Novo líder do governo na Câmara tem latifúndio em região de conflitos no Piauí

Defesa do uso da cloroquina e ataques ao isolamento social ajudaram o deputado paranaense Ricardo Barros (PP), representante do Centrão, a se aproximar do presidente Jair Bolsonaro; ele foi ministro da Saúde do governo Temer

Por Leonardo Fuhrmann, em De Olho nos Ruralistas

O novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), é dono de um latifúndio de mais de 5 mil hectares em uma região de conflitos a milhares de quilômetros de sua terra natal. Apesar de ser paranaense e ter feito sua carreira política no Paraná, a propriedade de Barros fica no município Baixa Grande do Ribeiro, no Piauí, como mostrou o De Olho nos Ruralistas: “Ruralistas do Congresso possuem terras em áreas de conflitos sociais e ambientais”.

A expansão da soja, pecuária e do uso de carvão vegetal são os principais fatores de pressão contra as comunidades tradicionais e os pequenos produtores na região, segundo o Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, feito pela Fiocruz. O município fica numa área de transição entre a Floresta Amazônica, a Caatinga e o Cerrado.

A propriedade de Barros é um exemplo dessa expansão do agronegócio, que acaba expulsando pequenos proprietários, muitos deles sem documentos, das áreas que viveram durante boa parte da vida. Com o avanço das grandes propriedades, houve também um aumento da violência na disputa por terras.

A política e a questão agrária andam lado a lado na região. O ex-governador Wilson Martins foi alvo de inquérito no Ministério Público do Estado do Piauí por irregularidades na concessão de 61 títulos de propriedade rural transferidos em 2012, durante sua gestão. Os lotes totalizavam 21 mil hectares. A história foi contada em 2018 pelo De Olho nos Ruralistas: “Histórias de grilagem e venda de terras públicas marcam candidaturas no Piauí”.

A grilagem na região envolve inclusive agentes internacionais. A Sorotivo Agroindustrial, foi citada pela Vara Agrária da Comarca de Bom Jesus como responsável pela grilagem de 27 mil hectares. A empresa pertence ao Grupo Insolo, um dos operadores do fundo de pensão da Universidade de Harvard, que vinha adquirindo terras no estado para especulação financeira. Segundo a Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Harvard possui 153 mil hectares no Piauí.

CLOROQUINA APROXIMOU POLÍTICO DE BOLSONARO

A escolha de Barros para ser líder do governo foi anunciada nesta quarta-feira (12), pelo próprio deputado. Ele irá substituir Vitor Hugo (PSL-GO). A escolha de Barros é mais um sinal do acordo entre o governo e o Centrão, grupo político conservador e fisiológico que tem um poder crescente desde a ascensão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), atualmente preso.

Barros venceu a disputa entre políticos do Centrão pelo cargo também por sua posição em relação à pandemia de Covid-19. Ele defendeu o uso da cloroquina no tratamento da doença, mesmo sem qualquer indício de sua eficiência, depois de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich se demitirem por não terem aceitado mudar o protocolo em relação ao uso da substância.

Ministro da Saúde do governo Temer, Barros defendeu a permanência do general Eduardo Pazuello como ministro interino da Saúde. “O general Pazuello convocou generais para o ministério. Eles estão comprando, tomando decisões e se comprometendo. Isso é muito importante. Defendo a manutenção do general porque ele está sendo operacional”, afirmou. Os dois têm em comum a falta de formação na área de saúde.

O novo líder chegou a dizer que ele e sua família tiveram Covid-19, usaram cloroquina e foram curados. Barros é casado com a ex-governadora do Paraná Cida Borghetti, que foi vice do governador tucano Beto Richa e assumiu o cargo depois que ele renunciou para ser candidato ao Senado. Ele também é pai da deputada estadual paranaense Maria Victoria. Todos são do PP.

Como ministro, Barros chegou a defender uma redução no tamanho do Sistema Único de Saúde (SUS), com a criação de planos de saúde populares.  Na época, foi lembrada a relação dele com os planos de saúde. Seu principal financiador de campanha em 2014 foi Elon Gomes de Almeida, dono do grupo Aliança, um gigante do setor.

No meio da pandemia, o deputado também demonstrou mais apreço pela situação financeira dos empresários do que pela saúde da população. Segundo ele, o isolamento social estava quebrando os hospitais porque reduziu os acidentes de carro.

Imagem principal (De Olho nos Ruralistas): Mapa das Terras dos Parlamentares, divulgado em 2019 

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