Em sua 41ª Assembleia, Cimi Regional Leste reafirma seu compromisso com povos indígenas na defesa da Casa Comum

Na Assembleia, o momento foi de avaliar a caminhada dos últimos quatro anos e de celebrar a ampliação das equipes de base atuantes nos estados da Bahia, em Minas Gerais e Espírito Santo

POR CIMI REGIONAL LESTE

Entre os dias 30 de junho e 2 de julho, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Leste realizou, em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, sua  41ª Assembleia. A Assembleia foi eletiva e aprovou, por mais quatro anos, os missionários Haroldo Heleno, Nilton Seixas e Domingos Andrade como coordenadores.

O local do encontro foi escolhido por sua importância regional em razão do Santuário do Bom Jesus e da Romaria da Terra e das Águas, que ocorre no próximo fim de semana, entre 05 e 07 de julho. A Romaria deste ano tem como tema De mãos dadas por justiça socioambiental para salvar a casa comum e é inspirada pelo texto bíblico do profeta Jeremias “Farei uma nova aliança com meu povo” (Jr 31,31).

O local do encontro foi escolhido por sua importância regional em razão do Santuário do Bom Jesus e da Romaria da Terra e das Águas

Na ocasião, doze missionários e missionárias e uma missionária em formação estiveram reunidos por três dias sob a assessoria de Franklim Drumond. A Assembleia foi acompanhada por Luis Ventura, secretário executivo nacional do Cimi e por demais convidados como a Ir. Cleusa Alves, vice-presidente da Cáritas Nacional; a cacica Maria, do povo Kiriri situado no município de Muquém do São Francisco (BA) e de seu companheiro, o pajé Ivo Tapuia-Kiriri. Também participaram da Assembleia a Ir. Daiane Oliveira, da Providência de Gap e o professor Sérgio Ferro, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).

Na Assembleia, os membros do Regional avaliaram a caminhada missionária dos últimos quatro anos na área de abrangência de sua atuação, que inclui parte do estado da Bahia e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Na região, estão presentes cerca de 45 povos indígenas. O encontro missionário também possibilitou uma reflexão sobre os mais de 50 anos do Cimi. O Regional Leste tem o desafio de acompanhar uma grande parte da população indígena do estado da Bahia, a segunda maior segundo o Censo 2022, levantado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Os membros do Regional avaliaram a caminhada missionária dos últimos quatro anos na área de abrangência de sua atuação

Peregrinos do Bem-viver

O tema escolhido para a Assembleia foi “Vivenciando o esperançar junto com os povos indígenas na defesa da Casa Comum”. Ele evidencia o compromisso do Regional que há 46 anos atua na região. Fundado em 1978, o Regional Leste se estendeu por toda a região Nordeste, tendo sua área de atuação redefinida na década de 1990.

Até 1982, os estados que hoje integram o Regional Leste – Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo – faziam parte do Cimi Regional Nordeste.  Após a Assembleia realizada em Vitória, no Espírito Santo, e com a criação do Regional Leste naquele ano, os povos destes estados passaram a ser atendidos por este Regional.

Fundado em 1978, o Regional Leste se estendeu por toda a região Nordeste

Na assembleia, a presença do Cimi na região foi analisada por meio de oito temas norteadores que fazem parte de sua prática, dentre eles: o diálogo interreligioso e ecumênico e a promoção da cultura do Bem Viver. Sua opção evangélica se dá por meio de sua presença sistemática nas terras indígenas, dada a importância da demarcação e do cuidado com o território para a continuidade da vida dos povos indígenas.

Ao avaliar os últimos quatro anos, os missionários e missionárias puderam celebrar a ampliação das equipes de base com a retomada da equipe em Teófilo Otoni/MG, com dois missionários. Também foi celebrada a criação de uma equipe de base em Bom Jesus da Lapa (BA), que hoje atende dez povos indígenas no oeste baiano, bem como a criação da equipe de base na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), para atender as demandas dos indígenas em contexto urbano.

Ao avaliar os últimos quatro anos, os missionários e missionárias puderam celebrar a ampliação das equipes de base

Em 2019, o Regional passou de sete missionários para 13, número de membros que hoje integram a instituição. O crescimento se deve ao contínuo compromisso com as comunidades indígenas e a realização de parcerias internacionais, principalmente com Misereor, Cáritas Alemanha, Adveniat. Com a ampliação do Regional, o Cimi esteve ao lado das comunidades em importantes conquistas. Entre elas, as definições e regularizações sobre o território indígena da Aldeia Escola Floresta, do povo Maxakali, em Itamunheque/MG; o reconhecimento do território indígena de Sete Salões, do povo Krenak, em Resplendor/MG; a regularização do Território Kiriri de Barreiras no Oeste da Bahia, e a demarcação do território de Aldeia Velha, do povo Pataxó, em Porto Seguro/BA.

Além disso, houve avanços significativos nos processos de demarcação de vários territórios acompanhados, além da garantia de permanência por meio de ações judiciais e atos administrativos, principalmente em Minas Gerais.

Em 2019, o Regional passou de sete missionários para 13, número de membros que hoje integram a instituição

O Regional também celebrou com todos os povos indígenas a vitória da tese do indigenato no julgamento com repercussão geral do Recurso Extraordinário (RE) 1017365 no Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro do ano passado. Além disso, foi um dos mobilizadores para as medidas cautelares da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em favor dos povos Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe das terras indígenas Barra Velha, em Porto Seguro/BA; Comexatibá (Cahy-Pequi), em Prado/BA, e Caramuru-Paraguaçu no sul da Bahia.  As medidas foram concedias em abril de 2023 e junho de 2024.

Os membros do Regional Leste também têm atuado contra a escalada de violências que tem acometido os povos indígenas na região sul da Bahia e que tem ceifado vidas nos diversos territórios, principalmente de jovens.

Testemunhas da esperança

 Entre 2019 e 2023, a equipe do Regional Leste acompanhou as lutas do movimento indígena no Brasil. Ao longo desses anos testemunhou como as comunidades superaram as dificuldades e perseguições impostas pelo governo Bolsonaro, bem como a crise sanitária da COVID-19.

Em um período de contínuos ataques, as comunidades demonstraram sua resiliência ao permanecer nos territórios, ao cultivar seus alimentos e fortalecer as lutas com o cuidado espiritual. Foi assim que as comunidades resistiram aos ataques institucionais, ao desmonte das políticas públicas, aos entraves para a demarcação de territórios e às batalhas judiciais para garantir o atendimento prioritário durante a pandemia.

Em um período de contínuos ataques, as comunidades demonstraram sua resiliência ao permanecer nos territórios

Quatro anos intensos de mobilização e resistência que continuam a inspirar e a ser uma memória de que outra vida é possível, vida abundante e integrada com a Casa Comum. Reunir e articular esforços para o bem viver e novas práticas de justiça socioambiental proporciona ao Cimi Regional Leste a certeza de que esperançar é uma prática diária, que se realiza mesmo nos momentos mais difíceis.

Por isso, a equipe se encheu de esperança junto das comunidades com os novos horizontes abertos em 2023 a partir das mudanças no cenário político. Agora, as esperanças se ampliam pelas possibilidades que as eleições municipais proporcionam.

Missionários e missionários, parceiros e  convidados se reúnem na 41ª Assembleia do Cimi Regional Leste. Foto: Cimi Regional Leste

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