Xavante realiza sonho de cursar Medicina, mas sofre até para comprar o jaleco

Primeiro indígena de comunidades tradicionais no curso de Medicina, Wellington Tserenhiru é Xavante e quer concluir os estudos, mas encontra problemas financeiros

O Popular

Após a morte do pai, em 2014, o índio Xavante Wellington Tserenhiru Urebete, de 30 anos, decidiu buscar o sonho de cursar Medicina. Tentou o ingresso em universidades do Mato Grosso, mas foi no programa UFG Inclui, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que ele conseguiu realizar seu projeto. Participando das aulas desde março, ele já enfrenta algumas dificuldades.

A limitação financeira é a principal delas. Vindo de família simples, morador de uma comunidade indígena sem muitos recursos em uma cidade próxima a Barra do Garças (na divisa de Mato Grosso e Goiás), ele não pode trabalhar porque o curso é em tempo integral. Ele já conseguiu ajuda de colegas e de uma irmã para pagar o aluguel do primeiro mês de uma quitinete alugada no Setor Leste Universitário.

Wellington busca apoio no programa UFGInclui. Assim como ele, outros 87 alunos ingressaram na universidade pelo programa inclusivo, voltado para indígenas e quilombolas. “São alunos que vêm com interesse em voltar para suas comunidades e reverter tudo que aprenderam aqui. Isso é muito legal”, diz o coordenador do programa, Jean Baptista.

Uma das dificuldades de Wellington era conseguir dinheiro para comprar o jaleco, obrigatório em algumas aulas do curso. Ele chegou a ser impedido de assistir a uma aula pela falta do item. O coordenador do programa conseguiu a colaboração de outros colegas e o jaleco foi adquirido. “Tenho certeza que vou ter dificuldades enormes, mas não penso em desistir”, diz o xavante.

Jean Baptista informou que, tanto para Wellington foi oferecida uma bolsa inicial no valor de 900 reais. O valor deveria cobrir as despesas até que o benefício do governo federal, chamado Bolsa Permanência, seja liberado.

TRÊS PERGUNTAS PARA WELLINGTON

1 – Por que escolheu o curso de Medicina?

Na nossa aldeia falta muita coisa e uma delas é a assistência médica. Não tem profissional para atender a demanda. Hoje somos uma população que cresce bastante, mas que não atrai o profissional que visa o lucro. Pra ficar lá, tem que ter amor pelo lugar. Desejo de ajudar. Desde que meu pai morreu, em uma UTI de hospital, e não pude fazer nada, entendi que eu deveria fazer algo para ajudar o meu povo.

2 – Então seu plano é voltar para sua aldeia depois de formado?

Com certeza. Quero voltar e atuar como médico. Meu povo me deu essa oportunidade para isso. Essa vaga que eu consegui foi mediante uma autorização do cacique e eu quero voltar para trabalhar, principalmente, na medicina preventiva. Sinto uma responsabilidade grande quando penso nisso. E quero voltar para incentivar mais pessoas de lá a procurarem qualificação para melhorar a nossa qualidade de vida.

3 – Quais suas principais dificuldades como aluno?

Além da questão financeira, tem a adaptação da rotina, que é intensa e o fato de não conhecer ninguém. Mas acredito que essas questões serão superadas aos poucos e que vou conseguir chegar ao meu objetivo, que é voltar como médico para minha aldeia.

Foto: O Xavante Wellington conseguiu um jaleco com ajuda de colegas

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Lara Schneider.

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