O grito de basta que ecoa do décimo Fórum Social Pan-Amazônico

“Da Amazônia não abro mão” Realizado entre os dias 28 e 31 de julho, a décima edição do Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa) foi sediada em Belém (PA) e reuniu atividades do Brasil e de diversos outros países, com a participação de representantes de comunidades, lideranças, organizações e movimentos sociais

Por Cláudia Pereira, da Articulação das Pastorais do Campo, em CPT

Aproximadamente cinco mil pessoas participaram do décimo Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), realizado em Belém do Pará. A edição começou no dia 28 de julho com a marcha de camponeses, povos e comunidades tradicionais e movimentos urbanos, que foram abençoados pela chuva ao final do trajeto. Nos quatro últimos dias do mês de julho, participantes de nove países refletiram sobre o desafio de unificar forças na luta pela vida em territórios de guerra, no cenário da Amazônia Internacional. No encontro, realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA), povos e comunidades tradicionais fizeram ecoar o grito de socorro em defesa da vida, dos povos e do bioma amazônico.

O Fospa proporcionou às pastorais do campo o fortalecimento das articulações, e sobretudo a resistência política no enfrentamento do modelo atual de desenvolvimento neoliberal, neocolonial, racista e patriarcal. As pastorais realizaram diversas atividades com temáticas sobre desastres climáticos, conflitos socioambientais, proteção e preservação territorial, incêndios criminosos e divulgaram a Campanha Contra a Violência no Campo. Durante o Fórum, a comitiva do Tribunal de Justiça da Natureza, apresentou uma versão parcial do relatório das visitas que fizeram nas comunidades de Altamira, Anapu e Marabá (PA) entre os dias 18 a 27 de julho. O documento aponta para as urgências sobre a violência e as violações dos direitos humanos e a natureza nos territórios.

A análise parcial feita pela comitiva reitera as denúncias que foram expostas durante as atividades das pastorais no décimo Fospa. As comunidades estão vivenciando uma violência brutal que perpassa os corpos que lutam pelo direito de permanecer em suas comunidades. “Precisamos ser ouvidos” foi uma das frases mais pronunciadas nas atividades das pastorais que proporcionaram a partilha de conhecimentos que afirma a resistência.

No segundo dia do Fospa, uma das salas do prédio da universidade que fica às margens do rio Guamá, abriu espaço para a Articulação do Agro é fogo. “Eu falo de um pantanal que tem gente, onde há resiliência e resistência de grupos que lutam para continuar vivendo neste ambiente que é a nossa casa”, disse Cláudia de Pinho (Foto ao lado) da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras do (MS). Ela descreveu a realidade dos incêndios criminosos praticados pelo agronegócio no pantanal entre os anos de 2020 a 2021.  As comunidades além de serem acusadas injustamente estão em situação de vulnerabilidade e o próprio estado contribuiu para esta situação. O professor Maurício Torres (UFPA) foi um dos convidados da roda de conversa. Ele que estuda conflitos a partir da ótica de povos e comunidades tradicionais, apresentou uma pesquisa sobre o aumento do desmatamento do bioma da Amazônia e fez entender as razões e as estratégias da grilagem que se mantém na região amazônica.

No mesmo prédio em outra sala, participantes das comunidades quilombolas do estado do Pará, dialogavam e denunciavam os enfrentamentos aos grandes projetos impostos pelo estado e a ineficiência do INCRA. Um pouco mais ao lado, ocorria mais um espaço em que foram discutidos os desafios da proteção territorial das comunidades indígenas. O professor Lino João, que integra a Equipe de Apoio aos Povos Livres, alertou para o número de povos isolados que são reconhecidos no Brasil, em um total de 117 povos.

A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado partilhou a temática do Ecocídio e a relação com o genocídio dos povos, a conexão que existe entre o Cerrado e a Amazônia. A roda de conversa trouxe informações importantes sobre a conexão, identidade e sustento dos povos que são mantenedores do bioma. O ecocídio que não mata somente os povos, mas toda a forma de vida.  

Para o professor Luiz Fernando Novoa, da Universidade Federal de Rondônia e membro da Rede Jubileu Sul, o décimo Fospa apresentou uma resposta dos territórios de forma ainda mais intensificada aos ataques do modelo neoextrativista e autoritário. “Neste Fospa é forte o grito de basta em especial ao Brasil e é uma frente que precisamos tomar decisões decisivas e pensar nas alternativas da maneira que deve ser estruturada com as comunidades”. Disse o professor Novoa, que considera que a maior lição do Fospa para as pastorais sociais amazônicas é o fortalecimento do perfil territorializado em que o papel das mulheres e jovens com a capacidade de pensar e controlar como movimento e pressionar com ações diretas.

Francisco Alan, coordenador da Comissão da Pastoral da Terra – Regional Pará (CPT-PA), falou das potencialidades do Fórum, que, por ter sido realizado no Brasil em ano eleitoral e em uma conjuntura em que o estado viola os direitos dos povos, foi de extrema importância.  “As denúncias apresentadas aqui foram ouvidas por outros países e estes gritos poderão ecoar em outros parlamentos que podem contribuir para pressionar o governo brasileiro. Além dos gritos, houve sinal de esperança e os povos e comunidades que estiveram aqui saíram mais fortalecidos, renovados porque vale a pena lutar em defesa da vida”.

O evento foi encerrado com a leitura da Carta de Belém, que define o compromisso firmado em X Fospa com a Amazônia e a América Latina. A carta apresenta propostas políticas, ações ambientais definidas para os países Pan-Amazônicos. 

“Exigimos um modelo político, social e económico que dê prioridade à integridade da nossa casa comum, que reconheça e respeite os territórios e o pleno exercício dos direitos dos povos amazônicos e dos direitos da natureza”. Destaque ao primeiro ponto da proposta política da carta de Belém. Como diz o Papa Francisco, ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida e toda vida humana tem um valor inestimável.

Foto: João Vitor 

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