A saída do maior emissor global de carbono do Acordo de Paris terá “impacto significativo” na preparação para a COP30, reconhece André Corrêa do Lago.
Recém-confirmado como presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago já confronta, logo de cara, um dos principais desafios para a próxima Conferência do Clima em Belém (PA) – a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. O diplomata reconhece que o distanciamento norte-americano terá reflexos importantes nas negociações climáticas de novembro.
“Estamos todos ainda analisando as decisões do presidente [Donald] Trump, mas não há menor dúvida que [a saída dos EUA do Acordo de Paris] terá impacto significativo na preparação da COP e na maneira como nós vamos ter que lidar com o fato de um país tão importante está se desligando desse processo”, comentou Corrêa do Lago, citado pelo Estadão.
Em entrevista à CBN, o embaixador comentou que o impacto da saída dos EUA vai além da negociação propriamente dita. “Não se pode evitar reconhecer os impactos diretos, não só no funcionamento do próprio organismo internacional, mas também no exemplo. Os Estados Unidos são um dos maiores emissores do mundo e estavam com programas muito ambiciosos de redução de emissões, eles eram uma referência”, afirmou.
Mesmo sem o envolvimento construtivo de Washington nas negociações climáticas, o Brasil ainda espera manter algum diálogo sobre o clima com outros setores políticos e econômicos dos EUA. “Nós ainda estamos estudando de que maneira vamos poder nos engajar com essas dimensões nos EUA da maneira mais construtiva possível para combater a mudança do clima”, disse Corrêa do Lago ao Valor.
Além da ausência dos EUA, a COP30 também acontecerá em um contexto de agravamento da crise climática, com a temperatura média global ultrapassando (ainda que momentaneamente) 1,5oC de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais. Para o presidente da COP de Belém, mesmo com os dados recentes, “não podemos desistir” do limite de 1,5oC definido pelo Acordo de Paris.
Outro problema está nas próprias negociações climáticas, cada vez mais questionadas pela falta de resultados substanciais nos últimos anos. Repetindo um dos mantras do governo brasileiro para a COP30, Corrêa do Lago reforçou que as negociações de Belém precisam “acelerar a tradução de tudo o que já foi negociado em ações verdadeiras”.
A escolha de Corrêa do Lago como presidente da COP30 foi bem recebida por praticamente todos os grupos políticos, econômicos e sociais interessados na questão climática. Ana Carolina Amaral assinalou no UOL Ecoa a capacidade do embaixador de “conversar com os gregos e troianos dentro do nosso país” como o diferencial que o colocou no posto.
A concertação doméstica é uma das preocupações do governo Lula com a COP30. Diplomata experiente, Corrêa do Lago precisará utilizar seus talentos de negociação com os diferentes setores internos nos próximos meses, de forma a garantir que o Brasil possa fazer o mesmo quando os negociadores internacionais vierem a Belém em novembro, sem o risco de um “mico” doméstico.
Ao mesmo tempo, o presidente da COP30 precisará construir um relacionamento direto com o presidente Lula, hoje inexistente. “Para ter força política e conduzir algum resultado significativo, a presidência brasileira [da COP] precisará estar colada com a única outra liderança que fala com os russos: o presidente Lula”, destacou Amaral.
Em tempo: Por falar em “russos”, os negacionistas do agronegócio brasileiro já se movimentam para atacar a COP30 de Belém e espalhar mais desinformação sobre a crise climática. A Repórter Brasil destacou a atuação de parlamentares bolsonaristas e entidades setoriais para realizar uma “COP do agro” em outubro na cidade paraense de Marabá. O grupo tenta atrair a atenção dos negacionistas do resto do mundo, a começar pelo presidente dos EUA, Donald Trump, convidado para o evento.
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Fernando Donasci/MMA