SP – Fotógrafo do Justificando é detido e tem trabalho apagado após registrar arbítrio de PM

No Justificando

Na manifestação ocorrida na noite desta quinta feira, 8, o fotógrafo do Justificando Guilherme Rocha foi detido após registrar fotos da prisão de alguns manifestantes que não haviam cometido qualquer ilícito penal. Guilherme foi segurado pelo pescoço pelo comandante da tropa, que apreendeu a câmera fotográfica. Mais tarde, no Distrito Policial, a câmera foi devolvida, mas com as fotos deletadas.

O fato ocorreu na Rua Augusta, em São Paulo, no protesto contra o aumento das passagens de ônibus. Após início do confronto, a polícia militar avançou sobre os manifestantes e deteve alguns por “desacato”. A abordagem ocorreu de forma indiscriminada e manifestantes que não haviam se envolvido foram presos. Guilherme registrou em fotos e, enquanto trabalhava, teve voz de prisão decretada pelo capitão da tropa.

Ao tentar se desvencilhar da abordagem, Guilherme foi segurado pelo pescoço pelo capitão e brutalmente colocado dentro da viatura junto a outras 3 pessoas em espaço muito apertado – um dos detidos é asmático e teve dificuldades para respirar até a chegada ao Distrito Policial.

No Distrito, Guilherme foi atendido pelos Diretores Executivos do Justificando e Advogados Brenno Tardelli e Igor Leone. A atuação na repartição policial permitiu que ambos presenciassem cenas deploráveis no tratamento aos detidos, testemunhas e advogados. A sala de espera onde o fotógrafo, outras seis pessoas detidas e advogados aguardavam não tinha qualquer ventilação e a temperatura ultrapassou seguramente os 45º, sem que fosse fornecida qualquer acesso à água. O calor era tanto que muitos advogados e policiais que faziam a escolta não suportavam ficar no local.

Além disso, um adolescente que também foi detido apresentava um grave ferimento na cabeça. Entretanto, nenhum atendimento médico foi oferecido ao jovem. Uma Advogada Ativista dos Direitos Humanos teve de buscar um kit primeiros socorros e fazer o curativo por conta própria.

Quando chegou a hora de serem ouvidos, o fotógrafo e os manifestantes foram surpreendidos: a acusação que constava não era mais de desacato, mas sim de depredação em uma concessionária Fiat, de uma viatura da polícia militar e de resistência. Todos foram ouvidos e negaram veementemente a acusação. Na oitiva de Guilherme, constou que o cartão de memória de sua câmera fora deletado e suas fotos foram perdidas. O material foi enviado para perícia.

Paralelo aos detidos e à sala que assemelhava a uma caldeira, outro homem estava preso pelo suposto “porte de explosivo”. Seu advogado, Guilherme Perisse, dos Advogados Ativistas, denunciou que seu cliente estava preso no escuro em uma solitária. O Advogado também apresentou ao Delegado de Plantão um vídeo feito pelos Jornalistas Livres, que mostra um policial plantando evidências no momento da prisão. O vídeo teve de ser exibido em um celular de uma advogada, pois o computador do delegado sequer tinha acesso à internet. O manifestante preso foi ouvido e também liberado.

Ao final, o fotógrafo e quatro manifestantes assinaram um termo circunstanciado. O próximo passo é a intimação para audiência no Juizado Especial Criminal, que julga crimes de menor potencial ofensivo.

O Justificando manifesta seu total apoio ao fotógrafo Guilherme Rocha, como também repudia a autoritária, absurda e despreparada atuação das políciais militar e civil. O episódio ocorrido na noite desta quinta foi um grave ataque à liberdade de imprensa, pilar fundamental do Estado de Direito. O Justificando reitera sua solidariedade e prestará o apoio necessário para que o Guilherme tenha todo suporte jurídico no caso.

Repressão em São Paulo. Foto de Cris Faga, Folhapress.

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