Tarifa Zero, saída para o colapso urbano

Novo livro aponta paradoxo nas cidades brasileiras: quanto mais tecnologia e uberização, mais caos e mortes no trânsito. Como o transporte público gratuito é alternativa — e por que o Brasil tornou-se líder mundial em sua adoção

por Daniel Santini, em Outras Palavras

“Os desajustamentos causados pela exclusão social de parcelas crescentes de
população emergem como o mais grave problema em sociedades pobres e ricas.
Esses desajustamentos não decorrem apenas da orientação
assumida pelo progresso tecnológico (…).
Os novos desafios (…) são de caráter social e não basicamente econômico
como ocorreu na fase anterior do desenvolvimento do capitalismo.
A imaginação política terá assim que passar ao primeiro plano.
Equivoca-se quem imagina que já não existe espaço para a utopia.
Ao contrário do que profetizou Marx, a administração das coisas
será mais e mais substituída pelo governo criativo dos homens.”
(Celso Furtado, O Capitalismo Global,1998.)

Carros autônomos, s elétricos, drones voadores para entrega de mercadorias, túneis exclusivos para veículos sônicos ultra­hiper­tecno­ló­gi­cos, blá-blá-blá… A lista de soluções mágicas é quase interminável. Mesmo insustentáveis ou sem muita conexão com a realidade, elas são apresentadas sem constrangimento, no mesmo ritmo que a vida nas cidades vai ficando mais travada, poluída, perigosa, chata e impossível. As promessas baratas costumam ser recebidas com entusiasmo, o que talvez seja fruto da busca aflita por uma saída rápida para a crise de múltiplas dimensões que enfrentamos. Ou, talvez, seja desespero mesmo, uma angústia alimentada pela falta de horizontes que mina qualquer senso-crítico. (mais…)

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Cidades: convite a outras cosmovisões

O pensamento de Krenak e Nêgo Bispo sobre a crise urbana sugere: o modelo de “concreto, aço e asfalto” só levou às catástrofes. Mas a ancestralidade pode contribuir para superá-lo. Rever a cisão entre Natureza e Cultura é o primeiro passo

por Rôney Rodrigues, em Outras Palavras

Ideias fora do lugar

Escuta? São os gritos de socorro das cidades. A catástrofe no Rio Grande do Sul, deixando rastros de lama e mortes, é o mais recente deles no Brasil. Afinal, são tempos de eventos climáticos extremos – de grandes inundações e secas a ondas de calor extremo – nas cidades. E o preço da inação é mais alto que o boleto enviado ao poder público por consultorias estrangeiras e grandes empreiteiras para a reconstrução de cidades. (mais…)

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Direito à cidade: genealogia de uma ideia radical

Em ano de pleitos municipais, vale resgatar o conceito emblemático, cunhado pelo filósofo Henri Lefebvre. Mais que algo “jurídico”, ele é a construção do Comum a partir do espaço urbano – e conflito com o capital para o resgate do desejo daqueles que o habita

por Francesco Biagi, em Outras Palavras

Introdução

Henri Lefebvre foi um filósofo e sociólogo urbano que viveu intensamente o “breve século XX”: tinha dezesseis anos quando rebentou a Revolução Russa e morreu aos noventa, dois anos após a queda do Muro de Berlim e alguns meses antes do colapso da União Soviética. A sua longa vida abrangeu quase todo o século XX e não é por acaso que testemunhou os momentos e as questões mais decisivas desse período. Lefebvre inaugurou um tipo de filosofia, seguindo os passos de Karl Marx e Friedrich Engels, capaz de se desenvolver simultaneamente no plano teórico e no plano prático. É possível identificar a caraterística fundamental da sua filosofia na interpretação dos dois filósofos alemães, que se caracteriza pelo apelo constante à união da “teoria” filosófica com a “práxis” política. É sobretudo esta perspectiva que permite ao autor compreender as transformações da sociedade fordista, desde a questão espacial, rural e urbana, passando pela vida cotidiana, até uma teoria geral da política capaz de abarcar toda a análise da modernidade capitalista. (mais…)

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Mudança do governo de SP para o centro da capital vai criar prédios vazios, diz urbanista

Segundo Raquel Rolnik, do LabCidade, projeto vai aumentar especulação imobiliária no centro de São Paulo

Por Texto: Matheus Santino | Edição: Bruno Fonseca,  Agência Pública

No dia 27 de março deste ano, o governo do estado de São Paulo anunciou um concurso para selecionar o projeto arquitetônico da construção do novo centro administrativo na região dos Campos Elíseos, centro da capital paulista. O projeto, chamado de Centro Administrativo Campos Elíseos, vai substituir a atual sede do governo, que fica no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, um dos bairros mais caros da cidade. (mais…)

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O que o Ocupe Estelita ensina, dez anos depois

Em 2014 chegava ao ápice, no Recife, uma das lutas emblemáticas pelo direito à Cidade. Reivindicou o Comum: paisagem, memória e ambiente. Uniu arte e política por alternativas à captura do espaço público. Ainda ecoa nas lutas urbanas do país

por Marta Santa Cruz Pordeus, em Outras Palavras

O Ocupe Estelita, realizado no Recife (PE) e que agora completa 10 anos, é um exemplo marcante da força e dos limites dos movimentos sociais na disputa pelo espaço urbano. Nas cidades convivem pessoas de diferentes classes sociais, e onde essa diferença é muito marcante coexistem espaços sem o mínimo necessário para uma vida digna, como as palafitas da bacia do Pina, e projetos de luxo, como o que está sendo erguido numa antiga área destinada ao transporte público, ali, bem defronte às palafitas, recentemente removidas. (mais…)

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SP: PM expulsa 200 famílias da ocupação Quilombo Saracura e conduz duas pessoas à delegacia

Ação foi realizada durante a madrugada, mas no meio da tarde a polícia foi ao local com o suposto proprietário do imóvel

Brasil de Fato

Cerca de 200 famílias organizadas pelo Movimento de Moradia do Centro de São Paulo ocuparam um prédio de 16 andares na região da Praça 14 Bis, na madrugada deste sábado (29). A ocupação foi batizada de Quilombo Saracura, devido à descoberta de um sítio arqueológico que guarda memórias do antigo quilombo, durante as escavações da Linha 6-Laranja do Metrô paulista. (mais…)

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As cidades brasileiras reproduzem as desigualdades sociais. Entrevista especial com Vanessa Marx

“Como pode haver moradias vazias e pessoas sem casa? Essa é uma equação que não fecha”, adverte a pesquisadora

Por: Patricia Fachin, em IHU

A expansão do capital nas cidades brasileiras está acelerando os processos de urbanização e segregação e tem como consequência a reprodução das desigualdades nos territórios, diz Vanessa Marx, uma das organizadoras do livro “Reforma urbana e direito à cidade. Porto Alegre”, publicação do Observatório das Metrópoles, na entrevista a seguir, concedida por telefone ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “Em Porto Alegre, por exemplo, as desigualdades sociais persistem e percebemos um outro fenômeno: as pessoas estão vivendo cada vez mais em condomínios, enquanto outras comunidades seguem sem moradias adequadas, sem saneamento básico”, informa. (mais…)

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