Tania Pacheco
Ontem pela manhã (5), Rubens Valente deu o devido peso, na Folha, a uma das declarações feitas por Bolsonaro em entrevista no dia 28 de junho, no Japão. Com a usual inconsequência, o capitão informou, na ocasião, que o seu ministro da Justiça havia fornecido a ele “cópia do que foi investigado pela Polícia Federal”, sob segredo de justiça, sobre o laranjal do PSL.
À noite, a Folha publicou outra matéria, agora sobre a singela resposta do Ministério da Justiça, confirmando a veracidade da informação e alegando que “as informações repassadas não interferem no trâmite das investigações”.
Como diz Rubens Valente na abertura de seu texto, “Que o presidente da República tenha revelado isso e nenhuma reação provocado é um sinal preocupante de debilidade das instituições”. Sua denúncia serviu para que pelo menos uma engrenagem começasse a se movimentar, aparentemente. Uma.
No Senado, o líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou requerimento para que Moro esclareça, “por escrito”, a notícia. Segundo a Folha, o Senador afirma que a questão é “extremamente grave”, pois “coloca em dúvida a lisura e a imparcialidade das investigações por parte da Polícia Federal”. E solicita que Moro explique se está ciente de que, segundo as leis, “é dever do Estado controlar o acesso e a divulgação de informações sigilosas produzidas por seus órgãos e entidades, assegurando a sua proteção”.
A Folha diz ter ouvido outras instituições sobre o vazamento. A Polícia Federal informou que investigações sobre crimes eleitorais só podem ser instauradas a partir de determinações da Justiça Eleitoral e que correm sob “segredo de justiça”. O TRE de Minas confirmou: “as investigações sobre as candidaturas laranjas do PSL tramitam sob segredo de Justiça”. E o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Edvandir Felix de Paiva, corroborou:
“Só posso falar em tese. Em tese nós sempre queremos acreditar que jamais um terceiro vai ter acesso a uma investigação. O presidente, apesar de ser autoridade máxima de um país, é sempre um terceiro, ele não deve ter acesso a investigações em andamento”.
Para agravar um pouquinho o caso, o Capitão Boquirroto acrescentou outra informação ainda na entrevista do dia 28: “Ele [Moro] mandou a cópia do que foi investigado pela Polícia Federal pra mim. Mandei um assessor meu ler porque eu não tive tempo de ler”. Ou seja: o vazamento sequer ficou circunscrito “aos seus olhos apenas”. O crime foi além. E mais…
Como escreve Rubens Valente, Bolsonaro ainda revelou ter ‘determinado’ a Moro que ‘determinasse’ à PF, que investigasse todos os partidos com problemas semelhantes: “Tem que valer para todo mundo, não ficar fazendo pressão em cima do PSL para tentar me atingir.” Teoriocamente, não é tão simples. Ainda segundo o presidente da ANDPF à Folha,
“Tem que ter uma notícia-crime. Um inquérito tem que ter justa causa para instauração, um indício de que houve um crime. Se o presidente tiver indício de que houve crime e apresentar como notícia-crime, a instauração tem que ser feita. Genericamente não é possível, porque senão vira fiscalização, e a PF não é órgão de fiscalização”
Fechamos com Rubens Valente:
“Os órgãos de controle da União ou não ouviram o que Bolsonaro disse no Japão ou ouviram e silenciaram. Nos dois modos temos instituições cegas para o Alex Jones que ora ocupa a Presidência. Ele exerce abertamente a ousadia dos impunes a fim de obter dados sigilosos e determinar o que deve ser investigado no país. Isso é que é Estado policial.”
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Imagem: Christopher Ulrich, O Tolo