Que papel têm as cidades na crise climática?

Diversos problemas de saúde são agravados pelos efeitos da destruição do meio ambiente. Nos municípios, há caminhos eficazes para amenizar esses impactos. Três são essenciais: saneamento, tratamento do lixo e conservação de áreas verdes

por Solange Caetano, em Outra Saúde

É inegável, e os estudos comprovam, que vivemos um tempo em que as questões ambientais ganham relevância. Em todo o mundo, as alterações climáticas provocam desastres ambientais com imensos prejuízos para a economia e, principalmente, para a vida das pessoas. Tempestades, terremotos, tsunamis, alterações no clima e outras tantas calamidades também geram um grande impacto na saúde.

No último domingo, 6 de outubro, os municípios brasileiros escolheram prefeitos e vereadores. Foi uma oportunidade de optar por candidatos que pensassem e apresentassem alternativas para melhorar o quadro do clima. Dados e indicadores sustentam que a preocupação com esse tema é fundamental nos próximos quatro anos, tempo que abrange os próximos mandatos.

A questão climática, em geral, quando abordada, traz junto termos e noções aparentemente difíceis para a compreensão do senso comum. Mercado de carbono é um desses termos. Quem sabe o que é isso?

Em nível dos municípios, o tratamento da questão climática poderia ser muito simples e abordar problemas que já são conhecidos há décadas: saneamento, tratamento dos resíduos sólidos e conservação ambiental. Essas três áreas são fundamentais no trato da questão climática.

Mais de 50% dos municípios não têm água tratada, e o déficit no tratamento de esgoto chega a 70-80% em algumas regiões. O saneamento básico não só previne doenças como dengue e chikungunya, mas também reduz significativamente os custos do Sistema Único de Saúde (SUS). Cada real investido em saneamento resulta numa economia de três reais em gastos com saúde pública.

Os municípios também precisam pensar uma gestão mais eficiente dos resíduos sólidos. Em vez de simplesmente enterrar lixo em aterros sanitários, os municípios devem investir em tecnologias que reaproveitem materiais recicláveis e trate os resíduos orgânicos. Esse modelo, além de sustentável, gera empregos e energia.

É necessário conservar áreas ambientais dentro dos municípios; mantendo e criando parques e áreas verdes administrados pelo setor público; e não entregue às empresas privadas para que tenham lucros restringindo o acesso da população mais pobre e periférica.

As ações ambientais são de responsabilidade direta das gestões municipais e é necessário integrar as políticas ambientais com outras áreas, como educação e saúde.

A crise ambiental atinge com muito mais força as pessoas pobres, com moradias precárias, sem acesso ao saneamento adequado. Basta andar pelas periferias das cidades brasileiras para perceber esgotos a céu aberto, lixões onde pessoas procuram comida, esquinas e terrenos baldios com entulhos. Por outro lado, a definição dos planos diretores dos municípios é, quase sempre, pautada pelos interesses das grandes construtoras, com áreas densamente povoadas, com muito concreto e quase nada de solo permeável, facilitando os alagamentos quando a chuva vem mais forte do que o esperado.

O poder público municipal tem autonomia sobre essas questões, pode definir estratégias, ações e investimentos. Mas para isso, é fundamental vontade política e desvinculação dos grandes grupos econômicos que tem quase nenhuma preocupação social.

Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

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