O presidente Lula chegou na noite desta 4ª feira (12/4) a Xangai para a primeira parte de sua visita oficial à China, uma das viagens mais aguardadas da nova gestão. Na cidade, o líder brasileiro participará da cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff no comando do New Development Bank (NDB), banco multilateral criado no âmbito do BRICS.
A visita de Lula à China é o passo mais significativo para a reaproximação diplomática entre os dois países, que passaram os últimos quatro anos distantes por conta de desentendimentos políticos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A pauta de discussão é extensa, abrangendo desde a intensificação das trocas comerciais e de investimentos bilaterais, a reorganização da governança global e, claro, os esforços das duas nações na luta contra a crise climática.
“[Lula] provavelmente continuará buscando maneiras de aumentar as exportações de carne bovina congelada, soja, minério de ferro e petróleo bruto para o enorme mercado chinês. Ao mesmo tempo, é provável que ele exija que a China faça mais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e responsabilize as empresas estatais chinesas que operam no Brasil por prejudicarem o meio ambiente”, especulou Leland Lazarus, da Universidade Internacional da Flórida (EUA), à Deutsche Welle.
A questão climática é um dos chamarizes da viagem de Lula à China, vista como mais um passo na retomada do protagonismo brasileiro nessa agenda. “A viagem de Lula à China pode lançar os alicerces de uma aliança estratégica na área do clima, baseada em interesses nacionais convergentes neste tema, que dará ao presidente brasileiro a oportunidade de um début de enorme impacto”, escreveu Winston Fritsch (CEBRI) no Valor.
Em termos práticos, no entanto, não se espera acordos substanciais entre Lula e o chinês Xi Jinping na seara climática. Como assinalado por Leonardo Trevisan, professor da ESPM, ao Estadão, espera-se entendimentos pontuais principalmente relacionados à produção de carros elétricos, à construção do satélite CBERS-6 (para o monitoramento do desmatamento) e assuntos ligados à indústria de semicondutores.
Uma possibilidade mais substancial seria a aproximação do Brasil com a Belt and Road Initiative (BRI), conhecida como a “Nova Rota da Seda”, que impulsionou investimentos chineses em obras de infraestrutura ao redor do mundo. A BBC Brasil informou que autoridades chinesas esperam que o governo brasileiro faça alguma sinalização de interesse na iniciativa, o que poderia abrir novos investimentos de Pequim no país. No entanto, pelo lado brasileiro, ainda há incerteza sobre essa possibilidade, especialmente para não melindrar o diálogo com os Estados Unidos, adversário geopolítico da China.É exatamente o vespeiro da geopolítica que coloca os maiores obstáculos a uma aproximação mais clara entre Brasil e China. “Diante do embate por hegemonia entre EUA e China, nem alinhamentos automáticos e nem posições ideológicas funcionarão para o Brasil”, argumentou Jamil Chade no UOL. “Navegar nessa transformação global será o maior desafio da política externa brasileira nos próximos anos. Mas também uma oportunidade para catapultar a diplomacia para promover uma política de desenvolvimento social e econômico que redefina o destino do Brasil”.
–
Ricardo Stuckert / Presidência da República