Pesquisadoras debatem como a instalação de grandes empreendimentos de energia impactam nas vidas das mulheres

“Gênero e deslocamentos compulsórios”: Esse foi o tema do Encontro do Círculo de Colaboração, ocorrido na última quinta-feira, 13.

CPT NE2

O que são deslocamentos compulsórios? São processos de mudança social, resultantes da remoção forçada ou do abandono dos territórios originais por ocasião da instalação de projetos de desenvolvimento ou de infraestrutura. Entre esses deslocamentos estão aqueles causados pela instalação de grandes empreendimentos de geração de energia.

Para debater essa temática especificamente pensando na questão de gênero, pesquisadoras de universidades públicas de diferentes estados e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) se encontraram on-line. A programação do evento virtual contou com abertura e duas mesas de discussão.

A primeira mesa teve o tema “Descarbonização justa, abordagem de gênero e a iniciativa Nordeste Potência”. Vanúbia Martins de Oliveira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Campina Grande (PB), esteve ao lado de Tatiane Matheus, do Instituto Climainfo, e Roselma de Melo, da Comunidade Sobradinho, Caetés (PE).

A explanação de Vanúbia abordou os impactos socioeconômicos da transição energética com foco na vida das mulheres.

Além dos problemas mencionados pela agente pastoral e educadora popular em vários eventos, como a apropriação da terra, a migração forçada, os contratos abusivos, dentre outros; também tiveram destaque no debate as violências de gênero, o adoecimento e a retirada das mulheres da capacidade de manter a constância na alimentação familiar e sua fonte de renda.

A camponesa Roselma relatou que são as mulheres que permanecem mais tempo em casa, na comunidade e território e, por isso, sofrem mais cedo os dados causados pelo infrassom, por exemplo.

A gestora de projetos e jornalista Tatiane Matheus apresentou o panorama da transição energética, abordou o racismo ambiental, a interseccionalidade e alguns pontos do documento intitulado “Salvaguardas socioambientais para energia renovável” (assinado por 29 organizações) relacionando essas questões com os direitos violados relacionados ao gênero feminino.

Entre os problemas que atingem especificamente as mulheres mencionados estão as violências de gênero, danos à saúde reprodutiva de pessoas com útero, meninas e meninos (cis e trans), o abandono parental e a perda da terra e do território e dos modos de vida ancestrais, que significam sobrecarga doméstica e social sobre as mulheres etc.

A segunda palestra foi sobre “Cartografia social como instrumento de planejamento”, com a professora e pesquisadora Adryane Goraeyb, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Adryane apresentou um “mapa social do mar”, com objetivo de mostrar o uso intensivo do território marinho pelos pescadores e pescadoras artesanais. O estudo da pesquisadora tem dados de colônias de pesca do Ceará. Sua pesquisa leva em consideração que existem muitos projetos de parques eólicos no mar, zonas de exploração de petróleo e outros possíveis usos no futuro, como mineração.

Em sua fala, Adryane traz questionamentos como quais serão os benefícios das eólicas no mar e como as comunidades irão pescar com as torres girando.

O evento, ocorrido na plataforma Zoom, foi organizado pela FGV EAESP – Centro de Estudos em Sustentabilidade, Climainfo e Plano Nordeste Potência.

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