Nomeado por Pazuello, coordenador de saúde indígena do MS é exonerado após mobilizações

Funcionários e ex-funcionários da equipe de saúde de Dourados denunciaram perseguição e falta de equipamentos na gestão de Joe Saccenti Junior; demissão é atribuída ao chefe de gabinete do Ministério da Saúde, que atropelou chefe da Sesai e o próprio Queiroga

Por Julia Dolce, no De Olho nos Ruralistas

O coordenador do Distrito de Saúde Especial Indígena (DSEI) do Mato Grosso do Sul, Joe Saccenti Junior, foi demitido nesta quinta-feira (27). A exoneração foi publicada no Diário Oficial de União desta sexta-feira. Coronel da reserva, Junior, que foi levado ao cargo pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, é acusado de perseguição política de equipes de saúde que denunciam o desmonte do DSEI, a falta de equipamentos básicos durante a pandemia e o desvio de vacinas para Covid-19: “Ministério da Saúde desvia vacinas e implode equipe que reduziu mortalidade indígena em Dourados (MS)“.

Quem demitiu Saccenti, segundo os indígenas, não foi o ministro Marcelo Queiroga, mas seu chefe de gabinete, igualmente nomeado por Pazuello.

A exoneração foi recebida com alegria pela equipe do Polo de Dourados da saúde indígena. O polo foi o principal afetado pela perseguição do ex-coordenador do DSEI-MS. Pelo menos seis funcionários da equipe, a sua maioria enfermeiros e técnicos de enfermagem indígenas, foram demitidos sem justificativa nos últimos seis meses. Somente na noite de ontem foram dois funcionários demitidos.

A perseguição teve início por volta de abril de 2020, logo no início da pandemia, quando os funcionários começaram a denunciar para autoridades públicas e para a sociedade civil a falta de estrutura para o combate da pandemia. O polo é responsável pela Reserva Indígena de Dourados e por outras aldeias, além de cuidar da saúde dos indígenas Guarani Kaiowá, Guarani Ñandeva e Terena expulsos de suas terras pelo agronegócio e que moram em acampamentos pelas estradas e no fundo de fazendas. São 18 mil indígenas assistidos pelo Polo de Dourados, a maior proporção de atendidos do país.

A exoneração de Saccenti foi conquistada após mobilizações do movimento indígena do Mato Grosso do Sul. Líderes indígenas ocuparam o Polo de Dourados no início do mês, demandando o fim da perseguição de profissionais de saúde e transparência nos dados epidemiológicos da pandemia.

A equipe do polo foi responsável pela denúncia e redução de índices alarmantes de desnutrição e mortalidade infantil entre os indígenas da Reserva de Dourados. A desnutrição, um problema histórico entre os povos indígenas do Mato Grosso do Sul, foi objeto de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), uma na Assembleia Legislativa, outra no Congresso, em 2005.

INDÍGENAS QUEREM DEMISSÃO DE ROBSON, O CORONEL QUE COMANDA A SESAI

O responsável pela exoneração não foi o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mas seu chefe de gabinete, o capitão Paulo César Ferreira Junior, também nomeado por Pazuello. A decisão contrariou interesses do próprio ministro e do atual secretario especial da Saúde Indígena, o também coronel da reserva Robson Santos da Silva.

Segundo funcionários da saúde indígena do Mato Grosso do Sul, há uma mobilização de líderes indígenas pressionando pela exoneração de Silva. Esses líderes têm encontro marcado na próxima terça-feira com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e discutirão a demanda. Os indígenas pretendem pedir apoio de Lira para a intervenção.

A falta de recursos para deslocamento dos líderes indígenas até Brasília, no entanto, ainda é um obstáculo na negociação. Até o fechamento desta edição, não havia nomes indicados para substituir Saccenti.

Julia Dolce é jornalista investigativa, com atuação na área socioambiental. |

Foto Principal (Reprodução): líderes da Reserva de Dourados ocuparam Polo Base da Saúde Indígena 

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