Pedra de Xangô, em Cajazeiras X, será tombada pelo município até julho

A pedra é considerada um monumento sagrado e é um símbolo da luta dos escravos

Por Vanessa Aragão, no Correio 24horas

Os atabaques soaram por volta das 9h, ontem, em Cajazeiras X. Os cânticos começaram e uma roda de dança com mães e pais de santo e adeptos do candomblé foi formada, saudando Exu. Era o início da VII Caminhada da Pedra de Xangô, que saiu do começo da Avenida Assis Valente e foi até a Pedra de Xangô, a quase 2 quilômetros.

O evento acontece há sete anos, sempre no segundo domingo de fevereiro. “É a quarta vez que venho. Sou do axé e é importante estar aqui, porque fortifica o movimento, e nós temos que nos unir em prol da nossa religião”, afirma Mãe Gil, que mesmo com uma bengala para ajudar na locomoção, fez questão de fazer todo o trajeto.

A pedra é considerada um monumento sagrado pelos religiosos de matriz africana. É também símbolo da luta dos escravos por estar em uma área que já foi um quilombo.

A pedagoga Tâmara Silva levou o afilhado de 6 anos. “Vim ano passado pela primeira vez e o que me motivou a voltar é esse movimento em relação à pedra, que, para a gente, do axé, é um símbolo de paz e proteção. Trouxe meu afilhado porque é essencial saber, desde a infância, as raízes de onde ele veio”, contou.

Ao chegar em frente à pedra, o cortejo encontrou-se  com rodas de  capoeira e um Xirê — dança de saudação e celebração a Xangô. Muitas pessoas aproveitaram para colocar suas mãos e cabeças na pedra, ao passo que os ogãs tocavam, numa manifestação conjunta de danças, saudações, incorporação de orixás, agradecimentos e pedidos.

Por fim, uma oferenda foi colocada em cima da pedra e pombas brancas foram soltas.

Foto de Marina Silva /Correio
Foto de Marina Silva /Correio
Foto de Marina Silva /Correio
Foto de Marina Silva /Correio

Tombamento

Presente ao evento, o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, anunciou que o local será tombado — uma demanda antiga dos organizadores do evento. “O próximo tombamento do município é a Pedra de Xangô. Até junho ou julho, ela estará tombada. Num cenário de intolerância religiosa, é importantíssimo marcar espaço. A ideia inclusive é ter um parque, para preservar também toda a área verde em torno do local”, adiantou. “É uma pedra sagrada, tem importância histórica,  numa região que está correndo um risco grande de especulação imobiliária”, explicou.

“É a preservação do nosso santuário. Toda essa caminhada, nesses sete anos, é pra buscar esse tombamento. Saber que começamos com 30 pessoas e hoje ter 500 ou 700 mostra como isso se fortaleceu. Pra mim é uma emoção imensurável”, comemorou Mãe Iara de Oxum, idealizadora da caminhada.

Foto de Marina Silva /Correio
Foto de Marina Silva /Correio

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Thiago Hoshino.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

4 × 3 =