No dia 20 de janeiro, 45 famílias que vivem no acampamento Che Guevara no município de Piranhas (GO), foram surpreendidas por uma ordem de despejo da Justiça do estado. A comunidade produz alimentos saudáveis, com lavouras diversificadas e cria animais. A notícia sobre o despejo foi divulgada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Pedro Calvi/CDHM
Nesta quarta-feira (3), o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), Helder Salomão (PT/ES) pediu medidas para resguardar a vida, a integridade física e a dignidade das famílias ameaçadas pelo despejo. O caso foi levado à presidência da CDHM por João Daniel (PT/SE).
Os trabalhadores rurais foram levados para a fazenda onde está o acampamento em 2015, por uma decisão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Naquele ano houve, inclusive, um contrato de empréstimo gratuito da área.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), todos os documentos do Incra sobre a área indicam para a viabilidade de desapropriação da fazenda para reforma agrária. Até o empenho para pagamento do terreno já teria sido feito.
Apesar de todos esses elementos, e em pleno crescimento dos casos de Covid-19 no estado, a ordem de despejo contra as famílias foi feita.
O documento da presidência da CDHM foi enviado para Carlos Alberto Vilhena, procurador federal dos Direitos do Cidadão (MPF); ao juiz de Direito da comarca de Piranhas (GO), Jesus Rodrigues Camargos; para o desembargador Fausto Moreira Diniz, do Tribunal de Justiça de Goiás; à Defensoria Pública da União e ao procurador-geral de Justiça do estado, Aylton Flávio Vechi.
“A desistência do Incra, anos após o comprometimento inicial em assentar as famílias de trabalhadores rurais, revela clara violação dos princípios da boa-fé administrativa”, ressalta Salomão. O parlamentar afirma ainda que essa atitude “desperdiçou investimentos públicos direcionados por anos à finalidade de promover a reforma agrária. Pode configurar, também, ato de improbidade administrativa”.
Durante o tempo em que aguardavam o assentamento, as famílias investiram recursos próprios na cooperativa que existe no local e criaram um modelo exitoso de produção de alimentos saudáveis para subsistência e comercialização.
Os ofícios lembram que, devido ao “contexto de emergência de saúde e de segunda onda de proliferação do Covid 19, quando o isolamento social é a principal medida de prevenção, o desalojamento das famílias e as inevitáveis aglomerações violam princípios humanitários, e colocam em risco a própria vida dos despejados”.
Com informações da Comissão Pastoral da Terra
Foto: Comissão Pastoral da Terra / Acampamento Che Guevara (GO)