Quando a ciência busca transformar a realidade

No 14º Abrascão, perspectivas inovadoras de pesquisadores brasileiros: epidemiologia baseada em big data e uma nova – e subversiva – maneira de enxergar a alimentação. Como o poder público pode aliar-se à academia para enfrentar as enormes desigualdades do Brasil?

Por Gabriela Leite, Outra Saúde

Dois dos maiores expoentes da ciência brasileira estiveram presentes na noite de terça (2) no 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, ao lado da sanitarista, socióloga e ex-ministra da Saúde que comandou a reconstrução do SUS após a pandemia, Nísia Trindade. Eram os epidemiologistas Carlos Monteiro, fundador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP), e Mauricio Barreto, criador do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz) ­– duas enormes conquistas para a saúde dos brasileiros, com influência global. A concepção e condução do grande debate ficou a cargo do sanitarista e vice-presidente da Abrasco, Reinaldo Guimarães. (mais…)

Ler Mais

Estudo analisa desinformação em saúde entre povos indígenas

Vivian Mannheimer, COC/Fiocruz

A notícia de que a vacina contra a Covid-19 poderia “nos transformar em jacaré” conseguiu chegar aos Baniwa, no território do rio Içana, Alto Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, ainda no boca a boca. E provocou grande surpresa e inquietação. Anos depois, quando a internet alcançou a comunidade por algumas horas diárias, o fluxo de informação – e de desinformação – em saúde se ampliou, espalhando-se tanto pelos celulares quanto por canais mais tradicionais, como as reuniões no pátio central e as rádios comunitárias. (mais…)

Ler Mais

Mais um novembro negro sem saúde quilombola?

Nos últimos anos, representantes de comunidades tradicionais se articularam para construir uma Política Nacional para essa população, que tem indicadores de saúde alarmantes. Mas, após importantes saltos no Ministério da Saúde, passou a ser bloqueada

Mateus Brito em entrevista a Gabriela Leite, em Outra Saúde

Um passo importante para a construção de um SUS mais igualitário foi o reconhecimento, pelo Estado, do racismo institucional na saúde. Ele aconteceu na prática com a promulgação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), em 2009, instrumento que assume que há especificidades relativas a essa parcela dos brasileiros relacionadas a doenças e mortalidade – e devem ser combatidas. Dezesseis anos depois, há uma chance de avançar mais, com o reconhecimento das necessidades de uma parte dessa população que está ainda mais vulnerável: os povos quilombolas. (mais…)

Ler Mais

Saúde e resistência nos quilombos

No mês em que se celebra o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, escolhido em razão do aniversário de morte do líder do maior quilombo do Brasil, a revista Poli traça um panorama de como anda a saúde quilombola no país e investiga, se mais de um século após o fim (oficial) da escravidão, já é possível para as populações quilombolas exercerem, de fato, sua cidadania.

Erika Farias – EPSJV/Fiocruz

Depois de quase uma hora subindo por uma trilha dentro da mata, vemos uma gruta. Se do lado de fora os termômetros marcavam cerca de 35ºC, a temperatura, ali entre as pedras, caía abruptamente. De frente para aquele espaço silencioso, Adilson Almeida, líder do Quilombo do Camorim e presidente da Associação Estadual das Comunidades Quilombolas do Rio de Janeiro (Acquilerj), pediu permissão a seus ancestrais e nos convidou a entrar no espaço: um santuário onde pessoas escravizadas se reuniam no passado, não apenas para se protegerem durante a fuga, mas para manterem viva sua fé. Duas imagens em cima das pedras, uma de Xangô, orixá iorubá que simboliza a justiça e a verdade no Candomblé e na Umbanda; e um Preto Velho, que representa a ancestralidade africana na Umbanda, testemunham um canto de pássaro ao fundo. “Estão ouvindo o Uirapuru  cantando? É um bom sinal. Ele não canta para todo mundo”, diz ele. (mais…)

Ler Mais

Saúde mental: pensar os corpos

Convite à reflexão teórica sobre o vínculo da atenção psicossocial com o corpo – e não apenas a mente. Após massacre no Rio, basta oferecer atendimento psicológico às famílias? Reconhecer pessoas como sujeitos exige mudanças estruturais, não só terapia

Por Cláudia Braga, para sua coluna em Outra Saúde

Às vezes é preciso dizer o óbvio: leis e políticas públicas em saúde mental precisam responder às necessidades das pessoas e de comunidades. E as necessidades das pessoas – porque apresentam sofrimentos e demandas, têm histórias pessoais e coletivas, sonham e vivem em múltiplos territórios compartilhados de relações, valores e culturas – precisam ser compreendidas no contexto e confronto com o corpo social. Ou seja, o desafio na proposição de boas leis e na criação de boas políticas públicas em saúde mental orientadas para a emancipação é o de, simultaneamente, responder às necessidades singulares e locais das pessoas em projetos de transformação social e comunitária. (mais…)

Ler Mais

Iniciativas monitoram efeitos das mudanças climáticas para a saúde

Observatório de Clima e Saúde, Icict/Fiocruz

A Fiocruz instalou, em Belém (Pará), uma estação de referência para acompanhar, em tempo real, a qualidade do ar e as condições meteorológicas até o final de novembro, período em que ocorre a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).  A estação é uma demonstração do projeto Fioares, uma plataforma que produzirá dados a partir do que é coletado nas instalações de estações, auxiliando a vigilância em saúde na Amazônia. O Fioares está sendo desenvolvido em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Somado à instalação, a Fiocruz também apresenta, durante a Conferência, três protótipos de novas ferramentas que podem auxiliar no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas na saúde. Trata-se das ferramentas MonitorAr Saúde e FluxSUS, e de um sistema que faz parte do projeto Harmonize, criado em conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que gerou a elaboração colaborativa do chamado Índice de Quentura. (mais…)

Ler Mais

Zika: 10 anos depois, mães lutam por sobrevivência e país vive a incerteza de novos surtos

Sem ajuda dos pais, mulheres cuidam sozinhas dos filhos; governo identificou quase 2 mil crianças com síndrome

Por Mariama Correia, Raíssa Ebrahim | Edição: Bruno Fonseca, Agência Pública

Adalgisa de Araújo Figueiredo Neta, 31 anos, moradora de São Gonçalo do Amarante, a 30 minutos de Natal (Rio Grande do Norte), teve sintomas da zika com três semanas de gestação. Mas o diagnóstico da filha, Emily, hoje com dez anos, só foi confirmado 50 dias depois do nascimento. Era microcefalia causada pela síndrome congênita do vírus. “Foi uma pancada, um choque. ‘O que vai acontecer?’, foi o que eu perguntei para o médico. ‘E agora, eu faço o quê? Tem alguma solução, alguma cirurgia?’. Era uma coisa muito nova. Então um misto de sentimentos, um medo e uma incerteza.” (mais…)

Ler Mais