Se Palmares não existe mais, faremos Palmares de novo!

Neste 20 de novembro, entenda como a resistência negra no Brasil, e seu caráter revolucionário, está presente todos os dias no MST

Por Fernanda Alcântara, na Página do MST

Hoje [anteontem] celebramos a luta do povo preto brasileiro e as conquistas do movimento negro na história do país. O “Dia da Consciência Negra”, que existe oficialmente desde 2003 como uma celebração escolar e desde 2011 como lei, marca a morte de um dos maiores lutadores contra a escravidão no Brasil, Zumbi dos Palmares.

Este ano a data une movimentos antirracistas e antifascistas na jornada nacional de manifestações pelo Fora Bolsonaro. As manifestações evidenciam os desafios colocados para o combate ao racismo no Brasil governado por Jair Bolsonaro, que tem o racismo estrutural e a necropolítica como central em seu projeto de sociedade. Atualmente, a reflexão deste 20 de novembro passa também sobre como a exploração tem sido a principal força d governo Bolsonaro. Infelizmente, este continua sendo o único projeto de longo prazo que deu certo no Brasil: a escravidão e opressão do povo negro.

A desigualdade no Brasil é construída a partir de estruturas muito profundas da sociedade brasileira. A fome e o desemprego no Brasil têm cor, conforme apontam pesquisas e fazem parte do projeto político. O relatório “Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil”, publicado no começo do ano pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), mostra que 59,2% dos negros apresentam algum grau de insegurança alimentar (de leve a grave), enquanto esse percentual é de 51% entre os brancos.

Sob o governo de Jair Bolsonaro, mais de 220 mil pessoas perderem suas casas. Entre a população em situação de rua 70% são pretos ou pardos, segundo o Ipea. Do mesmo modo a pobreza se agravou entre o povo negro: 38% das mulheres negras estão na miséria. Entre as pessoas brancas esse índice atinge 19%.

No que diz respeito ao desemprego, este racismo também se expressa em números. Segundo o IBGE, no primeiro trimestre de 2021 a taxa de desemprego entre trabalhadores identificados como negros e pardos era de 16,2%, enquanto a dos brancos estava em 11,7%. Sete em cada dez brasileiros que perderam emprego ao início da pandemia eram negros, aponta outro estudo, do Dieese. E os números não se restringem à pandemia: Quando se olha para o desemprego que se arrasta por mais tempo, acima de dois anos, os trabalhadores negros são 2,5 milhões ante 1,4 milhão de brancos.

A luta pela terra como saída

Do Brasil colonial ao modelo do agronegócio em pleno século XXI, o que prevalece é a concentração fundiária, o que traz à tona a necessidade da discussão e da luta política, como a encabeçada pelo MST. Mas, diante da realidade que estes números trazem, é de se esperar que a população negra no Brasil se perceba marginalizada, mas continue na resistência, fincando sua bandeira na história.

Enaltecer esse legado é tarefa constante de celebrar a resistência. A experiência mais conhecida no Brasil, na luta contra o racismo e contra a desigualdade, ainda hoje é a de Palmares, que resistiu por 67 anos. No entanto, existiram centenas de quilombos espalhados pelo país desde o século XVI e, atualmente, existem mais de 2.600 comunidades quilombolas certificadas pelos órgãos oficiais, mas a estimativa é de mais de 4 mil comunidades pelo país.

Quando evocamos a luta pela terra por povos tradicionais e quilombolas, lembramos também da luta contra o racismo ambiental, discriminação racial na elaboração de políticas ambientais, aplicação de regulamentos e leis, direcionamento deliberado de comunidades negras para instalações de resíduos tóxicos, sanção oficial da presença de venenos e poluentes com risco de vida.

Por isso o MST está ligado tanto a esta causa. O Movimento que nasceu da ocupação da terra e tem nesta ação seu instrumento de luta contra a concentração fundiária e o próprio Estado. Porque a História exige da população negra brasileira, e de toda a diáspora africana, ações articuladas para o enfrentamento ao racismo, ao genocídio e às desigualdades, injustiças e violências derivadas desta realidade.

Na luta pela terra, na política, no emprego e em tantas outras áreas, todo dia é dia de falar sobre a dívida histórica e cruel que este país tem com os negros.

*Editado por Maria Silva

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