Inaugurando uma série de reportagens preparatórias para a COP30, Rob Wallace alerta que o modelo de produção de alimentos capitalista cria um terreno fértil para a evolução de microrganismos cada vez mais virulentos e letais
André Antunes – EPSJV/Fiocruz
No final de 2025, líderes de todo o mundo voarão para Belém, no Pará, para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30. Será mais uma tentativa de avançar no enfrentamento às mudanças climáticas, no momento em que o Acordo de Paris, pelo qual os países se comprometeram a reduzir emissões de gases de efeito estufa para limitar a média de aquecimento do planeta, completa dez anos. O epidemiologista evolucionário norte-americano Rob Wallace, no entanto, não vê grandes chances de se chegar a um acordo a partir da COP30, a despeito do grau de consenso em torno das mudanças climáticas. Para ele, a captura dos Estados nacionais, das instâncias de governança multilaterais e da ciência pelos interesses das classes capitalistas é hoje tão grande que fica difícil esperar grandes mudanças em um sistema econômico que serve aos interesses de alguns dos setores que mais emitem CO2. Wallace, integrante do Agroecology and Rural Economics Research Corps [em português, Corpo de Pesquisa em Economia Rural e Agroecologia, grupo de cientistas independentes dos Estados Unidos que estuda alternativas ao atual sistema agroalimentar], dirige uma crítica especial ao setor do agronegócio, que ele estudou mais diretamente quando analisou surtos de gripe aviária ao longo dos anos 2000. Segundo o epidemiologista, o mesmo modelo capitalista de produção de alimentos responsável por 30% das emissões anuais de gases de efeito estufa também serve de terreno fértil para a evolução de microrganismos cada vez mais virulentos e letais, com potencial para desencadearem a próxima pandemia. Nesta entrevista, que inaugura um especial sobre a COP 30, Wallace fala de mudanças climáticas, pandemia e agronegócio, conflitos de interesse na ciência, e da indissociabilidade entre ciência e política. (mais…)