Denúncia sobre a situação de caos da saúde indígena no Rio Negro

Saúde indígena aqui no Rio Negro morreu, mas onde foi parar o dinheiro que vem só aumentando, mas não tem resultados concretos nas comunidades indígenas?

Os povos indígenas representadas pelas suas lideranças organizada em uma federação fundada em 1987 denunciaram mais uma vez sobre a situação caótica da gestão e serviço de saúde indígena no Rio Negro neste início do ano.

A vítima da má gestão e não prestação de serviço de saúde são os povos indígenas que representam 10% da população indígena do país, distribuídas em mais 700 comunidade e sítios, 23 etnias diferentes pertencentes a quatro famílias linguística como Tukano Oriental, Aruak, Makus e Yanomami. São 25 pólos base organizados que atenderiam e prestariam este serviço de saúde nas comunidades indígenas de três municípios como Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira no Estado do Amazonas. Mas é essa organização e política que não funciona direito desde 2003 e vem piorando sempre e um pouco mais. Atualmente os pólos-base não tem mais infraestrutura, sem logística, sem equipamentos, sem medicamentos e outros, descasos e omissão são conteúdo da denúncia que questiona: para onde foi parar o dinheiro da saúde indígena?

A denúncia foi pública e assinada com título “O calvário indígena no rio Negro” – Saúde indígena do rio Negro morreu, levando junto à morte de muitos indígenas com doenças de causas curáveis foi encaminhada via e-mail e correio pela FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro para Ministério da Saúde – MS; Secretaria Especial da Saúde Indígena – Sesai; Conselho Nacional de Saúde – Cns; Fórum dos Presidentes dos Condisi’s; Secretaria de Direitos Humanos; Presidente do Conselho Nacional de Política Indigenista – Cnpi; Presidente da Fundação Nacional do Índio – Funai; Secretaria Geral da Presidência da República; Ministério Público Federal no Amazonas; 6ª Câmara do Ministério Público Federal solicitando providências que promovam melhoria na gestão e serviço prestado aos povos indígenas em suas comunidades.

Nos últimos quatro anos (2012-2016) aqui no alto Rio Negro a história se repete com o mesmo enredo, agora com requintes de insanidade e descaramento. O problema central apontado pelas lideranças é um conjunto dos resultados acumulados dos 04 coordenadores do DSEI RIO NEGRO nomeados pelo secretário da SESAI por negligenciar os problemas de saúde da população que reside nas aldeias (coordenadores nomeados: Luiz Lopes, Alexandre Cantuária, Ângelo Quintanilha e atualmente a Ilma Lins de Souza).

A denúncia formulada e encaminhada teve impacto imediato na gestora atual e sua equipe. Sobre o caso que envolveu uma paciente idosa, a coordenadora reagiu com ameaças de demissão de todo o quadro de profissionais do serviço de referência local (Casa de Saúde do Índio/CASAI) e também com ameaças de retaliações e denúncias contra as lideranças indígenas representadas.

Embora a retórica do discurso da Secretaria Especial de saúde Indígena (SESAI) seja alardeada de tons de democracia com uma suposta ampla discussão com os povos indígenas para o compartilhamento de seus problemas, e ainda de enaltecer os Conselhos Distritais de Saúde Indígena (CONDISI) como a instância deliberativa das necessidades da população indígena, na verdade a SESAI  adota uma política impositiva e arbitrária de indicação de gestores para gerenciar os DSEIS onde estes se submetem aos caprichos do secretário da SESAI e ignoram os problemas de saúde da população indígena; alguns deles não possuem nenhuma habilidade ou mesmo capacidade gerencial  e transformam seus cargos em patrocinadores eleitorais e seu gabinete de trabalho em comitê eleitoral para fazer acordos políticos com aqueles que pretendem usar os recursos da saúde indígena como trampolim para seus almejados cargos políticos ou manutenção no poder.

A denúncia é único instrumento da sociedade civil organizado e deve ser usada segundo o movimento indígena que busca exigir, com estas ações, uma discussão concreta e uma resolução sobre os problemas de financiamento do serviço de saúde local, a aplicação correta dos recursos destinados à saúde indígena e principalmente, o direito de ser consultado sobre a escolha do gestor que deverá gerenciar este serviço de saúde, para que não ocorram escolhas catastróficas, onde apenas a população indígena acaba pagando pelas escolhas equivocadas e pretensiosas que objetivam apenas interesses partidários e pessoais daqueles que assumem os cargos nos DSEIs e também daqueles que por hora ocupam os altos cargos no governo central. Sobre isso a indignação é: tem muito dinheiro na saúde indígena, mas não funciona. Mas aonde foi parar o dinheiro da saúde indígena? Esse questionamento é do conselheiro local de saúde indígena Baniwa professor participante da reunião do Conselho Diretor da FOIRN.

O descaso, negligencia e omissão da gestão da saúde indígena também foi denunciada desde o ano de 2009 na maior emissora de televisão do país divulgado durante uma semana, em horário nobre em uma série de reportagem sobre o alto Rio Negro, e uma dessas reportagens enfatizava a decadente situação de saúde nas comunidades indígenas, inclusive com exibição de um cemitério em uma aldeia que retratava a mortandade de indígenas da etnia Hupdah por causa da desassistência.

Como se vê para os povos indígenas não lhe resta dúvidas de que seus direitos de saúde estão sendo violadados e questionam: mas onde foi parar o dinheiro que vem só aumentando, mas não tem resultados concretos nas comunidades indígenas?

Os povos indígenas do Rio Negro querem saber para onde foi parar o dinheiro da saúde indígena. Alguém é responsável pela má gestão que por consequência não tem presença de equipes multidisciplinares de saúde nas comunidades indígenas. Os indígenas foram informados que ano passado o dinheiro da saúde indígena era de mais 1 bilhão de reais.

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Algumas das fotos enviadas com a denúncia

Remoção de paciente pelo DSEI Rio Negro
Remoção de paciente pelo DSEI Rio Negro
Medicamentos vencidos
Medicamentos vencidos
Equipamento que nunca foi utilizado
Equipamento que nunca foi utilizado
Paciente com prolapso de útero necessitando de tratamento urgente
Paciente com prolapso de útero necessitando de tratamento urgente
Combustível armazenado dentro do Polo Base
Combustível armazenado dentro do Polo Base
Remoção de paciente no Rio Papuri
Remoção de paciente no Rio Papuri
Motores sucateados DSEI Rio Negro
Motores sucateados DSEI Rio Negro

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Contato para esclarecimentos:

Isaias Fontes – 97 981042184
Marivelton Barroso – 92 991500517
Renato Matos – 92 981124208
André Baniwa 97 981216181 ([email protected])

 

Comments (5)

  1. Anos a fio tenho lido sobre esses graves problemas que não são devidamente equacionados por quem deveria (Funai, Min. Saúde, Funasa, Sesai?). A foto com deslocamento de órgãos reprodutores da índia é uma das mais chocantes que vi… É verdade que no Rio de Janeiro as coisas não estão melhores, no entanto não podemos nivelar tudo por baixo, pelos piores parâmetros, ainda que o ministro da fazenda faça comentário frios quando lhe são apresentados os números em todos os setores produtivos, após uma arrecadação de 2 trilhões de reais.. Dilma hospeda-se em hotéis de luxo, quando da sua viagem, o Zé Dirceu quer 10.000,00 por mês de aposentadoria quando sequer contribuiu por 15 anos, o palácio do planalto tem um quadro servidores maior do que o da Casa Branca, vai por aí. A sociedade não pode ficar indiferente a essa baderna, descaso em todos os quadrantes.

  2. O cenário d saúde indígena, para muitos profissionais q não tem compromisso e seriedade, transformou-os num cargos políticos visíveis lamentavelmente em uns municípios e permanece na mesmice. Sem dúvida, existem sim, profissionais que abraçam a causa e tem imensa responsabilidade na função que desempenham . Vive-se atualmente de fato, uma demanda diferente daquilo que tem sido estimado e planejado, sem esquecer da situação logística de cada localidade, suas especifidades e desafios. Precisa sim, urgentemente, os organismos existentes, qual a denúncia foi direcionada tomar devidas providências, porque os povos indígenas merecem respeito assim como cada funcionário merece. Se houve infrações no contexto abordado, que a justiça seja feita. Numa denúncia para” Alô Amazonas”… Mencionei sobre isso!

  3. Um descaso total com a populaçao que depende do atendimento, assim como falta de respeito com os funcionarios que ficam 2 meses ou mais com salarios em atraso.

  4. O atendimento a saúde indígena é precário na região. O atendimento que até hoje é realizado está defasado e não atende a atual demanda. É preciso definir um novo plano e/ou projeto na área de saúde para a região: Um projeto audacioso: Recursos humanos específico e qualificado, transporte adequado pra transporte de paciente, criar unidades de pronto atendimento nos pontos estratégicos das calhas de rios, adquirir materiais necessários pra as unidades de pronto atendimento (equipamentos de 1os socorros, odontológicos, cirúrgicos, medicamentos etc.).

  5. De fato é lastimável e triste a situação de abandono e sofrimento dos parentes indígenas em varias regiões do país. Sou do estado de Mato Grosso do Sul, o segundo estado com maior numero de populações indígenas do pais e faço a mesma avaliação: O que está acontecendo na gestão da saúde indígena, na aplicação dos recursos financeiros e nos resultados práticos e concreto de toda essa força de trabalho que foram contratados nos últimos cinco anos? Quando a FUNASA deixa a saúde indígena tínhamos o seguinte cenário: orçamento em torno de 600 milhões. Hoje na SESAI o valor praticamente dobrou com 1.100.000.000 – 1 bilhão e 100 milhões. O numero de profissionais contratados quase dobrou hoje com aproximadamente 17 mil profissionais contratados… E cade os resultados de tudo isso? Não estão sendo resolutivos… Problemas de gestão? Autoritarismo, imposições, cooptação e assédio moral, isso tem sido as marcas e as bandeiras de uma SESAI que nós lideranças indigenas ajudamos a criar para salvar vidas e valorizar lideranças e movimento indígena, pois somos nós que estamos nas bases e somos a razão da existência de toda essa estrutura, logo exigimos respeito.

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