“A América Latina deixou de ser uma exceção em relação ao crescimento das direitas radicalizadas, que antes parecia ocorrer apenas na Europa. Como explicar esse fenômeno? O que nos diz essa dinâmica sobre o subcontinente? Como se conecta com o clima da época em uma escala mais global?”, questiona Cristóbal Rovira Kaltwasser*, em artigo publicado por Nueva Sociedad.
Até há pouco tempo, o tema da ultradireita era contemplado a partir da América Latina como um fenômeno distante, como algo que acontecia na Europa e obedecia aos conflitos políticos que lá ocorriam. De fato, a questão migratória é talvez uma das razões centrais por trás do sucesso eleitoral da ultradireita na Europa, e como grandes fluxos de migrantes não afetam de maneira pronunciada os países da América Latina, poderia se pensar que aqui estaríamos a salvo da expansão eleitoral de forças de ultradireita. No entanto, essa interpretação está errada por pelo menos três razões. Em primeiro lugar, a bibliografia acadêmica estabeleceu que não existe um vínculo direto entre a quantidade de imigrantes que chegam a um país e o ascenso da ultradireita. Por exemplo, a maior parte dos países da Europa Oriental não recebe um grande número de migrantes, mas sim observaram um aumento notável no voto a favor de partidos de ultradireita [1]. De fato, estudos revelam que, mais do que o aumento real de imigrantes, é o medo da chegada deles o que propicia o sucesso eleitoral de partidos políticos com uma agenda contra a migração [2]. Isso demonstra que uma das principais causas do apoio à ultradireita são as percepções dos eleitores, muitas das quais tendem a descansar em ameaças subjetivas antes do que objetivas. (mais…)