“É imensurável o prejuízo ambiental que o governo Bolsonaro trouxe ao Brasil”, afirmam jovens do MST

Aline Oliveira e Camilo Augusto do Coletivo de Juventude do MST, explicam que no dia Árvore, nesta quarta-feira (21), o MST realiza ações de enfrentamento à crise ambiental e defesa dos biomas em todo o país

Por Solange Engelmann, na Página do MST

Com a política de destruição ambiental desenvolvida pelo Governo Bolsonaro há mais de três anos no Brasil, a cada dia crescem os números do desmatamento, dos crimes ambientais e das diversas violências contra os povos do campo, das águas e das florestas.

Porém, com as eleições deste ano, este é um momento decisivo para o futuro do país e do meio ambiente, pois o futuro do país, da agricultura camponesa e da reforma agrária dependem da recuperação e preservação ambiental.

Com o lema “Reforma Agrária Popular: Plantar o Brasil da Esperança”, no dia Árvore, 21 de setembro, o MST realiza diversas ações de enfrentamento à crise ambiental e defesa dos Biomas em todo o país, com ocupação de territórios, plantio de árvores e denúncia aos crimes ambientais dos/as candidatos/as do agronegócio.

A atividade também faz parte das ações do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, lançado de 2020 com o objetivo de plantar 100 milhões de árvores em dez anos.

“O plano visa chamar a atenção da sociedade para a importância e urgência da inserção do povo trabalhador no debate ambiental e também na construção de alternativas à crise ambiental, uma vez que é o povo que mais sofre suas consequências, e para o Movimento a melhor forma de fazer isso é o exemplo e a prática”, explicam Aline Oliveira e Camilo Augusto, ambos do Coletivo de Juventude do MST e do Plano Nacional Plantar Árvores.

Qual a intenção do MST com as atividade do Dia da Árvore, que ocorrem durante todo o mês de setembro?

As ações que estamos realizando neste mês de setembro tem como objetivos principais chamar a atenção da sociedade para a urgência da luta ambiental. E como estamos na reta final da campanha eleitoral, essas ações também objetivam desmascarar as candidaturas que apoiam e/ou são responsáveis pela aceleração da destruição ambiental e da biodiversidade brasileira, encabeçadas pelo Governo Bolsonaro e evidenciadas nos dados sobre o aumento das queimadas e do desmatamento; assim como as diversas tragédias ambientais que vivenciamos nos últimos anos, que tem conexão direta com o modelo destrutivo do agronegócio, fortalecido por Bolsonaro.

Algumas candidaturas ligadas ao agronegócio tem tentado se desvincular dos crimes ambientais e do desmonte das políticas públicas para camuflar seu projeto de morte e destruição para obter êxito no pleito eleitoral.

Portanto, as ações realizadas pelo conjunto do MST têm como mote desvelar o projeto ambiental de morte do Governo Bolsonaro e de seus aliados.

Quais ações estão previstas pelo país?

O MST está envolvido em distintas ações que dialogam com esse tema, durante todo o mês. Estamos construindo ações de diversos caráter para a semana do 21 de setembro, que é o dia da Árvore e, portanto, tem um significado simbólico por ser uma data comemorativa no calendário nacional. Entre essas há atividades de denúncia dos crimes ambientais e de seus responsáveis, em especial os candidatos neste pleito eleitoral, assim como ações de plantio de árvores que ao anunciar o compromisso do MST com a vida e com o presente/futuro da humanidade. E, por fim, serão realizadas diversas ações com as candidaturas que também assumem o compromisso com a agroecologia e a preservação da vida, juntamente com a preservação da natureza.

Quais os prejuízos da política de destruição ambiental do Governo Bolsonaro para as famílias Sem Terra, indígenas e comunidades tradicionais?

É imensurável o prejuízo ambiental que o governo Bolsonaro trouxe ao Brasil e à humanidade. A destruição do cerrado, o berço das águas, e da Amazônia (principalmente) impactam na regulação climática do mundo.

E a destruição impulsionada por Bolsonaro, tem consequências irreversíveis para a biodiversidade brasileira, pois o projeto de destruição, sobretudo, na Amazônia acarreta consequências em todos os biomas brasileiros, pois os biomas são interligados.

O governo Bolsonaro com suas políticas agrediu a existência, as condições de vida e a permanência nos territórios, das famílias Sem Terra, indígenas, quilombolas e tradicionais. Este governo impulsionou a abertura de caminhos para a expansão das fronteiras de exploração agrícola e mineral de forma predatória sobre novos territórios que estavam fora do alcance jurídico e do domínio do capital, o que é facilmente observável nas movimentações legislativas, em relação à regulação fundiária, que visa legalizar terras usurpadas da União pelo agronegócio.

E em relação aos ataques aos territórios e contra os povos indígenas?

Há uma tentativa de aprovação da tese do marco temporal, que tem como objetivo angariar terras indígenas para a exploração do agronegócio e das mineradoras, sem mencionar a escalada de violência contra os povos do campo, em especial os povos das florestas (caso dos Guarani kaiowá e ianomâmis).

A sanha desses setores pelos territórios ocupados por esses sujeitos populares, tem incrementado a violência em suas distintas dimensões, além de terem sequestrado o Estado brasileiro e algumas instituições públicas para que estes atuem somente em favor dos interesses do capital, em detrimento dos povos do campo, acabando com políticas públicas importantes como o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] e o PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar].

O aumento dos conflitos no campo é resultado da política de destruição das comunidades camponesas em nome de um projeto capitalista para a natureza. Assim como, a violência contra os ativistas ambientais nesse atual período. E desregulação dos ciclos das chuvas e da complexidade ecológica dos diversos biomas brasileiros pela destruição ambiental dos últimos anos também tem imposto sérios limites à produção camponesa de alimentos saudáveis, o que resulta da forma com que o agronegócio produz e o seu fortalecimento no referido governo.

Relatório Anual do Desmatamento, do Mapbiomas, de julho deste ano comprovou que o agronegócio foi responsável por 97% do desmatamento no Brasil em 2021. Quais os prejuízos disso para o meio ambiente e para o futuro da juventude Sem Terra, que vive nas áreas de Reforma Agrária?

A juventude é a mais atingida pois terá que enfrentar as consequências mais drásticas dessa destruição. Pesquisas indicam que haverá na Amazônia milhões de refugiados climáticos até 2040, os extremos climáticos só se intensificaram e as condições da vida que conhecíamos poderá não mais existir por conta da destruição ambiental. Além disso, cenários pandêmicos serão cada vez mais recorrentes por conta do desequilíbrio ambiental e este contexto apocalíptico será vivenciado pela juventude, que vem sendo podada nas perspectivas de um futuro plural e popular..

O Governo Bolsonaro acelera essas contradições ao limitar a ação popular organizada e ao tornar a impunidade uma norma para os latifundiários, colocando em risco a reprodução da vida nas comunidades tradicionais e assentamentos, uma vez que estes são os territórios que estão no centro da disputa pela Terra, ficando atrás somente das Terras Indígenas e reservas florestais.

Os assentamentos e as comunidades tradicionais são territórios importantes para reprodução da vida e, sobretudo, da juventude Sem Terra e camponesa, pois são locais de luta e resistência, como também guardiões de práticas milenares de reprodução da vida a partir do respeito e da harmonia entre ser humano e natureza.

Portanto, o avanço do agro-hidro-minero-negócio em terras indígenas, quilombolas e assentamentos da Reforma Agrária é um ataque à existência da juventude.

Levantamento de entidades que acompanham a liberação de agrotóxicos no Brasil, indicam que desde o início do mandato, Bolsonaro já liberou a aprovação de 1.682 novos venenos. Como essa grande quantidade de agrotóxicos usados pelo agronegócio tem afetado os assentamentos do MST, que produzem alimentos em sistemas agroecológicos?

Afeta de distintas maneiras, de acordo com as realidades de cada local, desde a contaminar a água e dificultar a produção sem veneno até matar plantações inteiras pela pulverização aérea feita pelos fazendeiros que são vizinhos dos assentamentos, como também a destruição da complexidade ambiental, como insetos importantes para a polinização dos alimentos, a exemplo das abelhas que têm sido dizimadas por conta do uso intensivo de agrotóxicos.

Há também o adoecimento dos/as camponeses/as, mas, sem dúvida, o maior dano desse aumento dos agrotóxicos é para a saúde da população pobre, que não tem acesso a uma alimentação saudável. Os impactos causados pelo agronegócio afetam toda a população e não só a população do campo, pois campo e cidade estão intrinsecamente ligados.

Qual o perigo das candidaturas de políticos ligadas ao agronegócio nessas eleições para o meio ambiente e o futuro da agricultura familiar e camponesa?

Essas candidaturas reforçaram o projeto de destruição ambiental, orquestrado pelo grande capital, assim como a perca ainda maior dos direitos e das políticas públicas para os povos do campo. Para o meio ambiente o risco é de devastação desenfreada da biodiversidade, pois essas candidaturas naturalizam que o “progresso” perpassa pela destruição dos biomas para o avanço da produção de commodities, mito que já foi derrubado há décadas, mas utilizado ainda hoje como justificativa.

O êxito dessas candidaturas trarão efeitos históricos e irreversíveis para o conjunto da sociedade. O agronegócio e o meio ambiente não se reproduzem em harmonia, o agronegócio é destruidor da biodiversidade e um dos causadores do cenário pandêmico e de catástrofes climáticas.

Só a agricultura familiar camponesa e a Reforma Agrária Popular, através da matriz tecnológica da agroecologia, são capazes de reestabelecer o equilíbrio das relações entre o ser humano e a natureza.

Quais ações o MST vem desenvolvendo nos territórios de Reforma Agrária para combater o desmatamento e garantir a produção de alimentos?

Os camponeses historicamente estabeleceram uma relação de convivência harmônica com a natureza, respeitando seus ciclos e tempos e se adaptando a eles, por isso as práticas agrícolas impulsionadas pelo MST visam sempre o respeito a essa relação histórica de convivência.

O movimento debate e constrói a muito tempo a agroecologia que é a matriz tecnológica de produção alternativa ao agronegócio, e, em 2020, deu um salto de compreensão sobre a amplitude do tema ambiental ao lançar o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, que assumiu o desafio de plantar 100 milhões de árvores em 10 anos.

O plano visa chamar a atenção da sociedade para a importância e urgência da inserção do povo trabalhador no debate ambiental e também na construção de alternativas à crise ambiental, uma vez que é o povo que mais sofre suas consequências, e para o movimento a melhor forma de fazer isso é o exemplo e a prática.

A partir de então, impulsionamos a construção de viveiros de mudas, chegando a mais de 100 no país, impulsionamos a produção em sistemas agroflorestais, fizemos recuperação de nascentes. Tudo isso dialogando com a luta pela terra e a necessidade da Reforma Agrária Popular para que os problemas sociais e ambientais sejam resolvidos através de uma alternativa popular.

*Editado por Wesley Lima

Plantio de árvores por crianças e jovens Sem Terra do assentamento Sezinio Fernandes de Jesus, ES, setembro 2021. Foto: MST/ES

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