Estudo analisa indicadores sociais e comprova que, ao contrário do que promete, garimpo impede progresso social
Por Murilo Pajolla, no Brasil de Fato
Acabar com o garimpo ilegal é uma propostas do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Amazônia. Os defensores da atividade dizem que a mineração gera riqueza e aumenta a qualidade de vida da população. A realidade, porém, é justamente o contrário.
Um estudo do Instituto Socioambiental (ISA) mostra que as consequências vão além da devastação ambiental e da violação de direitos humanos, especialmente de povos indígenas. O ISA comprovou que o garimpo ilegal derruba os indicadores sociais das regiões afetadas.
A expansão do garimpo ilegal no bioma foi uma das marcas do governo de Jair Bolsonaro (PL). O presidente estimulou a atividade, com o discurso de que a riqueza mineral do solo deve ser apropriada pelos habitantes da Amazônia, que concentra mais de 90% das áreas de garimpagem no país.
Entenda o impacto social do garimpo
A média do Índice de Progresso Social (IPS) dos municípios com garimpo na Amazônia é 52,4, menos do que a média para a Amazônia, que é 54,5, e bem abaixo da média nacional, de 63,3.
O Índice de Progresso Social é um indicador internacional que leva em consideração três dimensões: “necessidades básicas de sobrevivência”, “fundamentos do bem-estar” e “oportunidades”.
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“Onde há garimpo, o impacto negativo faz com que municípios e governos estaduais acabem tendo gastos públicos adicionais para lidar com a degradação ambiental, a desconfiguração dos recursos hídricos, o uso intensivo de mercúrio e a sonegação de impostos”, diz Antônio Oviedo, pesquisador do Instituto Socioambiental e um dos autores do estudo.
A ex-garimpeira que tenta tirar famílias da mineração ilegal
Maria do Rosário é integrante da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), organização social ligada à Igreja Católica, e vive em um dos polos de extração ilegal de ouro no Brasil, o município de Itaituba, no Pará.
Ela contou ao Brasil de Fato que chegou a trabalhar no garimpo quando veio do Maranhão, mas logo abandonou a atividade. Hoje, ela faz trabalho social com famílias pobres que dependem do garimpo para sobreviver e luta para que elas deixem a atividade.
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“A economia de Itaituba é ouro e minério. A cidade não dispõe de emprego para todo mundo. Não tem saneamento básico, nem estação de tratamento de esgoto. Tem um lixão a céu aberto a 17 km da cidade. Infelizmente esse lixão vem contaminando a malha dos córregos e trazendo todo resíduos de contaminação para o rio Tapajós”, afirma.
Empresários lucram alto
Para muitas famílias, a extração de ouro é a única alternativa à pobreza e à miséria. Maria do Rosário diz que a mineração ilegal gera sim muita riqueza, mas apenas para os grandes empresários do garimpo.
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“Muitos garimpeiros não têm sequer casa para morar. Moram em casa alugada ou vivem em barracos. E, quando chegam com o ouro do garimpo, a venda não dá para comprar uma casa para morar. Por aí se vê que [o garimpo] não dá lucro. Já os donos das dragas [balsas de garimpo ilegal], esses têm casa, têm mansão, têm fazenda”, afirmou.
Edição: Nicolau Soares
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Garimpo de ouro na região do Alto Tapajós, na Amazônia paraense. O ouro é extraído nos ‘baixões’ – áreas de várzea próximas a igarapés, onde o minério lavado pelas chuvas se acumula. O desmatamento e a contaminação e assoreamento dos igarapés são alguns dos impactos da exploração. Foto: Gustavo Basso /National Geographic