Aldeias Pataxó sofrem reintegração de posse mesmo com liminar pedida pelo ICMBio suspensa. Agentes dizem que “não sabiam”

Os agentes que executaram alegaram que não tiveram conhecimento da suspensão da liminar. E só não cumpriram a ordem de reintegração na Aldeia Tibá porque estava marcado para segunda-feira. Felizmente, desta vez foi sem violência física, pelo menos

Por Paulo de Tássio Borges da Silva, no Combate Racismo Ambiental

Ontem, duas aldeias Pataxó na região do Território Kaí-Pequi (Aldeia Alegria Nova e Aldeia Monte Dourado) sofreram reintegração de posse e suas famílias foram despejadas com adultos, crianças e velhos. A ação foi impetrada pelo Instituto Chico Mendes – ICMbio, que gerencia o Parque Nacional do Descobrimento, sobreposto ao Território Pataxó Kaí-Pequi.

Os conflitos do ICMbio com os Pataxó na região não são de agora, tendo várias pesquisas de mestrado e doutorado já evidenciado a questão. O Parque Nacional do Descobrimento está pautado num enfoque ecológico baseado no mito da natureza intocável, sendo uma Unidade de Conservação Integral que não permite a presença de seres humanos.

Inúmeras foram as denúncias de que o Povo Pataxó estava sendo impedido de reproduzirem-se material e imaterialmente em seu território, tendo em vista as proibições da coleta do Tawá (barro) para a pintura corporal, a fibra para fabricação do tupsay e frutos destinados à pintura corporal. Outras denúncias partem de impedimentos do ICMbio na construção de uma Educação Escolar Indígena Pataxó de qualidade, uma vez que impedem a construção de escolas, poços artesianos e outras estruturas que dariam condições mínimas de qualidade à educação escolar indígena.

A liminar de reintegração de posse impetrada pelo ICMbio foi suspensa quase às vésperas de invadirem e violentarem a Aldeia Tibá, que vem funcionando como Etnomuseu Kijeme da Zabelê, uma local de suma importância cosmológico e cultural para os Pataxó, tendo em vista que o espaço reúne objetos de uso cotidiano de Zabelê, fotografias, relatos, memórias orais, e outros sentidos que fazem parte do patrimônio material e imaterial Pataxó, o que contribui com a efetivação da Lei 11.645/2008, recebendo alunos (as) de diversas escolas do Extremo Sul Baiano. Há de se dizer, ainda, que no Etnomuseu Kijeme de Zabelê reside o Sr. Manoel Fragoso, de 92 anos, companheiro da Zabelê, que fortemente foi abalado com o possível despejo do seu lar.

Diante de tais acontecimentos, cabe aqui o nosso repúdio ao Racismo Ambiental propagado pelo ICMbio.

Ilustração de Zig Pataxó
Ilustração de Zig Pataxó

Paulo de Tássio Borges da Silva é doutorando em Educação/Proped- UERJ e Professor na Licenciatura Intercultural Indígena Tupinkim e Guarani – UFES.

Comments (5)

  1. Olá, Bruna!
    O texto politicamente tem um lado, o do Povo Pataxó. É do conhecimento de todos as estratégias de dizerem que os povos indígenas do nordeste, em particular os da Bahia, são pseudo índios. Foi assim em Buerarema com o povo Tupinambá, na região de Olivença, na região de Pau-Brasil com o Povo Pataxó Hã Hã Hãe e por aí vai.
    A grande questão é que as construções dos Parques se fizeram na categoria Unidade de Conservação Integral, mesmo sabendo que debaixo daquela mata havia uma população tradicional. Isto é problemático. A saída é uma gestão compartilhada de tais unidades, transformando-as em Unidades de Conservação Extrativista. Há experiências fantásticas de comunidades Pataxó com reflorestamento, agroecologia, sistemas agroflorestais, etnoturismo e sustentação. Algumas inclusive premiadas e utilizadas como referência no país, como a Reserva da Jaqueira e Aldeia Velha.

  2. Também achei a publicação unilateral! Antes de falar sobre racismo ambiental deveria-se apresentar os dois lados da moeda, concordo que a União é confusa, pois Constitucionalmente garante o território de identidade como lei fundamental! Entretanto por outro lado tende a proteger integralmente áreas preservadas…aqui o melhor é a dupla afetação!!!

  3. não publiquem essas besteiras antes de terem todas as informações. com certeza não conhecem a realidade dos pseudoindios que estão queimando o PND. saiam de suas cadeiras e vão ver a realidade.

  4. Paulo. Doi efetuada a reintegração de posse nas aldeias Alegria Nova e Monte Dourado? Ou nao? Que podemos fazer para apoiar? Att. Profa. Dra. Rocio Alvarez. UFSB.

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