Justiça declara inconstitucional lei de Ilhabela (SP) que extinguiu reserva extrativista Baía dos Castelhanos

Ação que gerou acórdão do Tribunal de Justiça de SP teve origem em manifestação do MPF, do MPSP e de entidade caiçara

Ministério Público Federal em São Paulo

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) declarou inconstitucional a lei municipal 1.546/2022 de Ilhabela, que extinguiu a reserva extrativista Baía dos Castelhanos, no litoral norte paulista. A decisão confirma liminar que já havia suspendido a vigência da norma em novembro do ano passado. A ação direta de inconstitucionalidade que motivou o acórdão do TJSP foi ajuizada pela Procuradoria-Geral de Justiça do estado após representação de membros do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) e da Associação dos Moradores da Comunidade Tradicional Caiçara da Baía dos Castelhanos (Amor Castelhanos).

A reserva extrativista foi criada em 2020 não só para garantir os meios de subsistência, a cultura e as tradições da comunidade caiçara local, mas também para assegurar a preservação de uma área de quase 1 milhão de metros quadrados distribuídos em uma faixa de 25 quilômetros de extensão na costa. Em agosto de 2022, o prefeito de Ilhabela, Antônio Luiz Colucci, enviou projeto de lei à Câmara Municipal e conseguiu aprová-lo em menos de 24 horas para revogar o decreto que havia instituído a reserva.

A decisão do TJSP destaca que a lei municipal fere tanto a Constituição Estadual quanto a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a proteção conferida por reservas como a Baía dos Castelhanos. A aprovação do texto ocorreu de maneira açodada, sem a realização de audiência pública para que a população fosse consultada (especialmente a comunidade caiçara que habita a área) nem a apresentação de estudos técnicos que pudessem justificar a extinção da reserva. Segundo o relator do caso, desembargador Jarbas Gomes, a situação torna-se ainda mais inquietante considerando-se a dimensão do patrimônio cultural e ecológico a ser preservado na região.

“A extinção da reserva implicou, a um só tempo, afronta aos princípios da publicidade e da razoabilidade, desrespeito aos requisitos para a produção de lei em casos como o presente – participação popular e prévio planejamento – e violação à garantia de conservação ao patrimônio ambiental, tomado em sua acepção mais ampla”, concluiu o relator.

Além de garantir segurança territorial à comunidade caiçara que vive no local, a reserva abrange o maior remanescente de restinga de Ilhabela e uma extensa área de manguezais. A região contempla três dos cinco ecossistemas reconhecidos como patrimônio nacional pela Constituição Federal – Serra do Mar, Zona Costeira e Mata Atlântica – e é considerada Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o que a transforma em patrimônio natural de importância internacional.

A criação da reserva extrativista Baía dos Castelhanos atendeu a uma antiga demanda das comunidades tradicionais caiçaras de Ilhabela. O MPF participou ativamente do processo que levou ao estabelecimento da unidade desde 2014, quando foram realizadas as primeiras reuniões sobre a regularização fundiária do território.

Íntegra do acórdão do TJSP

Imagem: Baía dos Castelhanos, em Ilhabela – Foto: Sectur Ilhabela

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