Estudo mostra que crianças expostas à poeira da barragem de Brumadinho sofrem mais com doenças respiratórias

Por João Guilherme Tuasco*, Informe Ensp

A poeira dos rejeitos minerais liberados no rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, gerou impactos à saúde de crianças que vivem no município mineiro. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), com participação de uma pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), mostrou que houve 75% mais relatos de alergia respiratória entre as crianças das áreas atingidas pelo pó dos resíduos em comparação com uma localidade não atingida. A investigação revelou que aquelas que viviam nas comunidades expostas apresentaram três vezes mais chance de alergia respiratória que as demais.

O artigo “Alterações respiratórias em crianças expostas à poeira de resíduos de mineração em Brumadinho, Minas Gerais, Brasil: Projeto Bruminha”, publicado no periódico Cadernos de Saúde Pública, investigou a situação em três comunidades atingidas por resíduos de mineração – Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira e Tejuco -, além da comunidade de Aranha, que não teve contato com o material. Segundo a pesquisadora da ENSP/Fiocruz Ana Paula Natividade, o estudo poderá “subsidiar as ações de assistência desenvolvidas pelo SUS nas localidades e está alinhado às pesquisas sobre o impacto produtivo na saúde, realizadas pelo Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz)”. Os dados foram coletados em julho de 2021. Os pesquisadores obtiveram informações sociodemográficas e aplicaram questionários sobre sinais, sintomas e doenças respiratórias. No total, 217 crianças de até 6 anos foram avaliadas.

A faixa etária de quatro anos foi a que mais apresentou casos de comprometimento das vias aéreas superiores, inferiores e de alergias. O artigo aponta algumas explicações. De acordo com os autores, esse grupo “geralmente tem maior acesso ao ambiente externo, o que resulta na maior exposição à poeira”. Das crianças com mais de quatro anos, 68,3% tiveram rinite, sinusite ou otite; 72,2% desenvolveram pneumonia, asma, sibilos ou bronquite, além de 59,4% terem se queixado de alergias. Já crianças de até quatro anos tiveram mais sintomas como dificuldade para respirar e espirros recorrentes.

Além disso, os relatos de problemas foram mais frequentes entre os meninos. Os autores do artigo afirmam que essa predominância pode estar associada “a características culturais dos territórios, que determinam maior acesso dos meninos aos espaços externos e comunitários, por meio de jogos coletivos nas quadras de escolas e associações, praças e campos de futebol”. A pesquisa mostrou ainda que o grupo exposto tem predominância de crianças não brancas.

Quando as informações foram coletadas, dois anos e meio após o desastre ambiental, as crianças das comunidades afetadas permaneciam expostas à poeira podendo conter substâncias tóxicas para a saúde respiratória. A exposição a poluentes atmosféricos é responsável por 7 milhões de mortes prematuras no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.

O rompimento da barragem também gerou mudanças na rotina da população afetada: 89,3% dos moradores de comunidades expostas relataram que precisam limpar com mais frequência suas residências por causa da poeira, 89,4% também indicou que consome água mineral após o desastre e 92,1% afirmam um aumento do tráfego de veículos.

Os dados apresentados no artigo têm como base o Estudo Longitudinal de Saúde Infantil em Brumadinho, coordenado pela Fiocruz Minas, desenvolvido pela UFRJ e financiado pelo Ministério da Saúde. Batizado de “Projeto Bruminha”, o estudo de coorte avalia o impacto desse desastre sobre a saúde das crianças de até 6 anos residentes nas comunidades atingidas ao longo de 4 anos (2021 a 2024).

O artigo tem como autores Renan Duarte dos Santos Saraiva, Aline de Souza Espíndola Santos, Maíra Lopes Mazoto, Carmen Ildes Fróes Rodrigues Asmus, pesquisadores do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ; Volney de Magalhães Câmara, da Faculdade de Medicina da UFRJ; e a pesquisadora da ENSP/Fiocruz Ana Paula Natividade de Oliveira.

Imagem: Reprodução/ Instagram/@ricardostuckert

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