Relatório ressalta o abismo entre políticas ambientais e sociais reivindicadas pelas instituições financeiras – inclusive o brasileiro Itaú – e a destruição que elas financiam na região.
“Faça o que digo, não o que faço”. O dito popular resume a postura de grandes bancos que financiaram bilhões de dólares para empresas de petróleo e gás fóssil envolvidas em projetos que impactam diretamente a Amazônia, desestabilizando o clima ou prejudicando as terras e os meios de subsistência dos Povos Indígenas, enquanto vendem uma imagem de respeito ao clima e ao meio ambiente.
É o que mostra o relatório “Greenwashing na Amazônia”, elaborado pela Stand.earth e a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA). O documento ressalta o abismo entre as políticas ambientais e sociais reivindicadas pelos cinco principais financiadores – Citibank, JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Santander e Bank of America – e a destruição que eles financiam dentro da própria mata, no momento em que a Amazônia se aproxima de um ponto de não retorno. É justamente a queima de combustíveis fósseis que essas instituições insistem em financiar dentro da própria Amazônia que está levando a floresta ao seu limite, ameaçando primeiramente Povos Indígenas, comunidades locais e a biodiversidade, mas, essencialmente, toda a humanidade.
“A maioria desses bancos afirma defender os Direitos Humanos e a proteção ambiental, mas, com exceção do HSBC, eles continuam a financiar as operações de empresas estatais e privadas de petróleo e gás no Brasil, Peru, Colômbia e Equador”, afirma o relatório, em trecho destacado pela Bloomberg e reproduzido por Valor e Folha.
O estudo descobriu que, em média, 71% da Amazônia não é efetivamente protegida pelas políticas de gestão de risco desses bancos para mudanças climáticas, biodiversidade, cobertura florestal e direitos dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais. Eles afirmam seguir políticas éticas, mas a investigação afirma ter encontrado limitações geográficas e técnicas em sua capacidade de monitorar e alcançar esses objetivos declarados, ressalta o Guardian.
As lacunas variam significativamente de banco para banco. Em um extremo está o JPMorgan Chase, cujas proteções de biodiversidade se aplicam apenas a sítios do patrimônio mundial da UNESCO, que cobrem apenas 2% da Amazônia e são improváveis de serem considerados para exploração de petróleo e gás.
Por outro lado, o estudo elogiou o HSBC, que antes era um grande financiador de projetos destrutivos na região, mas que não forneceu nenhum recurso desde que adotou uma política de exclusão 100% Amazônia em dezembro de 2022. “Até agora, o HSBC tem cumprido sua palavra,” disse Angeline Robertson, a principal autora do relatório. “Isso mostra que é possível e já foi feito, mesmo por uma empresa que costumava ter um grande envolvimento.”
Já o brasileiro Itaú Unibanco é o 3º maior financiador de projetos de petróleo e gás fóssil na Amazônia. Segundo o relatório, o banco não possui nenhuma exclusão ou filtro que se aplique a essas operações na região. O banco de dados mostra que o Itaú financiou projetos de Eneva, Frontera, Geopark, Petrobras, Petroquímica Comodoro Rivadavia e Transportadora de Gas del Perú.
Em julho do ano passado, um outro estudo da Stand.earth e COICA já havia apontado o Itaú como um dos principais financiadores de projetos de combustíveis fósseis na região amazônica. Ainda integravam a lista o também brasileiro Bradesco e o Santander, que, embora espanhol, tem forte atuação no Brasil e está no novo relatório.
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Reprodução Relatório Stand.earth