Julián Fuks, um dos expoentes da nova geração de escritores brasileiros, escreveu um artigo a pedido do jornal francês Le Monde sobre a crise brasileira. Ele autorizou a publicação, aqui no blog, antes do texto sair por lá. É uma análise à esquerda, que critica o governo e os protestos, e nos lembra, nesse período difícil, que, apesar das trevas, sempre há um amanhecer. Julián Fuks é autor de livros como A Resistência, Procura do Romance e Histórias de Literatura e Cegueira.
No blog do Sakamoto
Erro das narrativas apocalípticas é não lembrar que há um amanhecer, por Julián Fuks
Um alarido ensurdece a cidade. Afasto-me da escrivaninha onde não tenho conseguido produzir nada, afasto-me deste texto que ainda não dispõe sequer de uma palavra, e observo o ruído intenso a se criar. Pela janela vejo sacadas ocupadas por homens e mulheres eufóricos, seus rostos brancos contorcidos pela raiva, seus olhos ofuscados pelo brilho das panelas que eles batem com alarde. Quero lhes pedir que parem, quero lhes dizer algo forte que ainda não me ocorre, uma ânsia de palavras me convoca, mas sei quanto é inútil falar. No Brasil das panelas, ouvir é uma virtude em falta. Este país que grita tem pouco ou nada a dizer, quer apenas emudecer tudo quanto lhe desagrade. No país das panelas, discordar é a ofensa mais grave – ninguém quer aceitar qualquer dúvida que possa abalar tantas verdades tácitas. (mais…)
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