Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis do MST chega a 10 milhões de árvores plantadas em 2022

Também estão em funcionamento mais de 300 viveiros de mudas pelo país, confira na entrevista das dirigentes do MST balanço desse período e as projeções pro próximo período

Por Solange Engelmann, na Página do MST

Para intensificar a recuperação ambiental, conjuntamente com a potencialização na produção de alimentos saudáveis e diversos nos territórios da Reforma Agrária pelo país, em 2020 o MST criou o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, com a meta de plantar 100 milhões de árvores em dez anos.

Há três anos as famílias Sem Terra tem plantado mudas de árvores nativas, frutíferas, ornamentais, hortaliças, medicinais, entre outras; nas escolas do campo, cooperativas, centros de formação, praças, avenidas e cidades; construindo uma rede de viveiros da Reforma Agrária e recuperando áreas degradas, encostas rios, córregos e nascentes de água.

Bárbara Loureiro, da coordenação do Plano, explica que após este período de organização, enraizamento e planejamento, juntamente com a produção de comida nos territórios do MST: “10 milhões de árvores foram plantadas. Entre árvores nativas e frutíferas nos diversos biomas, e com mais de 300 viveiros de mudas, em funcionamento.”

Nesse sentido, Aline Oliveira, do coletivo de juventude do MST e do Plano Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, avalia que no último ano o Plano avançou na formação sobre a crise ambiental, nas denúncias dos conflitos socioambientais e de empresas que destroem o meio ambiente e na geração de renda para as famílias Sem Terra nos territórios, com destaque para o protagonismo das escolas do campo e da atuação constante da juventude Sem Terra.

“A juventude Sem Terra tem atuado como anunciador do nosso projeto, avançado no diálogo com a sociedade, sobretudo, e nas denúncias e apontado experiências que reúnem os cuidados com os bens comuns a partir dos viveiros, mas também com a geração de renda”, pontua.

Confira a entrevista na íntegra com o balanço do Plano Nacional e o desafios para o próximo período:

Qual o balanço de 2022 em relação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis?

Bárbara: Chegamos ao terceiro ano do nosso Plano, após um longo tempo de organização, enraizamento e planejamento, junto com a produção de comida, com 10 milhões de árvores plantadas. Entre árvores nativas e frutíferas nos diversos biomas, e com mais de 300 viveiros de mudas, em funcionamento. Viveiros que dialogam com a realidade concreta das nossas áreas e produzem mudas nativas, frutíferas, de hortaliças, ornamentais, relacionadas à organização das cadeias produtivas nos nossos territórios.

Também em 2022 a gente construiu importantes processos de formação: teórica, prática e organizativa, sobre a questão ambiental, a agroecologia, a Reforma Agrária Popular. E o Plano se reafirma como uma ação intersetorial da nossa organização, com ações importantes desenvolvidas pelos setores de educação, formação, gênero, juventude, nas escolas do campo, os coletivos de juventude, que protagonizaram jornadas e ações de importância ambiental, na denúncia dos crimes ambientais, defesa dos nossos territórios e biomas.

Chegamos no balanço de 2022 com a mística do plantio enraizado, com cada vez mais nosso movimento compreendendo que plantar árvores é um símbolo político desse momento histórico

Aline: Em 2022, o Plano aponta o avanço na formação sobre a crise ambiental, tanto desvelando as causas e consequências, como as falsas ‘soluções verdes’ apontadas pelo capitalismo pra saída dessa crise, que é consequência dos modos de produção e de exploração do capitalismo aos bens naturais. Segundo os especialistas, são necessário medidas urgentes pra questão ambiental. E o Plano Nacional é uma solução, baseada nos saberes, as vivências e resistência, dos povos tradicionais camponeses, assentados, indígenas e quilombolas, que aprenderam a partir do seu processo histórico de ocupação territorial a manejar cada bioma, a cuidar da biodiversidade. A formação foi de suma importância, tanto pra reafirmar a importância do que é o Plano não só pro conjunto do MST, mas pra toda sociedade.

Identificar, desvelar também cada conflito socioambiental em cada bioma, como eles se adentram no território, também foi um avanço nesse período e a denúncia. Sobretudo, a juventude Sem Terra na jornada de junho, do meio ambiente apontou inúmeros conflitos socioambientais, de empresas que causam danos ambientais catastróficos e que continuam impunes, como também os governos.

A política têm ‘passado pano’ pras empresas ditas ‘verdes’, mas que continuam destruindo a biodiversidade e expulsando povos dos territórios e explorando nossos bens naturais”

Podem comentar sobre as principais experiências desenvolvidas pelo Plano em 2022 e sua importância para a Reforma Agrária no país?

Bárbara: As principais experiências exitosas em 2022 estão relacionadas com o a produção de alimentos e a possibilidade concreta de geração de renda pras famílias, que passam por toda essa organização produtiva. De ter organizado os processos de coleta de sementes e de pensar, organizar e implementar as agroflorestas nas suas mais diversas formas. Seja os sistemas agrocerratense, agrocaatinga, quintas agroflorestais, na diversidade dos nossos biomas e regiões, vinculados também a processos de agroindustrialização e de comercialização com as famílias.

São experiências que reforçam a importância da Reforma Agrária Popular pra defesa e cuidado com os bens comuns”

Aline: Destacamos as agroflorestas a partir da especificidade de cada bioma, dos diversos viveiros que temos espalhados, que são salvaguarda da biodiversidade de cada bioma e também dos saberes que cada povo, cada território guarda. E também apontamos as experiências desenvolvidas pela juventude Sem Terra nesse período, os viveiros, que tem apontado os seus usos múltiplos e acoplado o debate da questão ambiental e desvelado seus conflitos.

Mas, sobretudo, também da geração de renda, como os viveiros são locais de experiências produtivas, que geram renda e empoderem a juventude Sem Terra nos territórios”

Outro elemento importante são as experiências das escolas nos nossos territórios, que tem contribuído desde a reformulação do seu currículo, das análises a cerca dos conflitos socioambientais, mas também o avanço na produção, com experiências produtivas, pensando a particularidade de cada território, cada bioma onde está inserida.

Como as ações desenvolvidas pelo Plano tem avançado na recuperação ambiental e produção de alimentos nos territórios da Reforma Agrária?

Bárbara: Avançamos no debate da recuperação ambiental e da produção de alimentos, mas sobretudo, no nosso entendimento coletivo, de que estamos construindo um processo de recuperação ambiental com gente no território, com participação, do nosso povo decidindo e construindo esse processo e com quatro premissas muito importantes: a primeira, gerar qualidade de vida pras famílias e os sujeitos que constroem a Reforma Agrária Popular no cotidiano; segundo, a produção de comida diversificada a partir do plantio de árvores, nativas, frutíferas; terceiro, o cuidado com a água, a recuperação das nossas nascentes, beiras de rios e de córregos. E o quarto elemento, o da possibilidade de geração de renda das famílias a partir do plantio.

Como tem sido a atuação da juventude Sem Terra para o avanço do Plano e da Reforma Agrária Popular?

Aline: A juventude Sem Terra tem atuado tanto como anunciador do nosso projeto, avançado no diálogo com a sociedade, sobretudo, com as denúncias, nas jornadas com o mote da questão ambiental como tema chave, e apontado experiências que reúnem os cuidados com os bens comuns a partir dos viveiros, mas também com a geração de renda.

A juventude Sem Terra tem sido o grande polinizador do Plano Nacional dentro dos territórios e fora deles, e se colocado como uma vanguarda muito importante, sobretudo, o que corresponde um tema delicado pra juventude. Em um período em que os governos tem falhado nos cuidados como os bens comuns, que eventos extremos da questão ambiental tem se colocado com um tema que permeia a juventude, a juventude Sem Terra tem hoje um papel primordial em anunciar um futuro popular, que tem biodiversidade, complexidade ambiental, um projeto de sociedade de democratização da terra, mas também a guarda da natureza como elemento chave pras gerações futuras.

Enquanto a juventude que não está organiza, a juventude urbana e de outros movimentos tem apontado insegurança em torno do futuro, por conta da questão ambiental, a juventude Sem Terra tem apontado horizontes coloridos, com biodiversidade, novas relações entre ser humano-natureza, com produção de alimentos saudáveis, bens naturais cuidados e zelados e com partilha coletiva”

Como as experiências do Plano tem contribuído para o avanço da Reforma Agrária Popular pelo país?

Bárbara: Sobretudo, porque a concepção e o caráter do nosso Plano enraízam a nossa síntese, que é democratizar o acesso à terra pra produção de alimentos saudáveis e o cuidado e recuperação dos bens comuns da natureza.

O Plano pauta que a Reforma Agrária Popular é uma necessidade estrutural da sociedade, da gente ter comida saudável, ter uma natureza conservada e cuidada também”

Que desafios permanecem para o enraizamento do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis no próximo período?

Aline: O desafio da intersetorialidade é um ponto chave. O Plano precisa ser abraçado por todos os setores, todos os sujeitos Sem Terra, porque anuncia um projeto de futuro, não só pro MST, mas pro conjunto da classe trabalhadora. Precisa ser transversal a todas as nossas atividades do MST, transversal em todas as atividades dos nossos setores pra que possa se enraizar e ser, cotidianamente cuidado, zelado nos nossos territórios.

Também precisa avançar nos nossos coletivos pra coleta de sementes, coletivos de agroflorestas, coletivos dos viveiros.

Precisamos formar e constituir diversos coletivos, em que nossos sujeitos se observem como polinizadores desse projeto, que está dentro da Reforma Agrária Popular, mas que abarca o conjunto da sociedade a partir das nossas ações”

Nesse período precisamos avançar na nossa organicidade, nos coletivos regionais, coletivos nas brigadas, coletivos estaduais. No entendimento de que plantar árvores é plantar a vida. E também da anunciação de um futuro coletivo e possível a partir do cuidado com o meio ambiente, com os bens naturais, mas também de uma nova relação entre ser humano e natureza.

Bárbara: Enquanto organização, não podemos nos afastar da imensidão da tarefa que está colocada coletivamente. É importante destacar três elementos e desafios que precisamos se atentar no próximo período. O primeiro, é a compreensão do plantio de árvores como uma dimensão produtiva, que gera renda, produz comida saudável pras nossas famílias e pra sociedade.

É muito importante que as nossas cooperativas, associações, escolas das campo, centros de formação, as escolas de agroecologia, sejam referências políticas e técnicas nos estados, regiões, nos biomas, com viveiros, agroflorestas e metas de plantios”

Um segundo elemento é da importância de defender os bens comuns e, cada vez mais, denunciar as ações do capital, de privatização, exploração da natureza e dos nossos territórios. E o terceiro é da ampliação da relação com a sociedade em um processo contínuo de articulação e posicionamento da concepção popular que a gente está construindo sobre a questão ambiental, que não é pautada nas soluções de mercado, mas sim a partir da história, da necessidade da classe trabalhadora, do povo vivo, floresta em pé e comida no prato.

*Editado por Fernanda Alcântara

Plantio na semana da árvore, no assentamento Eldorado, Bahia. Foto: Euzebio Odair Vanderleia e Keila Dalepiane

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