STF abre inquérito contra Pedro Paulo e manda ex-mulher prestar novo depoimento

Extra

BRASÍLIA – O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, nesta quinta-feira, abertura de inquérito contra o secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo, por lesão corporal. Ele é acusado de ter agredido a ex-mulher, Alexandra Marcondes Teixeira, em 2010. Conforme pedido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Fux ordenou que seja colhido novo depoimento da vítima “para justificar sucessivas alterações na sua versão do ocorrido, esclarecendo o que efetivamente ocorreu”.

Também serão ouvidos Ana Paulo Bernardes, empregada da família que teria presenciado o episódio, e o policial que assinou o exame de corpo delito no dia da agressão. Os interrogatórios serão realizados pela Polícia Federal, que tem prazo inicial de 30 dias.

Os advogados de defesa de Pedro Paulo apresentaram um vídeo em que sua ex-mulher expõe uma outra versão para as agressões que diz ter sofrido, em 2010. Em depoimento à Polícia Civil, após o episódio, Alexandra afirmou que foi empurrada por Pedro Paulo, levou socos e pontapés e teve um dente atingido. Na gravação, revelada pela revista “Veja” na noite de quarta-feira, ela diz que foi para cima dele e admite os empurrões, mas afirma que Pedro Paulo apenas se defendeu.

“Os dois perderam a cabeça. Eu parti para cima dele? Eu bati no Pedro Paulo? Bati. Óbvio que eu bati. E ele se defendeu, óbvio que ele se defendeu. E nessa coisa de se defender, ele é muito maior do que eu. ‘Ai, sai daqui, vai para lá’. Você faz um ‘vai para lá’, você cai. Aí você levanta, vai de novo, empurra, você cai, aí você levanta de novo”, afirma Alexandra. “Entrei na frente dele para ele não abrir a porta (do quarto), e aí foi quando ele me pegou e falou ‘você para, Alexandra’. Ele me pegou e falou ‘você vai parar’ (fazendo gestos de alguém que segura o outro pelos braços)”

PEDRO PAULO TEM FORO PRIVILEGIADO

O caso foi aberto na primeira instância do Judiciário, mas foi transferido para a mais alta corte do país porque Pedro Paulo é deputado federal. Embora licenciado, ele mantém o direito ao foro especial. O secretário é pré-candidato na disputa para a prefeitura do Rio, com o apoio do ocupante atual do cargo, Eduardo Paes.

Segundo a ocorrência policial, Alexandra teria chegado em casa de uma viagem e encontrado indícios de traição: cabelos longos no ralo do banheiro, duas taças de vinho e um sutiã que não era dela na cozinha. O marido não estava em casa. Quando ele chegou, ela teria pedido a separação, o que teria dado início a uma discussão. Durante a briga, Pedro Paulo teria derrubado a mulher no chão e iniciado agressões físicas. Depois que o caso veio à tona, o secretário tentou minimizar o fato.

— Quem não tem uma briga, um descontrole, quem não exagera numa discussão? A gente às vezes exagera, fala coisas que não deve. Quem não tem essas discussões e perde o controle? A gente perde o controle e tem discussões — disse em entrevista concedida à imprensa em novembro do ano passado.

Alexandra também saiu em defesa do ex-marido diante de jornalistas:

— Qualquer casal tem brigas. Quem estava entre quatro paredes era eu e ele. As pessoas erram e eu vim dar a cara a tapa. Nós erramos mas superamos isso e viramos essa página — afirmou.

Também está nas mãos de Fux outro inquérito contra Pedro Paulo. O primeiro caso chegou ao STF em janeiro e trata de boca de urna. A lei eleitoral proíbe a propaganda no dia da eleição e prevê punição de seis meses a um ano de detenção, mais pagamento de multa, para quem adota a conduta. Antes de iniciar a investigação, o ministro quer saber se Janot concorda com a continuidade das apurações, já que o caso veio da primeira instância.

Pedro Paulo tem outros episódios de agressão registrados em sua ficha corrida. Em 2008, Alexandra registrou queixa na polícia dizendo que tinha sido ameaçada pelo então marido. O secretário também é acusado de ter ameaçado e dado um tapa em um fotógrafo morador do Morro Camarista Méier em agosto de 2014, em um evento de sua campanha a deputado federal. Foi registrado boletim de ocorrência na ocasião.

Segundo o fotógrafo André Luís Bezerra, Pedro Paulo fazia campanha na comunidade quando alguns moradores afirmaram que ele estava fazendo “propaganda enganosa” por afirmar que era o responsável por obras de pavimentação em três ruas. De acordo com os moradores, as intervenções haviam sido feitas a pedido de outro deputado. Ao perceber que Bezerra filmava tudo,Pedro Paulo se irritou e teria mandado ele apagar as imagens. O fotógrafo contou que levou um tapa no peito e que o secretário arrancou o celular da sua mão.

— Ele me disse que ia jogar o telefone no chão, mas eu pedi para ele me devolver e disse que ele estava agredindo um profissional de imprensa. Quando peguei o celular de volta, falei que era comprado com meu trabalho e não com dinheiro sujo da política — disse Bezerra ao GLOBO no ano passado.

O morador disse que, depois da investida de Pedro Paulo, ele teria sido cercado por assessores e obrigado a apagar os registros. Antes de ir embora, Pedro Paulo ainda fez ameaças, segundo Bezerra. Esse caso estaria sob a análise da Procuradoria Geral da República e ainda não chegou ao STF.

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