Projeto Babilônia: Sol clareia noite em favela carioca

Por Zoraide Vilasboas*

No dia 30 de janeiro deste ano, o crepúsculo aconteceu no Rio de Janeiro, mas não levou com ele a potência do sol. Pelo menos foi assim no Morro da Babilônia (Leme), onde 32 placas captadoras de energia clarearam o território de atuação da RevoluSolar, associação cidadã, sem fins lucrativos, futura cooperativa de produção de energia renovável no Brasil.

Na primeira noite iluminada pela força do astro rei, no Mirante da Babilônia (Praça Walace Almeida por Direitos Humanos – Espaço para a Cultura da Paz e a Não Violência), representantes de várias entidades e comunitários presentes à inauguração das primeiras placas fotovoltaicas da favela, manifestaram um só desejo: que o projeto piloto tenha êxito e a abundância do sol se espalhe pelos telhados da Babilônia, das comunidades da “cidade maravilhosa” e, de lá, para os telhados de todo o Brasil! Durante o dia, a comunidade se dedicou ao mutirão da Favela Orgânica, (plantio de mudas, inclusive de ervas medicinais, todas com plaquinhas identificadoras, e distribuição de folhetos informativos).

Benefícios ambientais e econômicos

O presidente da RevoluSolar Pol DHuyvetter afirmou que “este projeto é um exemplo de desenvolvimento sustentável, com benefícios sociais, econômicos e ambientais”. Entre os argumentos em favor da expansão da microgeração dessa fonte renovável, citou os ganhos econômicos para os consumidores, “que passam de meros explorados pelo monopólio a produtores de sua própria eletricidade.”

André Luiz Abreu de Souza presidente da Associação de Moradores da Babilônia avaliou criticamente os cinco anos de UPP na Babilônia, “onde pouca coisa mudou. A integração que pretendemos não é o turista, a classe média, subir à favela. Queremos a garantia dos nossos direitos.” Segundo ele, tem moradores que pagam de R$500,00 a R$1.000,00 para a Light e não se leva em conta a realidade da favela. Por isto, a Associação chama a atenção dos comunitários para o enorme beneficio da instalação de placa solar em seus telhados.

O comerciante Eduardo Figueiredo, um dos técnicos responsáveis pela implantação das placas na Babilônia, lembra que o preço da eletricidade no Rio quase dobrou nos últimos dois anos (R$ 0,48kWh em janeiro/14, para R$ 0,90 kWh em janeiro/16). Ele, que vinha sofrendo muito com a conta de luz (R$1.800,00/mês), pagará cerca de R$200,00. A sobra pagará o parcelamento da placa.

No Brasil, infelizmente temos uma tradição pouco participativa na questão da energia e a politica energética é muito discutível, disse o diretor da Fundação Heinrich Böll Dawid Bartelt. “Tenho certeza que este projeto brasileiríssimo, de vocês, dará autonomia a essa comunidade, que deve buscar enraizar o uso da energia renovável no morro e sua expansão pelo país”.

Nossa Casa Solar

No evento, informamos que a Articulação Antinuclear Brasileira (AAB) tem interesse em cooperar com a RevoluSolar pois sua proposta anima todos que defendem o fim do programa nuclear brasileiro. Afinal, como celeiro de fontes renováveis, o Brasil não precisa de energia atômica, cara, insegura e perigosa. O Brasil ainda não adota o sistema de produção descentralizada de energias e a AAB reafirma sua opção pelas fontes renováveis, com justiça social e ambiental, principalmente através da mini e microgeração distribuída da energia.

Júlio Holanda, da Frente por uma Nova Política Energética, apontou os desafios que terão que ser vencidos para se atingir as metas da Frente, uma rede nacional de entidades articuladas em torno do lema: Energia para a Vida. A luta é pela adoção de linhas de créditos específicas, de incentivos e políticas públicas que possibilitem expandir essa fonte na matriz energética brasileira, como a “tarifa prêmio”, que garantirá um complemento de renda aos adotantes do sistema.

É possível fazer em cinco anos a transição de toda a energia produzida com queima de diesel, gás e carvão para a energia fotovoltaica descentralizada, contribuindo para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa e com redução de custos e do uso de recursos públicos, segundo estudo realizado pela LCA Consultores e a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e o WWF.

Mas só a pressão da sociedade civil, garantirá a criação e expansão de linhas de crédito e formas de financiamento de projetos para a instalação de sistemas de geração distribuída nas residências, como prevê o Programa de Geração Distribuída, lançado pelo governo federal em dezembro passado. Por isto, a sociedade precisa reforçar a campanha Nossa Casa Solar, da Frente por uma Nova Política Energética (veja AQUI), que exige a criação de um fundo público nacional para financiar a instalação de energia solar nas residências. A economia gerada com esse sistema pagará pelos custos do financiamento e contribuirá para termos rapidamente uma transformação positiva na nossa matriz energética e, com certeza, a natureza agradecerá!

Comunitários construindo e protegendo a natureza
Comunitários construindo e protegendo a natureza

Projeto Babilonia 2

Projeto Babilonia 4
Alegre, o eletricista Adalberto Almeida instala o primeiro inversor fotovoltaico da favela
Projeto Babilonia 3
Esforço coletivo… e o sonho se torna realidade

Zoraide Vilasboas é da Articulação Antinuclear Brasileira e do Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania.

Fotos: RevoluSolar e MPJ

 

Comments (1)

  1. Desejo todo sucesso e que a turma sinta grande satisfação com esse esforço valioso.
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