De Olho nos Ruralistas e Fase lançam relatório sobre o “discurso verde” do agronegócio

Publicação “O Agro não é verde” mapeia as associações que atuam no lobby do setor e desmente narrativas sobre o agro brasileiro ser o mais sustentável do mundo; relatório será lançado durante debates em Recife e no Rio de Janeiro

Por Bruno Stankevicius Bassi, em De Olho nos Ruralistas

Daqui a menos de um mês, a cidade portuária de Sharm El Sheikh, no Egito, sediará a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27). Ali, entre 06 a 18 de novembro, estarão reunidos líderes políticos e ambientais de todo o mundo, para debater as metas de combate às mudanças climáticas.

O evento marca a terceira participação do Brasil em COPs desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Nesse período, o país assistiu ao esfacelamento das políticas ambientais e registrou recordes nos índices de desmatamento e queimadas. Os últimos anos foram marcados também pela “boiada” promovida por Bolsonaro e pelo ex-ministro Ricardo Salles — eleito deputado federal no dia 02 —, que levou o país do status de líder no debate climático a pária internacional.

No vácuo da diplomacia brasileira, quem ganhou espaço foi o agronegócio. Reagindo à crescente demanda dos mercados internacionais, as principais associações representativas do setor agropecuário passaram a interferir diretamente nas ações do Estado brasileiro, promovendo uma agenda legalista e ideológica que ignora o desmonte socioambiental vivido nos últimos quatro anos. Os mesmos atores que dizem “jogar dentro das regras” ou que “não podem sofrer embargos pelas irregularidades cometidas por malfeitores” são aqueles que mantêm pouco ou nenhum controle sobre as cadeias de fornecimento, enquanto defendem no Congresso a flexibilização do Código Florestal.

Essa história é contada em detalhes no relatório “O agro não é verde: como o agronegócio se articula para parecer sustentável“, fruto da parceria entre o observatório De Olho nos Ruralistas e a ONG Fase.

A publicação foi lançada na última sexta-feira (14), em Recife, em um debate promovido na sede do Movimento de Trabalhadores Cristãos (MTC-PE). Um segundo encontro será realizado hoje, dia 17, no Rio de Janeiro, no espaço Raízes do Brasil.

Ao longo de seis meses, a equipe do De Olho nos Ruralistas mapeou páginas institucionais, notas de posicionamento, releases, publicações, campanhas publicitárias, redes sociais, arquivos de jornais, revistas e entrevistas de dirigentes de 49 associações do complexo agroindustrial, buscando a recorrência de termos relacionados ao discurso de ambientalização. Dessa filtragem inicial, foram identificadas as principais narrativas e estratégias do agronegócio relacionadas a políticas climáticas, à disputa por recursos, fundos e fontes de financiamento, a alianças com ONGs ambientalistas e inserções midiáticas. Assim, foram selecionadas treze organizações com atuação mais incisiva nas últimas seis edições da Conferência das Partes — da COP22 (Marrakesh, 2016) à COP26 (Glasgow, 2021) —, que serviram de base para a publicação.

Elas foram divididas em quatro grupos: o pragmático-reformista, formado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e Indústria Brasileira de Árvores (Ibá); o pragmático-ideológico, liderado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sociedade Rural Brasileira (SRB), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), entre outros; o negacionista-ideológico, composto por organizações alinhadas a Bolsonaro, como a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec); e o de organizações com foco temático, como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Em comum, as treze organizações participam ativamente no lobby ruralista em Brasília, por meio do Instituto Pensar Agro (IPA), principal braço logístico da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

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