Raoni e lideranças indígenas cobram extinção da tese do marco temporal

ClimaInfo

O “Chamado do Raoni” terminou na última 6ª feira (28/7), após uma semana de debates entre centenas de indígenas de todo o país. O principal resultado do encontro – promovido pelo cacique Kayapó Raoni Metuktire, de 93 anos, referência histórica indígena e que representou os Povos Originários na posse do presidente Lula – é um manifesto no qual 54 Povos Indígenas do Brasil pedem que o Estado brasileiro se posicione concretamente contra o marco temporal até 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas. Além disso, cobra ações contra os impactos das mudanças climáticas e pela aceleração da demarcação de Terras Indígenas.

No final de maio, um “trator ruralista” pilotado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aprovou a tese, que entrou na pauta da casa em regime de urgência. Dias depois, em junho, o Supremo Tribunal Federal (STF) retomou o julgamento sobre o marco temporal, mas um pedido de vista do ministro André Mendonça interrompeu a análise da Corte. Na prática, reforça a Folha, a tese restringe a demarcação das TIs, ao estabelecer que só podem ser homologadas terras ocupadas pelos povos originários até a promulgação da Constituição, em outubro de 1988.

“Nossos ancestrais há muitos anos vêm avisando que a saúde da terra não é responsabilidade só nossa, ela é responsabilidade de todos, se o céu cair, a terra incendiar e as águas subirem, todos nós iremos morrer. Não há dinheiro que compre outro planeta”, diz um trecho da carta, destacado pela Carta Capital.

Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) estima que, se o marco temporal for aprovado, de 230 mil a 550 mil km² de áreas nativas serão desmatadas na Amazônia Legal. Isso equivale aos territórios de Rondônia e da Bahia, respectivamente. O desmate levaria à emissão de até 18,7 bilhões de toneladas de CO2 – nada menos que 14 anos das emissões atuais do Brasil.

O presidente Lula era esperado no “Chamado do Raoni”, que aconteceu na aldeia Piaraçu, na TI Capoto-Jarina, região do Alto Xingu. Por problemas de saúde, não pôde ir. Por isso, o governo federal foi representado pelas ministras do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e pela presidente da FUNAI, Joenia Wapichana. A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG) também participou do encontro, informa o Correio Braziliense.

Em entrevista a’O Globo, Raoni lembra o estímulo à violência contra indígenas promovido pelo governo Bolsonaro, que também tentou criar desavenças e conflitos entre os próprios indígenas. Mas, para o Cacique, o abandono se originou no governo Temer, “que começou a incentivar as pessoas a terem ódio nos Povos Indígenas”. Com Lula, surgiu a oportunidade de solucionar os problemas. Mas, para isso, era preciso definir uma pauta de luta consistente – o que estimulou a realização do “chamado”.

“Quando o Lula entrou como liderança do país depois dessa pessoa que só discursava o ódio, daí eu pensei, né? Essa é a oportunidade de juntar várias lideranças no Brasil para discutir sobre nós mesmos, o assunto, a causa dos Povos Indígenas e do meio ambiente para poder fortalecer essas lutas e também nos empoderar, ter uma união para enfrentar qualquer tipo de ameaça que nós possamos receber. Ou seja, preparar nossa estratégia de poder se proteger do que vem por aí”, finaliza Raoni.

Personalidades mundiais manifestaram apoio ao “Chamado do Raoni” e à luta dos Povos Indígenas do Brasil. O rei Charles III, do Reino Unido, enviou carta a Raoni dizendo que sua voz “tem sido fundamental no Brasil, e no mundo, em esforços para preservar a Amazônia e em seu apoio aos direitos de todos os Povos Indígenas”, relatam Agência BrasilO Globog1Metrópoles e Veja. Já o cantor britânico Sting e sua esposa, a atriz Trudie, enviaram um vídeo ao cacique, agradecendo por sua luta pela preservação florestal e celebrando a forma como Raoni mantém sua “unidade espiritual e integridade cultural”, segundo O Globo.

Sting e Raoni se conheceram no final dos anos 1980, quando saíram em turnê pelo mundo para denunciar a destruição da floresta e o descaso brasileiro com os Povos Indígenas. Passados quase 40 anos, o cenário mudou pouco.Em tempo 1: O cacique Raoni Metuktire deve ser sucedido por um grupo de lideranças indígenas que o acompanha para que deem continuidade ao seu trabalho, contou Beptuk Metuktire, neto do líder Kayapó, ao g1. “Raoni não tem como parar e vai continuar até onde for, mas ele quer mostrar quem pode continuar nessa luta. Ele não vai escolher uma só pessoa, ele quer escolher um grupo para o suceder. São, por exemplo, o cacique Megaron Txucarramãe, que já andou muito com ele e sabe lidar com o sistema do homem branco. Tem também os caciques Bedai e Pekan, além de Puyu e Belmoron, e outras pessoas fora do território”, disse Beptuk.

Lucas Ramos / IPAM / Divulgação

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