Os encontros da juventude indígena são espaços que promovem a participação dos jovens e contribuem com o despertar de novas lideranças
POR FÁBIO PEREIRA, MISSIONÁRIO DO CIMI REGIONAL NORTE 1 EM TEFÉ (AM)
A aldeia Morada Nova, na Terra Indígena (TI) Deni, Rio Xeruã, no município de Itamarati (AM), recebeu mais de 80 jovens indígenas Deni das aldeias Terra Nova, Itaúba e Boiador, nos dias 25 a 27 de março, que montaram seus tapiris em uma morada provisória para o 2º Encontro da Juventude Indígena do rio Xeruã.
O primeiro encontro, realizado em outubro de 2021 na aldeia Boiador, foi articulado com o apoio da equipe do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na Prelazia de Tefé. Neste segundo, a diretoria da Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (Aspodex) esteve à frente e recebeu apoio das lideranças indígenas das aldeias Deni e seus Grupos de Jovens.
Fortalecer a organização e a participação da juventude indígena Deni nas discussões, proposições e decisões nas aldeias e nos espaços políticos foram objetivos do encontro, além dos debates acerca das políticas públicas para a juventude, principalmente no âmbito municipal, e do fortalecimento cultural e organizacional.
A participação da juventude indígena nos espaços coletivos de tomadas de decisões e de interação com o movimento indígena local e com as lideranças das aldeias tem proporcionado aos jovens mais comunicação, expressão e, consequentemente, maior representatividade. Esses momentos também contribuem com o despertar de novas lideranças para seguirem nas “trincheiras” da luta por seus direitos.
Essa participação está evidente nas assembleias da Aspodex, em reuniões comunitárias e ajuris (mutirões comunitários), na fiscalização para proteção de seu território, nas atividades do manejo e pesca do pirarucu, nas festas tradicionais e culturais, assim como nas participações em eventos municipais e em outras localidades.
Pha’avi Hava Deni, jovem liderança que está na presidência da Aspodex, diz que o Encontro da Juventude é uma oportunidade para os jovens aprenderem do seu jeito tradicional a ser liderança, para conhecerem as lutas e conquistas do seu povo.
“Precisamos da juventude indígena Deni organizada porque estamos na luta constantemente e sua participação em nossas aldeias e na associação é muito importante. Esses encontros podem ajudar a formar nossos jovens sobre seu papel na aldeia, na sociedade, nos trabalhos da associação”, afirma.
Além das temáticas sobre a organização da juventude, fortalecimento organizacional dos grupos de jovens nas aldeias, os participantes debateram sobre as consequências do consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, problemas de muita preocupação entre os povos indígenas da região do rio Xeruã.
Ao final do encontro, a alegria e a resistência da juventude foram celebradas através das danças e cantos do povo Deni. O jeito jovem de ser indígena, de viver sua cultura na sua terra, no chão sagrado, de lutar, de aprender com os anciãos os saberes da tradição e trocando com eles os conhecimentos atuais, os mantém firmes e com capacidade de caminhar em meio aos não indígenas sem perder seus traços específicos tradicionais.
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2º Encontro da Juventude Deni, na aldeia Morada Nova, Terra Indígena Deni. Rio Xeruã, Itamarati (AM). Foto: Pha’avi Deni