Riqueza é tempo disponível – e nada mais

Campanha contra jornada 6×1 reintroduz no Brasil, enfim, a luta pelo tempo livre de trabalho. Como Marx e Adorno apontaram, pauta expõe voracidade do capital, politiza relação vista como inalterável e abre caminho para enfrentar a alienação

por Arthur Hussne, em Outras Palavras

A citação evocada no título vem de um antigo tratado inglês de economia política supostamente escrito por um Charles Dilke. Datado de 1821, ele possui algumas passagens notáveis:

Se todo o trabalho de um país só fosse suficiente para prover o sustento de toda a população, não haveria nenhum trabalho excedente, e, consequentemente, nada que pudesse ser acumulado como capital. […] Logo, a próxima consequência seria que onde os homens até hoje trabalharam doze horas por dia, agora trabalhariam seis, e isso é riqueza nacional, isso é a prosperidade nacional. Mesmo depois de todos os sofismas ociosos, não há, graças a Deus, meio de aumentar a riqueza de uma nação a não ser aumentando as conveniências da vida: de tal forma que a riqueza seja liberdade — liberdade para buscar lazer — liberdade para apreciar a vida — liberdade para cultivar a mente: é tempo disponível e nada mais. Quando uma sociedade tiver chegado a esse ponto, se os indivíduos que a compõem ficarem, por essas seis horas, deitados ao sol, ou dormindo na sombra, ou ociosos, ou jogando, ou investindo seu trabalho em coisas perecíveis, que finalmente é a consequência necessária se eles forem trabalhar, deve ser uma escolha de cada homem individualmente. […] O que quer que possa ser devido ao capitalista, ele só pode receber o trabalho excedente do trabalhador; porque o trabalhador tem de viver; ele precisa satisfazer os da natureza antes de satisfazer os desejos do capitalista.1

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Fim da escala 6×1: transição do modelo de trabalho favorece sustentabilidade econômica, social e humana. Entrevista especial com Gabriela Brasil

Uma jornada semanal de quatro ou cinco dias é perfeitamente viável na conjuntura brasileira e alinhada às melhores práticas trabalhista mundiais. Iniciativa beneficia o trabalhar sem reduzir a produtividade. “Este modelo é, acima de tudo, um projeto de produtividade, com foco em medir resultados em vez de horas trabalhadas”

Por: Elstor Hanzen, em IHU

Em meio às discussões sobre equilíbrio entre vida e trabalho, a jornada de seis dias (6×1) e a redução da carga horária ganham força no Brasil. A especialista em orientação profissional e treinamentos corporativos garante que uma redução na jornada de trabalho semanal traz múltiplos benefícios, tanto econômicos, sociais como humanos. “A semana de quatro dias propõe uma reestruturação do trabalho que vai além da redução de horas, é uma oportunidade de repensar estruturas econômicas e sociais”, argumenta Gabriela Brasil. (mais…)

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Mutações do Trabalho no Brasil: da fábrica ao aplicativo

Informalidade já atinge 39% dos trabalhadores. A uberização avança. E as relações laborais se fragmentam. A antiga noção de identidade de classe está em mutação, o que acarreta grande impacto nas escolhas eleitorais – e traz novos desafios às esquerdas. É preciso compreendê-los

por Erik Chiconelli Gomes, em Outras Palavras

Uma transformação profunda ocorreu no mercado de trabalho brasileiro nas últimas décadas, alterando fundamentalmente a relação entre trabalhadores, capital e Estado. Esta metamorfose exige uma análise cuidadosa através de lentes tanto históricas quanto contemporâneas, particularmente quando observamos o surgimento do que alguns estudiosos denominaram como uma “nova classe trabalhadora”. A complexidade desta transformação torna-se especialmente evidente ao examinarmos o período entre 2003 e 2024, durante o qual o Brasil experimentou mudanças políticas e econômicas significativas que redefiniram as relações trabalhistas e a composição de classes. (mais…)

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Trabalho: o que o otimismo (quase não) esconde

Desemprego caiu, de fato. Mas movimento se deu em meio a grande número de desalentados, em especial em face da perda de direitos. Além disso, “Reforma” trabalhista tornou precárias também as ocupações formais, e persistem as graves desigualdades regionais e de gênero

Por Erik Chiconelli Gomes, em Outras Palavras

Embora os dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE apresentem um cenário aparentemente positivo do mercado de trabalho brasileiro, é fundamental uma análise mais aprofundada das contradições e precarizações que persistem após a Reforma Trabalhista de 2017, especialmente considerando os impactos diferenciados sobre grupos sociais vulneráveis. (mais…)

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A reaparição dos invisíveis

O trabalho assalariado não acabou — e ocupa quatro vezes mais jovens que o “empreendedorismo”. Atingidos pelos retrocessos trabalhistas, eles foram esquecidos também por parte esquerda. O VAT mostrou sua força. Mas quem são?

por Helena Wendel Abramo e André Sobrinho, em Outras Palavras

Logo depois das eleições municipais de 2024, no calor dos debates sobre a dificuldade de candidatos e partidos à esquerda dialogarem com “as periferias” e as “classes populares”, um acontecimento chamou a atenção da mídia e do cenário político: a emergência de um movimento reivindicando o fim da escala 6X1. Chamado VAT, acrônimo de “Vida Além do Trabalho”, o movimento traz como principal bandeira o fim do regime semanal de seis dias de trabalho para um de descanso e afirma a necessidade de limitar a jornada de trabalho para que haja tempo para o lazer, a convivência com a família e amigos, os estudos e os cuidados com a saúde. Ou seja, para usufruir da vida. (mais…)

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Empreendedorismo popular: os paradoxos na busca do bem-estar social e a fuga da exaustão. Entrevista especial com Henrique Costa

Trabalhadores periféricos que tentam um lugar ao sol por meio do próprio negócio, lutam contra a burocratização do estado e por condições de seguridade social que o emprego formal (e mesmo o empreendedorismo) tem cada vez mais dificuldades de garantir

IHU

O mundo do trabalho no Brasil, especialmente para a população mais marginalizada e com menos formação, tem se deteriorado progressivamente. Enquanto o trabalho formal oferece cada vez menos vagas com direitos trabalhistas garantidos, o empreendedorismo, que virou imperativo no mundo contemporâneo, ganha mais espaço. O pesquisador Henrique Costa, especialista nos temas associados à crise do capitalismo nas periferias, especialmente a paulistana, dedicou-se nos últimos anos a compreender o fenômeno. Diante do cenário, ele traça paralelos e linhas de fuga entre o empreendedorismo da classe média e o que ele denomina “empreendedorismo popular”. (mais…)

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Escala 6×1: como se blindam os CEOs

Documento do CADE revela que empresários de dezenas de megacorporações se reúnem para combinar salários, licenças e benefícios. Brasil, país com recordes de acidentes de trabalho e burnout, precisa pôr a jornada de trabalho no centro das discussões sobre saúde

por Leandro Modolo e Raquel Rachid, em Outra Saúde

No último mês, o Brasil se reacendeu politicamente para falar do fim da “Jornada 6×1”. E não foi apenas nas “redes sociais”. Muitos movimentos foram às ruas para levantar a bandeira. Uma rede difusa de vanguardas, militantes e ativistas esteve nas calçadas panfletando e dialogando com a população. A receptividade foi das melhores. As classes subalternizadas percebem e sentem que há algo de brutalmente injusto em uma condição de ausência de vida para além do trabalho. (mais…)

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