“Quando alguém fala a palavra Braskem, dá vontade de chorar”: o impacto do crime da Braskem na educação de Maceió

Por Géssika Costa e Jean Albuquerque*, no Observatório da Mineração

Se Cláudia Santos, 46, mãe de Graziele de Oliveira, 13, soubesse o que aconteceria semanas depois da filha ter iniciado o ano letivo, o álbum de fotografias da estudante guardaria as últimas memórias do colégio que a acolheu ainda nos primeiros anos de vida.

“Era uma extensão da minha casa. Foi um corte muito brutal para a minha filha. Quando soube que ia ter que sair da escola, ela chorou muito e disse que ia ficar na escola. Tivemos que explicar a ela que precisávamos tirá-la de lá e que também iríamos nos mudar. Pensei que fôssemos desabar de vez. Hoje, ela se emociona por tudo e diz estar triste. Quando alguém fala a palavra Braskem, dá vontade de chorar, eu não gosto”, desabafa Santos.

O clima de incerteza na vida de Graziele e Cláudia começou no sábado, 3 de março de 2018, quando um tremor de terra com magnitude 2,5 na escala Richter foi registrado em vários bairros da cidade. Para alguns, parecia o fim do mundo. Paredes racharam, parte do asfalto cedeu e buracos apareceram no piso de dezenas de imóveis. Prédios, casas e estabelecimentos comerciais foram esvaziados, sob orientação da Defesa Civil de Maceió, assim como escolas.

Apenas um ano e dois meses depois, em maio de 2019, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apresentou à sociedade um laudo conclusivo revelando a principal causa do surgimento das rachaduras: a atividade de mineração na extração de sal-gema da bilionária Braskem. A retirada do material, um tipo de cloreto de sódio utilizado na fabricação de soda cáustica e do plástico PVC, foi feita de forma inadequada pela mineradora por décadas, desestabilizando as cavernas subterrâneas que já existiam nos bairros e provocando o afundamento do solo. Além do Pinheiro, os bairros Mutange, Bebedouro, Bom Parto e parte do Farol também foram afetados.

A empresa ainda não assumiu oficialmente a culpa. Mas, de maneira contraditória, criou e executa o Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação, o PCF, fruto de um acordo com as autoridades alagoanas e federais. A iniciativa faz a mudança dos afetados pela empresa para outros imóveis e paga indenização por danos materiais e morais, mas é criticada por moradores e comerciantes devido ao baixo valor das indenizações.

A região foi quase totalmente evacuada, tornando-se uma área fantasma na capital. Cerca de 57 mil pessoas foram afetadas, de acordo com o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem.

Neste mês, o patrocínio milionário da Braskem para o “reality show” BBB 23, da Globo, vendendo uma imagem “sustentável”, gerou reações entre os alagoanos. Nos últimos anos, a Braskem, que é do grupo Odebrecht, rebatizado de Novonor, também foi uma das estrelas da bolsa de valores brasileira, registrando ganhos multibilionários para os acionistas. Além disso, a Braskem se tornou dona dos bairros afetados pela empresa, com lucro imobiliário altíssimo, como o Observatório da Mineração detalhou em matéria de 2021.

As consequências geradas pelo crime ambiental, porém, atingiram ainda outras frentes: ruas e avenidas foram totalmente fechadas; hospital psiquiátrico, desativado; cemitério, interditado e até o campo do CSA (Centro Sportivo Alagoano), time que jogou recentemente a série A do Brasileirão, realocado.

Todos esses equipamentos já foram ou serão indenizados pela Braskem, mas há uma área em que os prejuízos são incalculáveis: a educação.

Foto: Edilson Omena /Tribuna Hoje

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