Fim da escala 6×1: O diabo mora nos detalhes

PEC que reduz a jornada avança no Senado e reanima a mobilização histórica. Mas requer atenção: em que condições a mudança constitucional será efetiva sem ser neutralizada pelos efeitos dos desmontes introduzidos pela Reforma Trabalhista?

Por Sidnei Machado*, em Outras Palavras

O debate sobre a duração do tempo de trabalho ocupa, historicamente, posição central nas transformações sociais e econômicas. No Brasil, a regulação permanece fortemente marcada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943, inspirada nas convenções da OIT e consolidada pela Constituição de 1988, que reduziu a jornada semanal de 48 para 44 horas. Esse modelo, tradicionalmente distribuído em seis dias consecutivos de trabalho e um de descanso (“6×1”), segue predominante em diversos setores produtivos e constitui a base normativa da organização do tempo de trabalho no país. (mais…)

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Saúde do Trabalhador: como responder à uberização?

Precarização das relações laborais e explosão de acidentes e mortes no local de trabalho ocorreram lado a lado no Brasil. Fortalecer os serviços da Renastt é urgente – mas sem revogar a Reforma Trabalhista e outras formas de desregulamentação, pode ser pouco

Por Guilherme Arruda, Outra Saúde

Nos últimos dez anos, o Brasil viveu uma explosão de acidentes e mortes no local de trabalho. Não por coincidência, trata-se de um período em que se disseminaram novas formas de relação laboral no país, que têm como marca a desregulamentação e a redução das proteções a quem trabalha – a exemplo da uberização e a pejotização. Poderão a Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (STT) e seus instrumentos, como os Centros de Referências de Saúde do Trabalhador (Cerest) e a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Renastt), responder a esse novo e complexo desafio? (mais…)

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“Casa de família”!

Crônica da Coluna Aromas de Março deste mês aborda a exploração e dureza do trabalho doméstico que atravessa gerações, mas que ainda é vivenciado por muitas mulheres no Brasil

Por Frente de Literatura do MST “Palavras Rebeldes”
Da Página do MST

O plano parecia bastante bom: teria um quarto separado, teria comida e um salário que poderia enviar todo mês para a filha. Se desse para economizar, poderia garantir os estudos da menina, poderia comprar uma casa, se aposentar dignamente, tudo como Deus manda. (mais…)

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Trabalho: Como rimar “autonomia” com direitos?

“Autônomos informais” já são 31,7% da população ocupada – e número tende a crescer. Como garantir direitos frente a transformações geracionais e tecnológicas? Um desafio é sofisticar a CLT, historicamente ligada à carteira assinada, combinando segurança e autonomia

Por Erik Chiconelli Gomes, em Outras Palavras

I. Raízes históricas e a formação da consciência trabalhista brasileira

Uma revolução silenciosa está transformando o mundo do trabalho brasileiro. Mais de 32 milhões de trabalhadores — representando 31,7% da população ocupada — atuam hoje como autônomos informais ou empregados sem carteira assinada, segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ABDALA, 2025). Esse fenômeno não representa apenas uma mudança estatística, mas uma transformação profunda na consciência trabalhista nacional que desafia as estruturas estabelecidas há mais de oito décadas. (mais…)

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Degradação nas condições trabalhistas e a perda de sentido do trabalho. Entrevista especial com Mônica Olivar

“É urgente uma escala de trabalho em que possamos viver e não sobreviver”, diz a pesquisadora do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) da Fiocruz

Por: Letícia Fagundes e Patricia Fachin, em IHU

No dia a dia, não são poucas as queixas dos trabalhadores em relação às rotinas extenuantes de trabalho. De outro lado, empregadores alegam que as novas gerações não querem mais trabalhar. As reclamações cotidianas, contudo, revelam uma situação mais complexa: “houve uma degradação nas condições de trabalho nos últimos anos”, diz Mônica Olivar ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. “O que percebemos foi uma perda de sentido do trabalho. Hoje, o trabalho é muito voltado para algo burocratizado, organizado através de algoritmos, metas numéricas, objetivos quantitativos, coisas que não fazem muito sentido para os trabalhadores”, pontua na entrevista a seguir, concedida por e-mail. (mais…)

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Riqueza é tempo disponível – e nada mais

Campanha contra jornada 6×1 reintroduz no Brasil, enfim, a luta pelo tempo livre de trabalho. Como Marx e Adorno apontaram, pauta expõe voracidade do capital, politiza relação vista como inalterável e abre caminho para enfrentar a alienação

por Arthur Hussne, em Outras Palavras

A citação evocada no título vem de um antigo tratado inglês de economia política supostamente escrito por um Charles Dilke. Datado de 1821, ele possui algumas passagens notáveis:

Se todo o trabalho de um país só fosse suficiente para prover o sustento de toda a população, não haveria nenhum trabalho excedente, e, consequentemente, nada que pudesse ser acumulado como capital. […] Logo, a próxima consequência seria que onde os homens até hoje trabalharam doze horas por dia, agora trabalhariam seis, e isso é riqueza nacional, isso é a prosperidade nacional. Mesmo depois de todos os sofismas ociosos, não há, graças a Deus, meio de aumentar a riqueza de uma nação a não ser aumentando as conveniências da vida: de tal forma que a riqueza seja liberdade — liberdade para buscar lazer — liberdade para apreciar a vida — liberdade para cultivar a mente: é tempo disponível e nada mais. Quando uma sociedade tiver chegado a esse ponto, se os indivíduos que a compõem ficarem, por essas seis horas, deitados ao sol, ou dormindo na sombra, ou ociosos, ou jogando, ou investindo seu trabalho em coisas perecíveis, que finalmente é a consequência necessária se eles forem trabalhar, deve ser uma escolha de cada homem individualmente. […] O que quer que possa ser devido ao capitalista, ele só pode receber o trabalho excedente do trabalhador; porque o trabalhador tem de viver; ele precisa satisfazer os da natureza antes de satisfazer os desejos do capitalista.1

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Fim da escala 6×1: transição do modelo de trabalho favorece sustentabilidade econômica, social e humana. Entrevista especial com Gabriela Brasil

Uma jornada semanal de quatro ou cinco dias é perfeitamente viável na conjuntura brasileira e alinhada às melhores práticas trabalhista mundiais. Iniciativa beneficia o trabalhar sem reduzir a produtividade. “Este modelo é, acima de tudo, um projeto de produtividade, com foco em medir resultados em vez de horas trabalhadas”

Por: Elstor Hanzen, em IHU

Em meio às discussões sobre equilíbrio entre vida e trabalho, a jornada de seis dias (6×1) e a redução da carga horária ganham força no Brasil. A especialista em orientação profissional e treinamentos corporativos garante que uma redução na jornada de trabalho semanal traz múltiplos benefícios, tanto econômicos, sociais como humanos. “A semana de quatro dias propõe uma reestruturação do trabalho que vai além da redução de horas, é uma oportunidade de repensar estruturas econômicas e sociais”, argumenta Gabriela Brasil. (mais…)

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