Em tempos de fome, ocupação de terras é uma ação democrática e um ato de amor à vida

A ocupação de terra é uma das mais importantes ações de combate à fome da história do país

Por Silvio Netto, no Brasil de Fato*

No país que mais exporta commodities agrícolas, mais da metade de sua população não se alimenta adequadamente, comem o que estiver disponível e não sabem se terão alimentação garantida nos próximos meses. Entre eles, vinte e oito milhões de brasileiros estão literalmente passando fome.

Ao mesmo tempo em que o Brasil alcançou uma safra recorde de mais de 272 milhões de toneladas de grãos neste ano, o país voltou ao Mapa da Fome, elaborado pela ONU, de onde conseguiu sair em 2014.

Isso acontece porque o modelo implementado só privilegia poucos latifundiários e empresas de capital estrangeiro que produzem apenas para a exportação, sustentadas pelo amplo uso de agrotóxicos.

Só no governo Bolsonaro, mais de 1350 novas substâncias foram liberadas. Assim, toneladas e toneladas de soja, milho, cana e outras commodities têm como destino o mercado exterior, seja a produção de alimentos, agrocombustíveis ou ração para bovinos, suínos e aves.

Apesar da injustiça do modelo agroexportador, diariamente somos bombardeados por propagandas em todos meios de comunicação anunciando que o “Agro é pop, é tech, é tudo”, com imagens de longos campos verdes, grandes máquinas e números que apresentam o agronegócio como garantidor do superávit na balança comercial.

Mas, na prática, quem alimenta o povo brasileiro é a agricultura familiar. Mesmo com uma área pequena, representando 23% do total, ela é responsável por mais de 70% dos alimentos consumidos pela população brasileira e por 67% da força de trabalho ocupada na agropecuária. 

Somos milhares de militantes, técnicos, educadores, que atuam também através de escolas, cooperativas, associações e agroindústrias.
 
O movimento defende e constrói a implantação de uma reforma agrária popular, que beneficie o conjunto do povo brasileiro, em harmonia com nossa biodiversidade, para superar o modelo de morte do agronegócio. E a distribuição de terras é a única alternativa para se reverter os problemas do meio ambiente, com plantio de árvores e a preservação das águas.

*Silvio Netto é da direção nacional do MST; Publicado originalmente no jornal O Tempo.

Edição: Vivian Virissimo

Foto: Gustavo Marinho/ MST em AL.

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