por Carlos Eduardo Marques
Nos últimos tempos, alguns setores tem promovido um massacre religioso contra as Religiões Tradicionais de Matriz Africana, perpetrando uma contínua, incansável, declarada e brutal perseguição aos praticantes dessas religiosidades.
Os principais alvos são o Candomblé e a Umbanda, religiões brasileiras edificadas com base nas tradições milenares de culto aos Orixás, N’kisis e Voduns. Religiões estas que são modos de resistência do povo negro e contribuem de forma significativa para a formação nacional brasileira através de seus saberes, fazeres, viveres que tanto qualificam a vida das pessoas quanto os processos culturais e de identidade dos brasileiros.
No entanto, a violência contra os afro-religiosos vai muito além da desvalorização de suas experiências culturais e sagradas. Para as comunidades tradicionais de matriz africana, os danos causados pela intolerância à diversidade cultural e religiosa são incalculáveis, atingindo desde os seus espaços sagrados e seus templos, que são destruídos e fechados, até agressões diretas aos praticantes como o ocorrido na sexta-feira última no Terreiro de Manzo.
Na sexta-feira última dia 25/03/16 , enquanto membros do Terreiro faziam preparativos e rituais para uma festa a ser realizada no sábado ultimo, um vizinho da comunidade, que se apresenta como policial militar e evangélico atacou um dos membros da comunidade, chegando inclusive a lhe dar voz de prisão, após lhe agredir com xingamentos racistas e de baixo calão em flagrante ato de INTOLERANCIA RELIGIOSA E RACISMO. Não contente se dirigiu a matriarca e líder religiosa da comunidade em termos pejorativos, como “macaca” e ameaçou caso a festa ocorresse colocar “fogo no Terreiro”. Mametu Muiandê, a matriarca e liderança religiosa da Comunidade vilipendiada em termos tão desumanizadores é referência no Candomblé da Nação Angola em Minas Gerais e em todo Brasil, razão pela qual, é atualmente Professora Mestra por notório saber do Curso de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Diante de ameaças – ressalte-se que não são as primeiras – a Comunidade e suas lideranças comunicaram o fato a Polícia Civil e ao Ministério Público para que esses tomem as devidas providencias. É NECESSÁRIO REFORÇAR QUE NÃO SE TRATA DE UM DESENTENDIMENTO DE VIZINHANÇA, MAS UM CRIME DE CONOTAÇÃO RACISTA, uma vez que se buscou atacar e atingir a COMUNIDADE e SUAS LIDERANÇAS EM RAZÃO DE SUA FÉ E SUA CRENÇA.
Diante disso, nós que assinamos essa nota, solicitamos:
1) Que seja instaurado um inquérito civil público e criminal para a apuração dos fatos apresentados;
2) Que sejam ajuizadas ações de cunho civil e criminal, objetivando a aplicação de sanções penais e civis, mas principalmente visando o combate ao RACISMO e a INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.
O Povo de Santo, em particular os quilombolas e candomblecistas de Manzo já vitimado por tantos atos de violência – inclusive estatais – é alvo de mais uma manifestação de ódio. Manifestamos assim nosso apoio e solidariedade a luta de Manzo, que é a luta de todos nós por uma sociedade mais justa, democrática e plural.