É fascinante a tara do Planalto pela ideia de Michel como imperador, por Leonardo Sakamoto

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Antes de mais nada, queria fazer um agradecimento público ao governo Michel Temer. E creio que não falo apenas por mim, mas por muitos de meus colegas jornalistas, independentemente do posicionamento ideológico, time de futebol ou credo de cada um de nós.

Vocês sabem como pode ser difícil para os profissionais que monitoram o poder público encontrar um fato novo todo o dia, analisa-lo e divulga-lo. Não raro, a notícia surge apenas depois de longas investigações ou depende da boa vontade de atores do poder público que detém tais informações. Foi assim com os casos de corrupção envolvendo os governos do PT e do PSDB, por exemplo.

Agora, não mais. Tem sempre declaração bizarra de ministro por aí que surge feito Pokemón na esquina, quando a gente menos imagina.

É ministro criticando a universalidade do SUS e dizendo que homens procuram menos atendimento de saúde porque trabalham mais que as mulheres, ministro dizendo que vai mudar a jornada de trabalho e reduzindo horas extras, ministro antecipando operações da Lava Jato para os migos… Mesmo que faça sol, é certeza que choverá groselha ou comportamento mirim.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, nesta terça (26), o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou:

”O comunicador-mor do governo tem que ser o presidente. Aí a população olha para o presidente e vê nele… O nosso sistema presidencialista tem um pouco de paternalismo… Vê no presidente um pouco do que foi o imperador, um pouco do que foi, lá atrás na monarquia, alguém que tinha condições de definir o rumo da vida das pessoas.”

Tá vendo? Agora me diz se tem como um jornalista não agradecer?

E Padilha ainda reafirmou: ”Aonde falo, falo conforme as palavras do presidente Michel Temer”.

Lembrar é viver: em entrevista ao jornal O Globo, Michel Temer havia dito que, quando despacha em sua mesa e ela tem todos os assentos ocupados, sente-se como o imperador Carlos Magno:

”Eu me sinto aqui como Carlos Magno. Quando eu tinha 11 anos de idade, eu ganhei um livro chamado “Carlos Magno e os 12 cavaleiros da Távola Redonda” e eu li aquele livro e era assim: os 12 cavaleiros.”

Claro, ele misturou as histórias do imperador europeu, que viveu entre os anos 742 e 814, e a Távola Redonda – lendária mesa redonda em torno da qual sentaram-se valorosos cavaleiros da corte do não menos lendário (ou fictício) rei Artur.

É fascinante a tara do Palácio do Planalto pela ideia de Michel, imperador.

O que seria um prato cheio para algumas sessões de psicanálise.

Quais os desejos reprimidos de Michel que estão sendo relegados ao inconsciente e explodem, aqui e ali, em declarações à imprensa dadas por ele ou seus subordinados?

Se pedissemos para que ele relaxasse e fizesse um exercício de livre associação, o que lhe viria à mente? Catapultas, cavalos, castelos, cruzadas, empalamentos?

Gosto dos políticos bem soltinhos, falando bastante. Mas fico preocupado que os falhos presidenciais, que aparecem na forma de exemplos à imprensa, não costumam envolver a democracia e a república.

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