Catalino Gomes Lopes Guarani e Kaiowá, de 49 anos, é a nova vítima de atropelamento na via que margeia a aldeia Bororó
A comunidade Guarani e Kaiowá da Reserva de Dourados decidiu velar o corpo do indígena Catalino Gomes Lopes, de 49 anos, no anel viário cuja via margeia a aldeia Bororó. Desde esta terça-feira (30), os indígenas mantêm um bloqueio iniciado logo após Catalino ser atropelado por uma camionete Hilux e morrer ainda no asfalto. Não é o primeiro atropelamento a ocorrer no local, na semana passada uma criança de 6 anos morreu foi atingida por um veículo, o que gerou a revolta dos Guarani e Kaiowá.
O bloqueio tentou ser debelado pela Polícia Militar com bombas de gás e tiros de bala de borracha, mas os indígenas não recuaram, mantiveram a obstrução da via e levaram o velório de Catalino para o local. A pista precisa ser atravessada constantemente por quem vive na Reserva de Dourados e precisa ir ao centro urbano. Superlotada, a área transborda de pessoas por suas margens, o que também leva ao atropelamento de crianças.
Há anos os indígenas exigem melhorias nos pontos de travessia, com sinalização, lombadas eletrônicas e mais fiscalização. Relatam que mesmo sabendo do alto tráfego de pessoas, os motoristas, sobretudo os que dirigem caminhonetes, não respeitam limites de velocidade. Ocorreram casos de atropelamentos em que o motorista se evadiu do local sem prestar socorro.
A via também margeia áreas de retomadas contíguas à Reserva de Dourados. Nelas vivem famílias que buscam recuperar o território subtraído do povo quando reduzido ao espaço reservado. Caso do acampamento Ivu Verá, que também já teve integrantes mortos por atropelamento. Esse tipo de ocorrência é uma das razões de morte violenta entre os Guarani e Kaiowá.
“Perdemos as contas de quantos da gente morreu atropelado”
Seja às margens da Reserva de Dourados e suas retomadas, ou em acampamentos erguidos entre a cerca da fazenda e o asfalto ao longo das rodovias do Cone Sul, Eliseu Guarani e Kaiowá, da Aty Guasu, a Grande Assembleia do povo, ressalta que os atropelamentos são o resultado da junção da falta de demarcação com a precariedade que hoje toma conta da vida das comunidades Guarani e Kaiowá.
“Perdemos as contas de quantos da gente morreu atropelado. A cacique Damiana, que morreu faz pouco tempo, perdeu marido, filho e mais parentes atropelados. Na Reserva de Dourados é totalmente comum, infelizmente. Criança é atropelada. Quase toda semana mesmo, é um caso do Poder Público ter agido faz tempo, mas parece que eles deixam acontecer porque não tão nem aí”, diz.
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Mesmo após a tragédia, policiais militares atacam com bombas e tiros os Guarani e Kaiowá enlutados pela perda. Foto: Reprodução/Vídeo da comunidade da Reserva de Dourados