Golpe Verde: falsas soluções para o desastre climático (para baixar)

Publicação organizada pelo Cimi Regional Amazônia Ocidental reúne artigos que analisam criticamente o processo da implementação da chamada “economia verde” no estado do Acre

Cimi

O Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Amazônia Ocidental apresenta a publicação Golpe Verde: falsas soluções para o desastre climático, uma coletânea de artigos que analisa criticamente o processo da implementação da chamada “economia verde” no estado do Acre, no Brasil.

A publicação faz parte de uma série histórica composta por outros dois materiais: o dossiê O Acre que os mercadores da natureza escondem, lançado na Cúpula dos Povos (RJ), em 2012, e a revista 30 anos pós-assassinato de Chico Mendes e destruição oculta de florestas e vidas no Acre, publicada em 2018.

Aliadas a uma série de outras ações e produções, nossas publicações resultaram em um processo de articulação entre mulheres e homens indígenas, extrativistas, ribeirinhos, militantes da academia e organizações sociais dentro e fora do Acre.

Ao longo dos anos, essas articulações foram se dando em torno de alguns objetivos comuns: compreender e denunciar os impactos dos projetos e programas da economia verde nos territórios indígenas e extrativistas, e fazer a resistência ao processo de mercantilização e financeirização da natureza, em curso no estado, no Brasil e no mundo.

E, no Acre, essas mercantilização e financeirização começam efetivamente com a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder do governo do estado, em 1999. Autointitulado o “governo da floresta”, a administração pública do PT adotou o discurso de que era preciso iniciar um novo ciclo de negócios no Acre, inserindo o estado na “era da economia verde” – para manter, como costumam dizer, a floresta “em pé”.

Em 2010, ocorreu um marco neste processo, com a lei que criou o Sistema Estadual de Incentivos a Serviços Ambientais (SISA). Era a primeira vez, na história global, em que seria aplicado em um estado inteiro um mecanismo, criado em 2005, para reduzir as emissões de carbono oriundos do desmatamento: o programa de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD). Pouco depois, em 2012, o governo alemão recompensou o governo do Acre pelo SISA, e pela redução das taxas de desmatamento no estado.

Durante quatro anos, através do banco público KfW, os alemães repassaram 16 milhões de euros – isto é, mais de 18,5 milhões de dólares – ao governo acreano, seguido por outros repasses milionários, consolidando assim o processo de financeirização da natureza. O dinheiro entregue ao Acre vinha do REM (do inglês, REDD Early Movers), um programa de Estado alemão que remumera os “pioneiros do REDD” no mundo.

Ao longo dos anos, delegações internacionais levadas pelo Banco Mundial, pela ONG WWF e por outros promotores de REDD e REDD+ visitaram o Acre, tratando o estado como um grande “caso de sucesso” no mundo do REDD e do desenvolvimento sustentável na floresta.

Todo esse otimismo capitalista, no entanto, não foi suficiente para ofuscar a verdadeira face da economia verde: um verniz ecológico que oculta a destruição, o roubo de terras e a submissão de comunidades ao regime de acumulação de capital, transformando crise ecológica em negócio.

Com o programa REDD+ no Acre completando 10 anos, e frente ao caos generalizado que no mundo – e especialmente no Brasil – vivenciamos hoje, em 2021, nos vimos impelidos a escrever este dossiê. Apresentamos, em oito textos, um panorama desse processo histórico no Brasil. Transitando pelo vasto horizonte das violações e desmandos do capitalismo verde, começamos 33 anos atrás, com o assassinato de Chico Mendes, e seguimos analisando os impactos do REDD em comunidades indígenas e extrativistas no Acre, e para além do Acre. Desnudamos, também, a mais nova roupagem do REDD: as Soluções baseadas na Natureza (SbN), promovidas em conferências do clima da ONU.

Entre artigos acadêmicos, depoimentos de militantes de base, entrevistas e cartas públicas, refletimos sobre os acontecimentos e as políticas às quais somos submetidos, e assim nos preparamos melhor para o porvir. Esperamos, com este material, dar continuidade no debate público sobre a resistência aos projetos de economia verde que tentam enganar a população brasileira e o mundo, fingindo plantar árvores ou mantê-las em pé – enquanto, na realidade, passam o trator e a boiada.

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