Esta publicação tem o objetivo de dar continuidade, ampliar e diversificar as discussões presentes no livro Povos Indígenas: projetos e desenvolvimento (Sousa, Cassio Noronha Inglez de; Souza Lima, Antonio Carlos de, Almeida, Fabio Vaz Ribeiro de e Wentzel, Sondra, orgs. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2007), dando uma continuidade a uma parceria entre o LACED/Museu Nacional-UFRJ, o PDPI – Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas/Ministério do Meio Ambiente e a GTZ – Agência da cooperação técnica alemã.
A iniciativa de promover estas discussões e divulgá-las através de publicações teve sua origem no processo de reflexão sobre a experiência prática de participação de antropólogos no PDPI, um programa de apoio a projetos indígenas voltados para o desenvolvimento sustentável na Amazônia brasileira. De uma forma geral os textos do livro, estão relacionados ou dialogam com as complexas relações entre o Estado Nacional e povos indígenas, em especial tendo em vista os direitos que lhes são assegurados e as políticas governamentais concretas sobre eles incidentes ou a eles destinadas.
Faça aqui o download (em PDF) de todos os textos que compõem esse livro:
1) Povos indígenas: Projetos e desenvolvimento II – Sumário
2) Povos indígenas e desenvolvimento: Questões às políticas indígenas e indigenistas no Brasil contemporâneo
Cássio Noronha Inglez de Sousa, Fábio Vaz Ribeiro de Almeida,
Antonio Carlos de Souza Lima & Maria Helena Ortolan Matos
3) Povos indígenas no Brasil contemporâneo: De tutelados a “organizados”?
Antonio Carlos de Souza Lima
4) Iniciativas comunitárias de promoção à saúde indígena: Reflexões sobre a proposta de protagonismo indígena para projetos de desenvolvimento na área da saúde
Cláudia Tereza Signori Franco
5) Do Diversidade ao Prolind: Reflexões sobre as políticas públicas do MEC para a formação superior e povos indígenas
Eduardo Vieira Barnes
6) Redes sociais e mobilidade espacial entre os Ye’kuana no Brasil
Elaine Moreira
7) O caminho da sustentabilidade entre os Ashaninka do rio Amônia – Alto Juruá (AC)
José Pimenta
8 ) El salon de las mujeres. Proyectos de desarollo en comunidades guaraníes del norte salteño argentino
Natalia Castelnuovo Biraben | Mauricio Boivin
9) Acercamiento etnográfico a los actores de la inclusión digital en la aldea Pataxó Coroa Vermelha
Elena Nava
10) A energia em Camicuã
Raquel Lima da Silva
11) O índio sabe, o índio faz: Os dilemas da participação indígena nas políticas públicas
Fabio Vaz Ribeiro de Almeida
12 ) Povos indígenas e o “mercado de projetos”: Desafios para o controle social de convênios e contratos
Luís Roberto de Paula
13) Perspectiva indígena sobre projetos, desenvolvimento e povos indígenas. Entrevista com Valéria Paye Pereira Kaxuyana e Euclides Pereira Macuxi
Cássio Noronha Inglez de Sousa
JURUNA FAZ PIPI
ONDE HOMEM BRANCO FAZ COCÔ
Vinha eu por estas bandas
das Chapadas Diamantinas
(mais precisamente por essas estradas
secas e empoeiradas por aí,
entre Mirangaba e Jacobina),
quando um camponês me falou:
– A mulé diche qui ouviu no raidhu
(por falta de tv!)
qui onthi morreu um indhu qui já foi deputado!
e, espantado, o camponês me indagou:
– É verdade qui um indhu já foi deputado, doutô?!
(pra essa gente simples, todo urbanizado é “doutô”).
De há muito não vejo tv, não leio jornal,
e há mais não ouço rádio! e a notícia me chocou!
E vem-me à mente uma profusão de imagens…
Juruna, o índio deputado,
nos últimos anos da ditadura militar,
gravadorzinho debaixo do braço:
– Gravar conversa… homem branco não ter palavra!
Sabem?!…
não vou nem procurar pela veracidade da notícia!
Juruna anda por aí: claro que ele não morreu!
Onde homem branco fez (faz) cocô ele faz pipi!
E eu prefiro crer que Juruna foi o grande responsável
pelo fim da ditadura militar no Brasil:
ele desmoralizou os milicos
com o seu gravador-penico.
E agora deve andar por aí com o seu gravador
fazendo pipi onde homem branco faz cocô,
pois índio não morre:
volta para a mãe natureza!
Llora mi raza vencida por otra civilización!
“Antes dos brancos chegarem aqui, cada nação indígena tinha um nome; cada povo falava a sua língua; cada povo vivia conforme seu costume; a terra não era de um só dono: a terra era de toda comunidade.”
Desabafo Txucarramãe.
“Posso ser adubo para minha terra, mas dela não saio.” Megarom
“Açúcar, presentes… essas coisas acabam. Terra não acaba. Lutar pela terra antes que os brancos nos tomem…” Cacique Raoni, Xingu, 1974.