Governo Bolsonaro pressiona por urgência na aprovação da mineração em Terras Indígenas na Câmara

ClimaInfo

recado tuitado pelo presidente Bolsonaro, pedindo ao Congresso celeridade na aprovação do PL 191 que libera mineração em terras indígenas, surtiu efeito: o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, já começou a coletar assinaturas para aprovar um requerimento de votação em regime de urgência do projeto. Esse regime permite que o projeto seja submetido à votação imediatamente, sem o processo de discussão legislativa.

O argumento que deflagrou e alimenta este novo ataque às Terras Indígenas é o temor de que talvez venha a faltar potássio por causa do conflito entre Rússia e Ucrânia. Este argumento é desmontado por André Borges, do Estadão, que apurou haver em andamento dentro da Agência Nacional de Mineração (ANM) um total de 544 processos ativos de exploração de potássio em todo o país – centenas deles sem impacto direto em Terras Indígenas e com condições de serem viabilizados por meio da legislação ambiental já em vigor.

Mesmo o projeto citado por Bolsonaro, em Autazes (AM), dispensa a aprovação do PL 191 para ir adiante. Conforme informações da companhia Potássio do Brasil, controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan, o impacto sobre indígenas é indireto e, por isso, bastaria se chegar a um acordo sobre os impactos indiretos que a mineração terá.

Veja explica porque o Brasil importa 70% dos insumos usados na agricultura: falta de infraestrutura. O país não conta com um sistema de dutos grande o suficiente para dar conta de escoar o gás utilizado para a produção de fertilizantes nitrogenados. Ou seja, a questão dos fertilizantes não passa pela autorização ou não de minerar em Terras Indígenas.

Pelo lado econômico, o argumento usado por Bolsonaro para pressionar pela aprovação do PL também não faz sentido. Quem explicou isso foi o ex-Ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, em entrevista ao UOL: “É mais barato importar fertilizantes da Rússia ou da África do que produzir aqui. Essa ideia que você precisa se “autobastar” foi presente no regime militar, que colocava a soberania nacional acima de tudo. Num mundo globalizado, não tem porquê produzir no país um produto que fica mais caro do que importar”.

O PL 191 é de autoria do atual ministro de minas e energia, Bento Albuquerque, cujo ministério defendeu o projeto junto ao Estadão. Ainda segundo o jornal, líderes partidários já ouviram de Arthur Lira, presidente da Câmara, que ele será colocado em votação ainda neste semestre. O projeto integra o Pacote da Destruição que Lira, bancada ruralista, lobbies de mineradoras, de garimpeiros e do agrotóxicos querem aprovar na reta derradeira do governo Bolsonaro. Isso significa que com ou sem tweets presidenciais, o projeto deve chegar em algum momento à pauta de votações.

No Congresso em Foco, André Lima e Mateus Fernandes, do IDS, descrevem a pauta ambiental que pode ser votada pela atual legislatura, incluindo a agenda positiva que os parlamentares podem fazer avançar este ano.

Na Folha, o professor de direito constitucional da USP, Conrado Hübner Mendes, chama a atenção para os seis projetos que compõem o “pacote da destruição” para dizer que estes “não só terão impacto ambiental como se juntam em amplo pacote legislativo pró-corrupção.” Conrado termina seu artigo convocando para o “Ato pela Terra” que terá Caetano Veloso e outros artistas, movimentos sociais e organizações da sociedade civil protestando no dia 9 de março, a partir das 15 horas, na frente do Congresso contra o “pacote da destruição”.

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