SP – CDHU desiste de construir duas torres de apartamento para atender removidos por obras do Metrô

Companhia alega não haver demanda, mas urbanistas e afetados por remoções discordam.

Por Gisele Brito, da Redação Brasil de Fato

Depois da remoção de duas comunidades na região do Campo Belo, zona sul de São Paulo, para a construção da linha 17-Ouro do Monotrilho, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) desistiu de construir duas das seis torres que haviam sido planejadas nos terrenos que ficaram vazios após a expulsão das famílias. Para os ex-moradores da área, a CDHU alega que não há demanda para as unidades habitacionais, mas tanto quem vivia ali quanto urbanistas discordam da posição do órgão.

Entre 2012 e 2015, mais de 400 famílias foram removidas das favelas do Buraco Quente e do Comando. As duas comunidades ficavam próximas ao trajeto do monotrilho, originalmente anunciado para 2012, mas que, no final do ano passado, teve suas obras paralisadas até 2017.

A maior parte das famílias aceitou a proposta da CDHU e do Metrô de serem indenizadas em vez de aguardar uma unidade. Para a Companhia, isso eliminou a demanda habitacional gerada pelas obras do Metrô na região.

Entretanto, para Karina Leitão, a coordenadora do Observatório das Remoções e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a demanda não só existe como é grande, apesar de ainda não poder ser quantificada. Para ela, o governo do estado entende o termo “demanda” de maneira “estreita”.

“Muita gente que saiu do Comando e do Buraco Quente foi morar em comunidades a 40 quilômetros de onde morava. Ou recebe uma bolsa-aluguel de R$ 400, que é um mecanismo muito precário. Então existe uma demanda, sim”, afirma Karina.
Dados

O Metrô não divulga em seus documentos públicos a quantidade de famílias que pretende remover em suas obras. A reportagem questionou a CDHU sobre o tamanho da lista de espera em programas habitacionais na cidade, mas não obteve resposta. O Metrô também não respondeu quantas pessoas aguardam a construção de moradias em função da expansão do sistema de transporte, nem por que não manteve o projeto original na comunidades do Comando e Buraco Quente.

Afetados

“Eu aceitei o dinheiro porque não tinha como ficar lá, mas era muito pouco. Com ele, só dá para morar em outra comunidade. Daí daqui a pouco eles tiram a gente de lá e pronto”, afirma Edilaine Pereira de Araújo, que morou no Buraco Quente por sete anos. Ela diz que aceitou os R$ 60 mil de indenização porque os agente da CDHU prometeram que seus dois irmãos, que viviam no local antes de serem presos, teriam direito a uma casa. “Mas eles mentiram pra mim. Agora quando eles saírem não terão onde morar”, explica.

Ao longo da linha 17-Ouro, 130,6 mil metros quadrados  foram decretados como de utilidade pública pelo governo do estado. Outras sete linhas (2-Verde, 4-Amarela, 5-Lilás, 6-laranja, 15 – prata e 18-bronze) também têm decretos que autorizam desapropriações.

“Eles falam como se não houvesse demanda de moradia na cidade. Mesmo nas duas comunidades, muita gente saiu porque eles pressionaram para isso. Outros não conseguiram indenização, nem garantia de apartamento. Nosso medo é  que, como ali é uma área de grande especulação imobiliária, eles usem o terreno para sabe-se lá o quê, em vez de construir moradias populares”, afirma Geilson Sampaio, ex-morador do Comando.

Karina afirma que a atuação do Observatório das Remoções – grupo mantido pela Universidade de São Paulo, Universidade Federal do ACB e Universidade Federal da Integração Latino-Americana – busca obter informações para combater remoções sem necessidade.

“A gente faz parte de um grupo de pesquisa que busca justamente obter e qualificar essa informação. São muitas comunidades afetadas por obras e não há clareza sobre os números. A falta de informação prejudica demais, age em favor das remoções, que muitas vezes são desnecessárias”, afirma Karina Leitão.

Crédito da Foto: RBA/Danilo Ramos

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