O ultraimperialismo em tempos dantescos. Por Luis Eustáquio Soares

Ele opera sob um Estado racista, patriarcalista e colonial. Impõe um mundo onde o sol não luz, como diria Dante Alighieri. Promove círculo de angústia a partir de três formas de alienação, inseparáveis do capitalismo. É preciso entendê-las

Outras Palavras

Título original: O ultraimperialismo estadunidense e A Divina Comédia de Dante Alighieri.

“O homem, em realidade, não é, como afirma a lírica aparência da sociedade capitalista, um ser isolado, mas um ser social, cuja vida está ligada por milhares de fios aos outros homens e ao conjunto do processo social.” György Lukács, Crítica, p.361.

Onde o sol não luz

Qual é a lei geral da história? Marx a formulou assim: “O ser social determina a consciência humana” (MARX, 2008, p. 58). E o que é o ser social hoje? É o modo de produção capitalista mundialmente estabelecido como imagem e semelhança do Pentágono, espelhado em cada ato de compra e venda dolarizado, que amalgama e molda o mundo realmente existente, entrelaçando instituições, crenças, modos de ser, estar e viver, com base na militarização geral das relações sociais. (mais…)

Ler Mais

A esperança dos ninguéns, bem além das eleições

Como imaginar um país transformando, num tempo de crise das velhas teorias emancipatórias e de rebaixamento das utopias? A ideia da decolonialidade e a crítica profunda ao “novo” capitalismo podem fornecer algumas pistas

Por Uribam Xavier*, em Outras Palavras

OS NINGUÉNS.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos.
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.
[Eduardo Galeano, no livro “O livro dos abraços”]

No pensamento decolonial, os componentes constitutivos do padrão mundial do poder do sistema-mundo moderno/colonial são: a colonialidade do poder, ou seja, a ideia de raça como fundamento da divisão da sociedade como elemento de dominação para o processo de acumulação de riqueza por meio das várias formas de exploração do trabalho, da natureza e dos territórios; o Estado, como forma central de controle da ação coletiva em defesa da propriedade privada e da concentração de capital; o eurocentrismo, como forma de produção e reprodução de conhecimento e subjetividade/intersubjetividade locais como universais; o capitalismo, como forma universal de exploração do trabalho e o controle da natureza como coisa a ser morta, ou seja, transformada em mercadoria. Portanto, a luta contra o padrão mundial de poder é mais do que a luta contra o capitalismo, é uma ação de interseccionalidade que abrange todos os seus componentes constitutivos. (mais…)

Ler Mais

Medo e delírio nos corações bolsonaristas

Relato etnográfico: um treinador de academia descreve a elite branca que o cerca, na Barra da Tijuca. Nas eleições, ela rumina pós-verdades para esconder seu maior temor: perder privilégios. Ao fazê-lo, revela suas taras, ignorância e colonialismo

Por Federico G. L. e Ernesto C.*, em Outras Palavras

Eram 18h. Naquele momento alguém gritou “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, o Brasil é nosso! O Brasil é nosso!” No número 3100 da Avenida Lúcio Costa, no Rio de Janeiro, centenas de pessoas envoltas em bandeiras verde-amarelas estavam dançando, gritando e cantando o hino brasileiro no auge de seus pulmões. Jair Bolsonaro morava naquele endereço, ele tinha acabado de ganhar as eleições, era outubro de 2018 e a Barra da Tijuca estava se enchendo de um novo tipo de fervor. Quatro anos depois, em outubro de 2022, essa liturgia política era substituída pelo grito de “fraude!”, “CorrupPTo!, “Luladrão!” e, principalmente, “Intervenção Federal (ou seja, militar) já!”. (mais…)

Ler Mais

Extrativismo é uma neocolonização de países e territórios. Conferência de Raúl Zibechi

Em conferência proferida no IHU ideias, de 03-11-2022, o jornalista e ativista político detecta uma série de violências imposta aos povos desde a tomada de seus espaços

Por Patricia Fachin, em IHU

O período das colonizações na América Latina, inaugurado no século XVI, impôs uma série de violências a populações humanas e ecossistemas. Levamos anos para reconhecer o que de fato houve nesses processos e, desde então, ensaiamos as chamadas visões decoloniais, que visavam restaurar, em alguma medida, os saberes, as formas de vida de populações da terra e aprender, especialmente, com suas relações com o meio ambiente. No entanto, o problema é que essas violências retornam de tempos em tempos. É o que aponta o jornalista e analista político uruguaio Raúl Zibechi, em conferência promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “Podemos dizer que o extrativismo é uma neocolonização de nossos países e territórios”, constata. (mais…)

Ler Mais

Boaventura: para frear o ciclo do medo

Relações coloniais são um fantasma sempre à espreita, e prestes a devorar a esperança. Brasil atual é o caso mais claro. Não será possível afastar a ameaça sem reverter o epistemicídio e resgatar o valor dos saberes atacados pelo eurocentrismo

Por Boaventura de Sousa Santos, em Outras Palavras

Título Original: A ferida, a luta e a cura

Uma das características mais intrigantes das sociedades que estiveram sujeitas ao colonialismo histórico europeu é a permanência, a seguir à independência, de relações de tipo colonial sob velhas e novas formas, tanto internas como internacionais. Dois desses tipos estão há muito identificados. São o colonialismo interno e o neocolonialismo/imperialismo. O conceito de colonialismo interno refere-se ao modo como as elites que sucederam aos colonizadores europeus – que no caso das Américas, Nova Zelândia e Austrália eram descendentes destes – se apropriaram do poder e das terras que antes tinham sido usurpados pelos colonizadores. De tal modo o fizeram que os povos nativos/originários ou trazidos como escravos continuaram sujeitos ao mesmo tipo de dominação colonial, quando não foram exterminados, o que aconteceu particularmente na América do Norte. O conceito de neocolonialismo refere-se à dependência sobretudo econômica (e, por vezes, militar) dos novos países em relação à antiga potência colonizadora, enquanto o conceito de imperialismo se refere ao mesmo tipo de relações entre os países hegemônicos do Norte global (centro do sistema mundial) e os países dependentes do Sul global (periferia e semiperiferia do sistema mundial). (mais…)

Ler Mais

O homo modernus e o Nordeste nas eleições

Novo livro provoca: no bojo do colonialismo, a modernidade forjou-se pela diferenciação entre nós e “os outros”, a civilização e a “barbárie de lá”. Essa lógica explica a aversão das elites ao voto nordestino, visto como entrave ao seu desenvolvimento

Por Renan Porto, em Outras Palavras

Em breve será lançado no Brasil o livro Homo Modernus: por uma ideia global de raça da Denise Ferreira da Silva pela editora Cobogó. Li esse livro em inglês, Towards a Global Ideia of Race, e é uma leitura muito densa e desafiadora. Não lembro de Silva dizer em nenhum lugar algo fechado tal como “raça é x”. Sua proposta de método, a analítica da racialidade, investiga diferentes discursos sobre raça para mostrar o que se produz em torno destes discursos. A ciência aqui tem um papel de construção simbólica com força produtiva. Uma das formações que ela observa emergindo em torno do emprego das categorias empregadas para dar conta de pensar a diferença humana, tais como raça e cultura, é o mapeamento do espaço global que emerge com as expedições coloniais e a distribuição dos povos sobre este espaço. (mais…)

Ler Mais

O que significa, no Brasil, descolonizar a universidade

Qual papel as universidades devem almejar, na luta contra a exclusão em todos os níveis — até os mais abissais — e na reconstrução pós-pesadelo? A instigante experiência da UFBA e suas lições. Como proteger as federais contra ataques antidemocráticos

Por Eleonora Albano, em Outras Palavras

“Não sou máquina, não sou bicho, sou René Descartes, com a graça de Deus. Ao inteirar-me disso, estarei inteiro. Fui eu que fiz esse mato: saiam dele, pontes, fontes e melhoramentos, périplos bugres e povoados batavos”.

(Paulo Leminski. Catatau).[i]

(mais…)

Ler Mais