Liderança Quilombola é assassinada no Pará

Teia dos Povos

Na última terça-feira dia 24 de setembro de 2024, Edney Oliveira de Jesus, quilombola da Comunidade Moura, Alto Trombetas, na cidade de Oriximiná, no oeste Pará, foi brutalmente assassinado pela polícia de Oriximiná. Ediney foi um dos sócios fundadores da cooperativa COOPER MOURA, foi professor em sua comunidade e ultimamente trabalhava na mineradora MRN. O mesmo sofria de transtornos psicológicos diagnosticados por profissionais de saúde.

Edney teria ido até a cidade de Oriximiná para resolver um problema no seu CPF e, ao saber que a questão para a qual ele buscava atendimento, não poderia ser resolvida de forma presencial, teve um surto psicológico e acabou quebrando móveis e destruindo computadores da agência. A polícia foi acionada, no entanto ao chegarem no local Edney já teria se retirado, foi quando a polícia iniciou a busca.

O despreparo da polícia foi tão grande abordando uma pessoa com problemas psicológicos de forma abrupta, que Ediney em surto psicótico travou luta corporal com os policiais, e mais uma vez ficou evidente o despreparo e o preconceito da polícia local. Naquele exato momento os policiais deveriam tê-lo imobilizado. Segundo a polícia, Edney teria tomado a arma de um dos policiais e desferido dois tiros contra um dos policiais; foi quando outro integrante da polícia desferiu dois tiros pelas costas de Edney. Segundo algumas testemunhas e alguns registros o segundo disparo foi realizado com a vítima já imobilizada após o primeiro tiro, o descaso policial foi tão grande que os policiais deixaram a vítima agonizando no chão sem prestar socorro, o que poderia evitar o óbito de Ediney.

Mas a pergunta que não quer calar é: como é que mais de três policiais não conseguiram imobilizar uma única pessoa com problemas psicológicos? Se de fato ocorreu a tomada da arma por parte do Ediney, o que é muito suspeito, cadê a comprovação? E por fim, se fosse um homem branco será que a conduta da polícia seria a mesma?

As trinta e sete comunidades quilombolas locais e toda a comunidade negra está revoltada com esse evidente racismo ocorrido, e pedem por justiça. O que tem deixado a comunidade mais revoltada é a forma como a g1-TV TAPAJOS se refere à vítima, o factcheking realizado se baseou apenas nas fontes policiais, sem se importar com o quadro clínico e com o preconceito vivido pela vítima.

Edney desde de criança seguia a doutrina evangélica Assembleia de Deus onde era músico e muito conhecido na região. Segundo relatos, o quadro clínico de Ediney foi gerado por abuso policial. A história das trinta e sete comunidades do qual a vítima fazia parte sofre bastante com o racismo ambiental. Por decorrência desse racismo ambiental Ediney e alguns familiares foram condenados passando alguns anos presos na penitenciária de Santarém, onde a vítima desenvolveu problemas psicológicos. Não recebendo os devidos cuidados para retornar à sociedade, o quadro clínico do mesmo se agravou.

O que a família e a comunidade pedem é justiça: “Chega de nos matarem”, “Até quando o racismo nos limitará”, “queremos justiça pelo Ediney e por todos os nossos mortos”, “não nos calaremos”, “queremos que os verdadeiros culpados sejam condenados”.

 

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