As coisas são como parecem ser. Não há nada por detrás das aparências. Nenhuma essência. Nenhuma verdade. O sentido está nos olhos de quem vê e não nas coisas vistas. As coisas são só coisas, nada mais. Esta é a filosofia de Edinho desde a faculdade. Ouviu coisas assim em uma aula do Curso de Comunicação. Foi libertador para ele. Sempre achou que estudava para iludir com propagandas. Que a essência da publicidade era a mentira. Sentia-se mal com isso. Mas sem sentido, essência ou verdade, também não há mentira. Há só a mensagem, o que ela aparenta e a grana que se ganha com isso. (mais…)
Crônica
Cordialidade. Por Julio Pompeu
Comprando um lanche naqueles lugares em que todos os sanduíches tem o mesmo gosto, a moça do caixa me cumprimenta sorrindo. Conheço bem aquele sorriso de merda. É igual ao meu. Sorriso de simpatia fingida. Bem fingida, mas que, ainda assim, não esconde o fingimento. Ela não queria estar ali. Não quer que eu tenha um bom dia. Não queria que eu estivesse ali. Não queria ninguém ali. Eu também não queria estar ali, comendo aquela porcaria, mas é o que dá para comer. A gente vive assim, fazendo o que dá. E sorrindo, pra fingir que é feliz. (mais…)
O asilado. Por Julio Pompeu
Tudo passa. Tudo que o tempo fez, o tempo desfaz. Não há mal que sempre dure. Depois da tempestade, vem sempre a bonança. Todas estas frases de consolo escoavam pelas caraminholas da cabeça de Jair. Quando não vinha de suas memórias, aparecia na boca de amigos que tentavam dar-lhe conselhos neste momento difícil. Tudo em vão. Sabiam que Jair só ouvia os próprios conselhos e, mesmo assim, não os seguia quando apontavam para a necessidade de aceitar seus erros, de encarar a realidade. A única realidade que importava para Jair era a de seus sentimentos e, agora, ele sentia medo, muito medo. (mais…)
O Engenho. Por Julio Pompeu
A única imagem que Enrico tem de seu bisavô é a antiga foto pendurada na parede da sala de jantar na casa de sua mãe e as histórias de sua epopeia de fuga da pobreza na Itália e de como prosperou no comércio.
Começou trabalhando numa fazenda de cana de açúcar que pouco tempo antes de sua chegada, era tocada por escravos e chicotes. Ele e os que com ele vieram, frequentemente, precisavam lembrar ao patrão e ao capataz que não eram escravos. (mais…)
País Do Sol. Por Julio Pompeu
Há muitos e muitos séculos, existiu um curioso país chamado Do Sol. Era uma sociedade muito primitiva, ainda do tempo em que a humanidade se dividia em países. Mas como toda sociedade daquele tempo, achava-se muito desenvolvida e esclarecida. Mas havia uma diferença do país Do Sol para os outros.
O povo de todo país daquele tempo se achava melhor e mais sábio que os demais, especialmente os de sua elite, que se achava não apenas superior em ideias e pensamentos aos de outros países, mas também superior aos de sua própria gente. Mas a elite do país Do Sol era diferente. (mais…)
Diário de um Livreiro: o sebo dos sebos. Por José Ribamar Bessa Freire
No TaquiPraTi
Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.
Jorge Luis Borges (1899-1986)
Viajei para Galloway – “o canto esquecido da Escócia” – e perambulei por Wigtown, uma cidadezinha da região com menos de 1.000 habitantes. Lá conheci a terceira livraria do mundo na avaliação do The Guardian, que usou para isso o critério de “peculiaridade e excelência”. Essa viagem foi feita sem sair de casa, percorrendo “O Diário de um Livreiro” escrito por Shaun Bythell, dono da livraria e de refinada ironia, além de deliciosas histórias que conta com humor. (mais…)
Além do humano. Por Eugênio Bucci
A cada dia, o humano perde relevância. O humano, depreciadamente humano, deixa de ser protagonista no seu próprio destino
Agora, os pequenos sinais estão em toda parte. Artifícios inteligentes tomam decisões no lugar das pessoas de carne e osso. No trânsito, quem resolve se você vai virar à esquerda ou à direita é um algoritmo, que lhe dá ordens pela tela eletrônica. Por um sistema parecido, o taxista fica sabendo qual será o passageiro, e em que endereço deve apanhá-lo. Ninguém escapa. (mais…)