Governo Leite desiste de banir ‘O Avesso da Pele’ das escolas do RS

Romance de Jeferson Tenório, vencedor do Jabuti de 2021, deveria ser excluído das escolas de 18 municípios gaúchos

Redação Brasil de Fato

Durou poucas horas a exclusão de O Avesso da Pele, livro de Jeferson Tenório, das escolas de 18 municípios do Rio Grande do Sul. Na sexta-feira (1º), a 6ª Coordenadoria Estadual de Educação anunciou a remoção do romance vencedor do Prêmio Jabuti de 2021 – o mais importante do Brasil – de toda a sua área de atuação. Porém, logo após o escândalo ganhar espaço na mídia, a Secretaria de Educação do RS (Seduc) emitiu nota desautorizando a decisão.

O banimento começou depois de uma diretora de escola de Santa Cruz do Sul (RS) publicar vídeo nas redes sociais atacando o conteúdo da obra por usar o que chamou de “vocabulário de baixo nível”. Janaína Venzon, diretora da estadual Ernesto Alves, criticou o que entendeu ser “vulgaridade” do livro ao descrever cenas de sexo. O volume é destinado para trabalho com estudantes do ensino médio.

Em seguida, ofício firmado pelo coordenador da 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura, ordenou a retirada de O Avesso da Pele das bibliotecas escolares dos 18 municípios do Vale do Rio Pardo e seu entorno.

Inserção é de 2022

Em sentido oposto, a Seduc afirmou que a utilização de qualquer livro incluído no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do MEC, “deve ocorrer dentro de um contexto pedagógico, sob orientação e supervisão da equipe pedagógica e dos professores” e que a 6ª Coordenadoria “vai seguir a orientação da secretaria”.

O Avesso da Pele foi inserido no PNLD ainda no governo Bolsonaro, por meio de portaria datada de 2022, após passar por uma seleção em 2019. O romance foi escolhido pela própria escola Ernesto Alves em 2023 para ser usado em 2024.

Segundo o MEC, “a escolha das obras literárias a serem adotadas em sala de aula é feita pelos educadores de cada escola a partir de um Guia Digital”. Nele estão os livros integrantes do programa para conhecimento de professores e gestores. “São distribuídos às escolas somente após a escolha dos profissionais de educação, realizada em sistema informatizado do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)”.

Krenak, Chico e Djamila

Editora de O Avesso da Pele, a Companhia das Letras divulgou nota onde repara que “para chegar ao colégio em questão, (a obra) ainda precisou passar por aprovação da própria diretora, que assinou o documento de ‘ata de escolha’ da obra e agora contesta o conteúdo do livro”.

A censura motivou uma reação de escritores, artistas e intelectuais contra a medida. Um abaixo-assinado reuniu assinaturas como as de Ailton Krenak, Antonio Fagundes, Andrea Beltrão, Chico Buarque, Djamila Ribeiro, Mia Couto, José Eduardo Agualusa, Zuenir Ventura entre outros.

Forte denúncia contra o racismo, o livro já foi traduzido em 16 idiomas. Em 2021, Tenório foi homenageado pelo governo gaúcho com a Medalha Simões Lopes Neto, condecoração entregue a personalidades que se destacaram no campo da cultura.

Edição: Katia Marko

Imagem: Em suas redes sociais, o escritor disse que é “curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras” – Foto: Alexandre Garcia

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