Ainda à espera de igualdade, mulheres têm desemprego maior e renda menor. Principalmente as negras

Mercado de trabalho melhorou no ano passado, para todos os segmentos, mas ainda revela desequilíbrio

Por Redação RBA

O mercado de trabalho teve melhoras em 2023, atingindo todos os setores, mas a inserção da mão de obra feminina segue sendo um desafio. As mulheres têm taxa de desemprego mais elevadas – embora tenham diminuído – e menores salários. A ponto de o governo aprovar, no ano passado, uma lei, ainda em fase de implementação, de igualdade salarial entre homens e mulheres na mesma função. Elas também são mais atingidas pela informalidade.

Boletim elaborado pelo Dieese para o Dia Internacional da Mulher mostra que o desemprego caiu para 7,4% no último trimestre do ano passado, ante 7,9% em igual período de 2022. Ou menos 490 mil desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. O número de ocupados e o rendimento cresceram.

Desemprego e pandemia

No caso das mulheres, a taxa de desemprego também caiu, mas é de 9,2% (ante 9,8% no último período de 2022). Já a dos homens foi de 6,5% para 6%. Mas no final do ano passado as mulheres representavam mais a metade dos desempregados: 54,3%. E 35,5% eram negras. Assim, a taxa de desemprego entre mulheres negras é bem maior: 11,1%. Entre as não negras, vai a 7%.

“A pandemia também afetou mais as trabalhadoras. Enquanto a participação dos homens voltou ao nível anterior à crise sanitária, elas sentiram mais dificuldades para voltar ao mercado de trabalho e enfrentaram taxas de desemprego mais altas”, lembra o Dieese. “Durante a pandemia, algumas mulheres assumiram tarefas adicionais nos domicílios (como o cuidado de outras pessoas). Outras perderam postos de trabalho em atividades mais afetadas pela crise (comércio, restaurantes e serviços) e, mesmo com a retomada da economia, muitas ainda não conseguiram
se recolocar.”

Do quarto trimestre de 2022 para igual período do ano passado, a ocupação feminina cresceu 1,65% (mais 705 mil mulheres) e a masculina, 1,6% (910 mil homens a mais). Já entre as mulheres negras houve alta de 2,5%, com mais 565 mil ocupadas. Entre as não negras, 0,7% (140 mil).
Dificuldade de inserção

Por outro lado, a taxa de subutilização (pessoas que gostariam de trabalhar mais) é maior entre mulheres negras (7,3%) e homens negros (5%), caindo para 4,8% entre não negras e 3,1% para não negros. “A fragilidade da inserção da mulher negra mais uma vez aparece quando se entende que elas trabalham menos do que gostariam e precisam, com jornadas e salários menores”, aponta o Dieese.

Já o rendimento médio das mulheres (R$ 2.562) no último trimestre de 2023 é 22,3% menor que o dos homens (R$ 3.323). “Entre todas as
ocupadas, 39,9% recebiam no máximo um salário mínimo e, entre as negras, metade ganhava até esse valor (49,4%), enquanto essa proporção era de 29,1% entre as não negras e de 29,8% entre os homens.”

Preconceito e desigualdade

A desigualdade se revela mesmo em cargos de maior remuneração. Quatro de cada 10 pessoas ocupadas como diretoras ou gerentes eram do sexo feminino. Mas elas recebiam 29,5% a menos: R$ 5.900, ante R$ 8.363 pagos aos homens.

“Esses números refletem os preconceitos e desigualdades existentes no mercado de trabalho brasileiro: a dificuldade de se aceitar que mulheres possam comandar; a discriminação e o assédio sofridos pelas trabalhadoras, o que prejudica a permanência delas nos postos de trabalho; os problemas para conciliar os afazeres domésticos e as atividades profissionais”, salienta o Dieese. Em 2022, as mulheres dedicavam quase 17 horas na semana com afazeres domésticos relacionados às famílias. Os homens, 11 horas.

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