para a responsabilidade de ruralistas, e o anúncio de intenções de abrir os territórios indígenas para atividades de mineração e agricultura, entre outros fatos, nos motivam a, nesse dia que nos é sagrado, alertar os brasileiros e a opinião pública mundial sobre a escalada crescente de violências contra os Povos Indígenas no Brasil. A extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA, pode agravar essa já delicada situação.
Conclamamos nossos correligionários e integrantes de outras religiões e grupos étnicos para construirmos um movimento de solidariedade em apoio aos indígenas e os demais povos e comunidades tradicionais
Nesse dia que nos pede contrição, reverência e compromisso, o melhor tributo às vítimas do Holocausto e o melhor reconhecimento aos Justos de todos os povos está em afirmar que todos somos responsáveis!
Lembrando o sábio Hillel (séc.I antes da Era Comum): “Se eu não for por mim, quem será? E se não agora, então quando? E se eu for só por mim, quem sou eu?” (5), conclamamos nossos correligionários e integrantes de outras religiões e grupos étnicos para construirmos um movimento de solidariedade em apoio aos indígenas e os demais povos e comunidades tradicionais, monitorando, denúnciando crimes, invasões de terras, ameaças, esvaziamento de instituições e formas de proteção e na busca por proteção nacional e internacional de seus direitos.
Declaramos aqui nossa determinação de fortalecer os vínculos entre brasileiros, dando a mão aos Povos Indígenas, quilombolas e outras comunidades ameaçadas, empoderando pela construção, semana a semana, de uma rede de solidariedade e conexão pessoa a pessoa, aldeia por aldeia, família por família, Povo a Povo!
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Fonte: Frente Dom Paulo
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.
y el campo de concentración de gaza? palestina toda?
invasión a sangre y fuego de un país y ahora aniquilamiento programado, de una raza inferior.
pequeño detalle del que se olvidaron, en un día que trae los campos a la conciencia mundial…